Círio de Nazaré 2025: veja como preparar a tradicional maniçoba que ferve por 7 dias
Presença obrigatória no almoço da grande festa religiosa, a receita carrega não apenas um sabor único, mas também um significado de união familiar e devoção
Um símbolo gastronômico do Círio de Nazaré, a maniçoba se destaca como um dos pratos mais aguardados e celebrados pelos paraenses. Presença obrigatória no almoço da grande festa religiosa, a receita carrega não apenas um sabor único, mas também um significado de união familiar e devoção que atravessa gerações. Preparada com folhas de mandioca, a tradicional maniva, a maniçoba precisa ferver por sete dias antes de ser servida, tempo essencial para eliminar substâncias tóxicas.
A longa preparação transforma o prato em um verdadeiro ritual. Muitas famílias guardam potes de margarina ou pequenas vasilhas para visitar parentes e amigos, provando diferentes versões da iguaria. É uma experiência que vai além do paladar: representa afeto, partilha e a celebração da identidade paraense. Na composição, a maniçoba lembra a feijoada, já que leva linguiça, chouriço e diversos cortes de carne de porco, resultando em um sabor intenso que anuncia a chegada do Círio.
Com a proximidade da festividade da padroeira dos paraenses, a Redação Integrada de O Liberal acompanhou a rotina de quem vive e respira essa tradição. Maria de Fátima Silva de Araújo, conhecida por todos como Fafá, é um exemplo de dedicação. Aos 73 anos, ela soma quatro décadas de experiência na venda da maniçoba, sendo 28 delas no mesmo ponto da rua 13 de Maio, no centro comercial de Belém.
Fafá descreve o processo de produção que domina com maestria. Tudo começa pelo Ver-o-Peso, mercado que é símbolo da capital paraense e referência em ingredientes frescos. “Eu vou no Ver-o-Peso comprar a folha. E também o jambu. Para a maniçoba, compro a maniva já pré-cozida por três dias. Em casa, ponho para ferver, completando os sete dias”, contou.
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Depois desse período, entra em cena a combinação de carnes que dão corpo ao prato. “Vem coisa boa: charque, chouriço, toicinho, bacon e um pouquinho de bucho, porque nem todo mundo gosta de bucho”, explicou. Para dona Fafá, a organização é fundamental: “O passo a passo é cortar tudo na véspera, escaldar direitinho. Quando chega o dia, é só preparar. A maniçoba precisa desses sete dias, senão pode causar infecção intestinal, fica com muito caldo debaixo do arroz e não fica com a ‘liga’ que tem a maniçoba”, explicou.
"A melhor parte do Círio é a maniçoba”, diz dona Fafá
Durante o Círio, quando esse prato é muito consumido, a produção se intensifica bastante. “Não muda nada no modo de fazer, porque faço sempre com tanto amor. O que muda é só a quantidade”, afirmou. No dia a dia, dona Fafá produz em média 180 quilos. Mas, no período da festa, chega a triplicar ou até quadruplicar a produção. “Graças a Deus, consomem tudo”, disse, orgulhosa de ver sua maniçoba presente nas mesas de tantas famílias.
Com 40 anos de experiência, Dona Fafá garante que o segredo do sucesso está na qualidade dos ingredientes e no carinho com que trabalha. “É colocar coisa boa. Tudo fresquinho, com muito cuidado e carinho. Esse é o diferencial da minha maniçoba”, disse. À medida que o Círio se aproxima, o aroma da folha fervendo invade Belém e anuncia a chegada da festa. “Quase todas as casas têm esse cheiro da folha fervendo. Você passa e sente. Não tem como falar em Círio sem falar em maniçoba. A melhor parte do Círio é a maniçoba”, afirmou dona Fafá, destacando a ligação entre a iguaria e a celebração religiosa.
Ela chega ao ponto de venda por volta de 9h30 e encerra as atividades às 17 horas. O preparo, no entanto, ocorre em sua casa, onde conta com a ajuda da nora e de outros colaboradores. “Ela é responsável por tudo antes de eu chegar. Sempre oriento a tratar bem os clientes. Se entrega um prato de maniçoba, ou vatapá, você pergunta logo se quer algo para beber: a oferecer uma bebida, água, refrigerante, suco, sempre com um sorriso lindo no rosto. Isso faz toda a diferença”, ensinou. Apaixonada pela maniçoba, dona Fafá confessa que o prato não sai de sua mesa. “Consumo todo dia, não falta mesmo. É o aroma do Círio de todos os dias. No final do ano, continua sendo o carro forte da minha vida”, afirmou, demonstrando que a relação com a iguaria vai muito além da época festiva.
Origem da maniçoba
O prato é de origem indígena, com influência africana e portuguesa. Nele, as folhas da mandioca (Manihot esculenta) são moídas e cozidas, dando origem à maniva, que resulta da moagem da folha.
Por que se cozinha a mandioca por 7 dias?
A mandioca brava é extremamente tóxica para o consumo se mal cozida. Antes de ser servida, precisa ser cozida por sete dias para retirar totalmente o PH ácido e o tanino presentes na folha. Por conta disso a preparação da maniçoba é um processo tão demorado, já que as folhas contidas nela são lavadas, fervidas e trituradas diversas vezes, até que estejam próprias para o consumo.
Como fazer maniçoba?
Ingredientes:
• Maniva crua ou cozida;
• Toucinho;
• Charque;
• Linguiça calabresa;
• Paio;
• Bacon;
• Chouriço;
• Bucho;
• Costela de porco defumada;
• Pé de boi;
• Folhas de louro;
• Sal a gosto;
• Alho;
• Cominho;
• Pimenta.
Pegue uma panela grande e coloque a maniva, adicionando um pouco de água, sem deixar que a mistura fique muito fina. Adicione folhas de louro e deixe cozinhar por três dias. Aos poucos, coloque o toucinho refogado com alho e pimenta do reino e deixe ferver novamente por algumas horas. Adicione bacon, toucinho, chouriço, linguiça calabresa e o restante dos ingredientes e deixe ferver por mais três dias, mexendo cerca de três a quatro vezes durante o dia, antes de servir.
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