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GUSTAVO FREITAS

GUSTAVO FREITAS

Internacionalista e comentarista de política internacional em O Liberal. Com experiência recente nas eleições argentinas, Estados Unidos e Oriente Médio, usaremos este espaço para falar sobre tudo que acontece pelo mundo.

Há solução para a guerra no Líbano?

Gustavo Freitas

A guerra na Faixa de Gaza, iniciada no fim do ano passado, oficialmente se estendeu para o Líbano. Em poucos dias de intensos ataques, já foram mais de 1500 civis mortos por bombardeios israelenses. 

Do outro lado, o Hezbollah tem feito intensos ataques ao norte de Israel nas últimas horas, mas os resultados são bem distantes do adversário. Além disso, o governo israelense omite muitas informações sobre o que está, de fato, acontecendo naquela região do país.

Há solução para o conflito entre o Hezbollah e Israel? Se analisarmos sob uma ótica fantasiosa em que o melhor dos dois mundos aceitem recuos, veríamos o Hezbollah aceitando afastamento da fronteira e o recuo da sua potência no país, que hoje exerce um papel mais forte que o estado libanês em muitos casos. Além disso, Israel teria que aceitar respeitar a soberania libanesa para solucionar eventuais atritos no futuro.

Esta realidade, claro, nada mais é que uma fantasia. O Hezbollah jamais aceitaria, enquanto estiver sob plenas condições militares, a ideia de reduzir seu alcance e seu poder de força. O grupo tem status de maior força paramilitar do planeta, recebe financiamento e acata ordens vindas do Irã, seu principal aliado e responsável pela sua prosperidade desde o seu nascimento em 1982.

Israel, ao menos agora, também não se comprometeria em respeitar a soberania libanesa enquanto se sentisse ameaçado. Este governo israelense não parece ter termômetro para o alcance de suas decisões militares, e não interessa muito se as ações infringem espaço aéreo e soberania vizinha. Assim caminha o governo Netanyahu, cada vez mais isolado na região e indigesto para certos aliados no ocidente.

Israel e Hezbollah já se enfrentaram diretamente duas vezes na história. Na década de 80 a 90, o Líbano vivia sua pior guerra civil e os tanques e soldados israelenses foram obrigados a se retirar muitos anos depois, o que levou o Hezbollah a cantar vitória naquela época.

Em 2006, na segunda guerra do Líbano, os dois lados travaram uma guerra de pouco mais de 30 dias, mas encerraram o conflito sem um vencedor real. O Hezbollah costuma difundir a ideia de que nunca perdeu pro Estado de Israel.

Portanto, é um confronto muito mais difícil. Interlocutores como EUA, França e outros países tentam persuadir  todos os lados para evitar uma escalada iminente na guerra dentro do território libanês porque sabem o potencial de catástrofe que pode gerar.

Dentro do Líbano, há um sentimento muito claro entre a maioria da população de que o Hezbollah é danoso ao país porque mais atrapalha que ajuda, mas há também uma irritação enorme com as frequentes ameaças vindas de Israel. Mais uma vez, por ser um estado fraco, o Líbano como nação não tem poder para decidir sobre o futuro, deixando os libaneses sob um fogo cruzado sem voz para opinar.

Há solução real para o conflito, mas está muito longe da realidade. O que pode acontecer é a viabilização de um cessar-fogo no sul do Líbano, uma medida temporária para evitar a propagação do caos, como aconteceu em 2006…mas as partes estão cada vez mais intransigentes. 

No Líbano, é um dia de cada vez, é assim que o país e os libaneses sempre se habituaram a viver. Amanhã pode ser melhor do que hoje, e é isso que a grande maioria quer.

*Gustavo Freitas é articulista do jornal O Liberal

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