Façam suas apostas

Essa expressão, típica dos ambientes onde se praticam os chamados jogos de azar, poderá voltar a ser ouvida na forma da Lei, ou continuar soando na ilegalidade das roletas que rodam em todo o país. Há uma quase centenária disputa entre contrários e favoráveis, em que se misturam ideologias, credos religiosos e interesses inconfessáveis. Enquanto se antepõem argumentos sociais e justificativas econômicas, há movimentações interpretados como preparatórios para o funcionamento de cassinos e suas ramificações, como geradores de empregos e formas de renda. Empresários do ramo e jogadores estão na expectativa "shakespeareana" entre o ser e o não ser da legalidade pretendida e a clandestinidade existente no país.

Essas, aliás, são as principais justificativas dos defensores da legalização, contrapondo as alegações contrárias de que a jogatina constitui fator desagregador das famílias, propicia a lavagem de dinheiro e fomenta a criminalidade, fundamentando a hipocrisia de que, não obstante, práticas que sempre existiram nestes tempos de proibição. Também alimenta a defesa a notória exploração clandestina de jogos de azar em numerosos apartamentos e sítios brasileiros, além das viagens dos jogadores para os inúmeros países, onde as atividades são permitidas, levando para outras economias as divisas que fazem falta aos brasileiros e as oportunidades de trabalho nos salões de jogos, cozinhas e os inúmeros serviços que os cassinos movimentam. 

Contrários e favoráveis à legalização dos jogos sustentam essa contenda há 76 anos, desde que o presidente de então, Gaspar Dutra os proibiu em 1946, segundo fofocas pressionado pelo fervor católico da primeira-dama Carmela, sob o argumento principal de degradar o ser humano. Foram fechados 71 cassinos, produzindo o desemprego de 60 mil trabalhadores, desestabilizando a economia das cidades onde os jogos funcionavam e registrou a maior reclamatória trabalhista da época, ajuizada pelos desempregados de um cassino no Paraná. Registros daqueles dias informam que os jogos propiciavam recursos para a saúde, infraestrutura e segurança, inexistentes com o bicho de cada esquina há 150 anos e nos carteados residenciais. 

Defensores da legalização invocam que os "bons costumes" daquelas justificativas perderam o sentido, quando a corrupção, lavagem de dinheiro e outras práticas criminosas ocorrem em qualquer atividade econômica. Apostadores brasileiros continuam apostando livremente em navios de cruzeiros em águas internacionais, em jogos de futebol e nas plataformas online, sediadas nos 108 países que integram a Organização Mundial de Turismo, dos quais apenas em Cuba e no Brasil existe a proibição. Enquanto isso, 15 das modalidades de jogos são explorados oficialmente pela Caixa, deixando de gerar algo estimado em 17 bilhões de reais em tributos. Então, ser, ou não ser, legais ou clandestinos os jogos no país, eis a questão. 

Façam suas apostas.