Ganhos e perdas

Todos comentam, por todos os meios, a beligerância que tem marcado o processo eleitoral em curso, em níveis de intolerância e agressividade condenáveis por quaisquer formas de avaliação. Ocorrências que envolvem até assassinatos, invasão a vidas privadas e ataques à dignidade funcional estão fazendo desta campanha o pior exemplo daquilo que poderia ser classificado como democracia, mas tem distanciado anos-luz do quanto se relaciona aos direitos individuais e coletivos, preconizados nos fundamentos delimitados pelos filósofos e estatutos históricos sobre as relações humanas e institucionais.

Pode ser considerado o destaque negativo entre os ganhos e perdas que os balanços de cada segmento político-partidário possa ter registrado, objeto para celebrações, quanto aos ganhos, e correções, quanto as perdas, olhando para o pleito municipal daqui a dois anos. Haverá, como sempre, muito freio de arrumação, revalidando, novamente, a frase filosófica atribuída a Getúlio Vargas de que, em política, não existem amizades definitivas nem inimigos irreconciliáveis, flagrantes nesta eleição, como em tantas anteriores e se repetirá nas próximas, coroando as circunstâncias e conveniências dos momentos.

Como ocorre entre o azeite e o vinagre, que podem ir ao mesmo frasco, mas jamais se misturarão, entre alegrias pela conquista de mandatos e as decepções dos que se consideraram relegados, despontam a gratidão aos apoios recebidos, embora passíveis do mau político a efemeridade, e os propósitos de vingança pelos que se julgaram preteridos por apoiadores. Mesmo os aquinhoados, sempre serão estimulados à independência, procurando se consolidar e aos seus próximos, enquanto os outros, sequiosos pela desforra, formarão novos grupos já para a eleição municipal no vindouro 2024.

Sempre se repetem situações em que a busca do poder separa velhos amigos e une inimigos figadais, como se viu no primeiro turno, desvirtuando os princípios ideológicos e partidários que configuram a tão recitada quanto desfigurada democracia. Em nosso estado, onde os antecedentes políticos e eleitorais registram muitos episódios de desagregação e de união conveniente de contrários, a eleição para a única vaga de senador deixou descontentes três dos quatro candidatos que se diziam apoiados pela mesma liderança. São poços de mágoas, que podem ser convertidas em fontes de vingança.

Há, nesse caso, a coincidência de ser Ananindeua a origem política e base eleitoral dos principais personagens, também já envolvidos em outras convergências e divergências, desde que o desmembramento de Marituba em 1994 abriu nova alternativa para a contemplação de interesses em torno de cerca de meio milhão de votos. O bastante para descontentes projetarem novo amanhã, desafiando habilidades políticas a evitar lamento semelhante ao do general romano Pirro, quando obteve uma vitória com mais perdas do que ganhos.