LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Infidelidade legitimada

Linomar Bahia

Infidelidade e traição são sinônimos que definem o comportamento humano aético, particularmente na política. Textos sagrados já deixavam evidente essa sinonímia, nas referências ao comensal apostólico que trairia o Chefe, profetizando como o traidor purgaria a traição. Nos tempos de agora, no Brasil, ao contrário, infiéis e traidores da confiança popular são premiados com a legitimação da infidelidade/traição, com temporada para o ato indigno até 1º de abril, ironicamente a data consagrada à mentira. 

Quando me iniciei no jornalismo, nos anos 1950, a política paraense vivia tempos tumultuosos, ainda influenciados pelas disputas entre os “Lemistas”, partidários de Antônio Lemos, e “Lauristas”, liderados por Lauro Sodré, culminando com a intervenção de José Malcher da ditadura getulista no Estado e nas disputas entre Magalhães Barata e Zacarias de Assunção, eleito governador com o apoio da Coligação Democrática Paraense. Frequentavam locais distintos para evitar brigas e até os tiros, como ocorreu. 

Registros de então anotam quanto se preservavam as diferenças ideológicas e a fidelidade partidária, equivalendo a traição a uma espécie de “excomunhão”. Houve o incêndio do prédio do jornal “Lemista” “A Província do Pará”, onde hoje é o IEP; suposta traição do barbeiro oficial, enquanto barbeava Lauro Sodré, custou uma surra; e a morte de Osvaldo de Caldas Brito, no tiroteio em comício, na avenida Nazaré com a Quintino, então “Largo do Redondo”, depois “Largo da Redenção”, nome da campanha vitoriosa. 

A exemplo da jabuticaba, os partidos brasileiros contrariam todas as formas originais sobre como deveriam ser. Nas democracias solidificadas, têm havido apenas adaptações dos fundamentos greco-romanos, de um grupo de seguidores de uma ideia, doutrina ou pessoa. Ocorreu na Inglaterra do século XVIII, a primeira instituição, expandindo pelo mundo, sobretudo, depois da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos, assimilando a evolução da comunidade política. 

Brasileiros deste século lembram como se diferenciavam o getulismo, dos partidos Social Democrático e Trabalhista Brasileiro da época, e os opositores, filiados à União Democrática Nacional, Partido Social Progressista e legendas periféricas. O advento do governo militar, em 1964, terá sido o último período com dois grupos políticos distintos, abrigando os governistas, primeiro na Arena, depois no PDS, e os oposicionistas, no MDB, depois no PMDB, muitos por conveniências e pelos governistas de sempre. 

Com a chamada “redemocratização” em 1985, começou a proliferação dos mais de 30 partidos no país, sem nenhuma identidade ideológica nem programática. Mudam de denominações e associam interesses, alguns como legendas de aluguel. Propiciam alianças dos contrários, que a legalização da infidelidade partidária consagra, confirmando que, em política, não existem amigos eternos, nem inimigos definitivos, eternizando, apenas, os interesses particulares, à margem do interesse nacional.

 

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