Muitos outubros tu verás Mayara Domont 16.10.25 8h00 Vem ver Belém o que os círios já foram para nós. Termina setembro e a cidade se prepara para viver o seu melhor: outubro. Desde o século XVIII muita coisa mudou. Nazinha já foi carregada em andor de madeira por soldados e fiéis. Nada de pavimentação, apenas lama. Chegando ao século XX, as procissões aumentaram e uma berlinda surge em um caminho bem maior, levada por animais. De longe se via uma rainha em sua carruagem sagrada. De repente ela adentra rios e atravessa a cidade ladeada por diversos barcos. Lembro de como o Círio foi ganhando destaque ao redor do mundo. O que mais me deixa extasiada hoje é como a percepção do tempo e espaço é importante quando pensamos no que o Círio representa para nós. A cidade para tudo para viver um momento novo. Novos ares. Espaços tomam formas de festa. Praças viram feirinhas. Rios viram caminhada. Ruas dão lugar a passos. Antigamente, quando a tecnologia ainda não tinha chegado ao Círio, saber que horas a Santa ia chegar era um sufoco. Cálculos mirabolantes, empirismos, ou até mesmo sua avó que escutava os fogos e dizia: - “Ela está nos estivadores”. Tudo para saber quando chegaria a família para comer a deliciosa maniçoba. Quem saia do Gentil para acompanhar a Trasladação não tinha tanta ideia da hora que chegaria na Sé. Imaginem sair sem celular de casa, e muito menos a hora que se iria voltar. Quem ia da Sé para Basílica só tinha uma certeza: horas e horas se passariam para que se chegasse ao objetivo final. E olha que já tivemos círios com mais de nove horas de duração. Só restava esquentar novamente o prato daquele pato no tucupi (se sobrasse). Hoje a tecnologia nos facilita tanto nas previsões. Da televisão onde acompanhamos em tempo real, dos principais pontos da cidade (gratidão aos nossos repórteres que são ninjas em deslocamento), ao rádio que transmite as procissões. Mas somente nos anos 2000 conquistamos uma nova modalidade: aplicativos de geolocalização. O paraense ficou tão feliz de saber onde está sua Nazinha. Basta baixar o app e ela está lá caminhando, mostrando as ruas, perímetros e velocidade que se desloca. Tudo em tempo real! Lá, você traça sua rota, avalia melhor percurso e fica sabendo que horas pode servir o almoço do Círio para receber os familiares. A tecnologia, o digital, vêm para facilitar também as coisas para aqueles que não podem acompanhar as procissões. Drones, câmeras em tempo real… adeus ao Círio que a gente só tinha previsões para começar e nunca para terminar. De repente, você está no Manoel Pinto da Silva e já sabe até que a corda foi desatrelada. Incrível! A geração mais jovem nem de longe sabe o que é o Círio sem usar apps de mobilidade. Que dirá pensar em uma romaria onde não sabe o que vai acontecer. Aquela que já foi levada por bois, possui hoje um grupo gigante de guardas para lhe servir, um exército para lhe proteger, uma legião de estações para lhe conduzir, um enorme mar de gente para garantir que sua festa seja a mais linda! Apesar da realeza em sua carruagem estar sempre rodeada por toda tecnologia, segurança e transmissões, ela ainda é a pequena mulher, a rainha da Amazônia, que opera milagres pela TV, pela tela do celular, por satélites e, principalmente, pela fé em nossos corações. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas descomplica COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Descomplica . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!