As contradições da Cop 30 na Amazônia Denis Farias 17.11.25 9h57 A primeira semana da COP 30, realizada em Belém do Pará, escancarou ao mundo contradições dolorosas: enquanto líderes globais discutem na Amazônia o futuro do planeta, a floresta ao redor da conferência sangra sob o peso de obras que simbolizam exatamente, o oposto do discurso ambientalista que o Brasil tenta sustentar. O episódio da chamada “Estrada dos Ambientalistas”, a Avenida da Liberdade, tornou-se o símbolo máximo desse paradoxo. Apresentada como obra de modernização urbana e promessa de mobilidade antes da COP, consumiu mais de R$ 150 milhões, alterou vegetação nativa, atravessou áreas sensíveis e impactou comunidades tradicionais. Seu traçado corta zonas de mananciais e áreas próximas ao Parque Estadual do Utinga e ao quilombo Abacatal. Em meio a esse cenário, Donald Trump acusou o governo brasileiro de “devastar a Amazônia para construir uma rodovia de quatro faixas para ambientalistas circularem”. A ironia ganhou força porque esbarrou em fatos concretos. Belém viu repetirem-se cenas semelhantes, na duplicação da Rua da Marinha. Com supressão de cerca de 34 hectares de vegetação, parte deles dentro do Parque Gunnar Vingren. O projeto foi alvo de uma ação civil pública e sofreu paralisação judicial, porém avançou após o governo estadual derrubar a liminar. Em plena semana da conferência, ambientalistas e moradores se perguntavam como iniciativas desse porte, podem coexistir com o discurso de proteção climática que o Brasil tenta projetar. A COP 30 também expôs o alijamento de quem deveria ser protagonista: os indígenas. Os Munduruku bloquearam o acesso principal à conferência, denunciando hidrovias, projetos de créditos de carbono e a exclusão de suas vozes nas decisões que moldam seu próprio território. O protesto, entretanto, era mais que um problema logístico: era sintoma da distância entre o palco diplomático e a realidade amazônica. Enquanto isso, persistem impasses entre países ricos e pobres, cobranças de financiamento climático não cumprido e um clima diplomático tenso que paralisou as principais pautas da semana. No fim da primeira semana, a COP 30 deixou claro que não basta sediar o maior evento climático do planeta: é preciso coerência entre discurso e prática. As estradas abertas sobre a floresta para “facilitar a vida dos ambientalistas” e os indígenas barrados ou obrigados a protestar para serem ouvidos, revelam uma contradição que mina a credibilidade brasileira. A Amazônia não pode ser cenário. Não pode ser marketing. Não pode ser palco de obras que ferem o que se diz defender. Enquanto árvores tombam para abrir passagem a chefes de Estado e povos originários são silenciados às portas da conferência, a COP 30 corre o risco de se tornar um monumento às próprias contradições que tenta combater. A primeira semana termina, assim, com uma pergunta que ecoa na floresta: que valor têm as palavras quando as ações andam na direção contrária? Denis Farias é advogado, professor e consultor jurídico. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas denis farias COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Denis Farias . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!