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Círio 2022: brinquedos de miriti fazem parte da história da festividade; vídeo

Há relatos de que esse artesanato já estava presente na primeira procissão, em 1793

Dilson Pimentel

Relatos históricos indicam que, já na realização do primeiro Círio de Nazaré, no século 18, os brinquedos de miriti estavam presentes nessa que se tornou uma das maiores manifestações de fé católica do mundo. Ou seja: desde a primeira procissão do Círio de Nazaré em 1793, o artesanato de miriti é um dos elementos da festividade em homenagem à padroeira dos paraenses.

E a confecção desse tipo de artesanato transformou Abaetetuba, no nordeste paraense, na capital mundial do miriti. Rivaildo Peixoto, o “Mestre Riva”, conta que a família dele já está na quarta geração de pessoas que fazem brinquedos de miriti. “No primeiro Círio que ocorreu já havia relatos de uma feira de utensílios regionais de Miriti. Não se sabe ao certo aqui em Abaetetuba quem começou, quem protagonizou. A gente só sabe que existe há algumas gerações”, contou. “É o quarto elemento mais importante do Círio, ficando atrás somente atrás da corda, da procissão e da (festa da) Chiquita”, afirmou.

Mestre Riva é filho de Raimundo da Silva Peixoto, que tem 73 anos e trabalha com miriti há 50. Raimundo é conhecido como “Mestre Diabinho”, um apelido que vem da época em que jogava bola, por causa da cor vermelha do cabelo. A família da esposa dele, Rosineide Moraes Peixoto, já trabalhava com miriti. “Minha mulher trabalhava, os pais dela, os tios, irmã. Todo mundo trabalhava”, contou. No começo, disse, a produção era só para o Círio. Mas, atualmente, ocorre o ano todo.

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“Abandonei tudo por causa do miriti”, diz artesão de 73 anos de idade

“Eu sou panificador. Já tive panificadora. Eu larguei tudo por causa dele (miriti). Ainda mais com 73 anos. É uma terapia. É um lazer. É tudo pra mim. Na verdade, é um casamento. Produz arte e gera renda”, disse. A especialidade de Mestre Diabinho é fazer o jacaré, uma peça articulada que se mexem. “Um jacaré desses dá trabalho. Eu tiro para fazer 10 jacarés. São 10 dias para terminar. Um por dia. Ele é cheio de detalhes. Vou cortar ele e, depois de cortado, coloco tecido aqui dentro, para ele poder articular”, contou.

Esse jacaré, que tem aproximadamente 50 cm, custa R$ 20. Mestre Diabinho se emociona na hora de fazer os brinquedos de miriti: “Todas as peças que a gente pega pra fazer vai criando carinho nela durante a trajetória. É igual filho. Não tem um melhor. Cada peça é um filho que a gente coloca no mundo”.

image Rivaildo Peixoto, o “Mestre Riva”, com a palmeira do miriti: "Larguei tudo. Essa arte falou mais alto. E é com essa profissão que vou para o caixão. O miriti é tudo pra gente" (Igor Mota/O Liberal)

“Vou para o caixão com essa profissão”, afirma Mestre Riva

Desde os seis anos de idade o pai levava o filho, Rivaildo Peixoto, o Mestre Riva, para Belém. “Estou com 47 anos de idade. Então já se vão 41 anos no miriti”, disse. “Trabalhei 32 anos na panificação e dois anos e meio como professor de Geografia. Larguei tudo. Essa arte falou mais alto. E é com essa profissão que vou para o caixão. O miriti é tudo pra gente”, disse.

Assim como a impressão digital classifica uma pessoa, os traços e cortes de uma peça também identificam o artesão. O pai dele, por exemplo, se sobressaiu nos brinquedos estilizados, com movimentos. “Antes, o jacaré era uma peça fixa e não tinha movimento. E isso foi o ‘pulo do gato’ pra ele”, contou.

No caso de Riva, são as canoas, que foi a primeira peça que eu aprendi a fazer. “Vivo dela. Faço um pouquinho de cada, mas ela é o meu xodó. Uma canoa assim em natura, só no miriti, uma canoa normal, de 25, 30 centímetros, leva uma média de uma hora.  Atualmente, há cinco entidades formalizadas de artesãos de miriti em Abaetetuba. A mais antiga é o Instituto Multicultural Miritis da Amazônia (IMMA), que ele preside.

 A extração dessa matéria-prima é feita em uma lua específica

No total, há quase dois mil artesãos de ofício em Abaetetuba. “São os artesãos que literalmente cortam. Que literalmente trabalho com a faca, que esculpem, que criam”, disse. Mas eles são subdivididos em categorias. Há os pintores, essenciais no processo de produção da peça.

Há os que fazem o acabamento, a lixação e a selagem do material. Há, também, os muitos artesãos autônomos, que começaram tudo na Praça do Carmo, em Belém, e são conhecidos como “girandeiros”, profissionais que carregam as girândolas com os brinquedos.

Ainda nessa cadeia de produção, há os extrativistas, que fazem, nas ilhas, o manejo da matéria-prima, que é o miriti. “São os ribeirinhos. A extração dessa matéria-prima é feita em uma lua específica, que é a quarta crescente, uma lua escura”, disse.  

 

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