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'Não precisa ser guerreira o tempo todo': leia a coluna de Patrícia Caetano

Muitas vezes na vida, nós somos obrigados a ser fortes, por nós ou por aqueles que amamos, mas tudo tem o outro lado.

Patrícia Caetano/Especial para O Liberal

O termo “guerreira” é frequentemente usado para elogiar pessoas que se desdobram entre diferentes rotinas, sempre dão conta de tudo e não se deixam “abater” por nada. Ser chamada de guerreira, batalhadora e forte pode ser, sim, um elogio. Mas tem um outro lado. Quando se presume que uma pessoa vai dar conta de todos os percalços que aparecerem em sua vida, supõe de que ela não pode se abater e nem pedir ajuda.

Pessoas batalhadoras são conhecidas por serem fortes, persistentes, que lutam pelo que querem. Uma pessoa batalhadora não desiste fácil, sempre procurar voltar para a sua luta diária, seja lá qual for seu objetivo, até que consiga ter sucesso. Muitas vezes na vida, nós somos obrigados a ser fortes, por nós ou por aqueles que amamos. Passamos por situações que nos fazem amadurecer muito cedo e nos tornar responsáveis por coisas as quais não entendemos bem, e enfrentamos muitas dificuldades até alcançar a maturidade necessária para viver com harmonia.

É possível que você também tenha sido educada sob uma ideia de que as lágrimas devem ser “engolidas”. De que a vida é dura e que chorar não serve para nada. Esta ideia, a longo prazo, pode nos causar problemas muito sérios a nível emocional. Vários são os motivos pelos quais as pessoas ficam quietas em situações que as machucam. Às vezes, isso acontece devido a pensamentos, como: “É melhor não piorar as coisas”, “Se eu falar vai dar briga”, “Não adianta falar, não vai mudar nada”, “Não quero magoar o outro”, “Ele/ela não vai entender”, etc. E assim a vida segue, você aguenta o tranco, sofre em silêncio e, em breve, acontecerá outra situação que irá te magoar e aí você já sabe o que fazer: liga o piloto automático do “aguenta quieto”.

Permitir-se descansar e levar uma vida leve não são sinônimos de fraqueza, mas de amor-próprio e auto respeito. Ninguém nasceu para ser forte o tempo todo ou para estar em constante guerra com o mundo e outras pessoas. É natural achar difícil se expressar. Não é fácil falar quando algo nos machuca. Muitas vezes pensamos que é melhor deixar pra lá. De fato, ser tolerante é uma qualidade. Contudo, precisamos estar atentos para não confundir suportar tudo com descaso com nossos próprios sentimentos. Você não precisa provar sua força para outras pessoas, porque, no final do dia, ter paz interior é muito mais importante do que agradar a terceiros, porque você será a própria companhia para sempre, e precisa conviver de forma saudável consigo mesmo.

Na minha vida pessoal, por ser nordestina considerada a “mulher macho”, fui instruída a dar conta de tudo sempre, de ser auto suficiente, e não se abater por nada. Até que algumas “batalhas” da vida fizeram minha forçar acabar e tive que pedir ajuda. E isso me fez declarar que estava cansada de ser guerreira. Sim, sou forte. Fui criada por uma mulher forte, batalhadora, guerreira. Herdei a coragem e a dureza de seguir sozinha, de seguir em frente, de ser independente. Mas tem dias que eu só quero ser mulher. Na conotação mais machista possível. Quero ser delicada, quero ser indefesa. Quero ter quem me segure, quem me apoie, quem me guie. Tem dias que eu não quero isso de independência. Quero ajuda. Quero precisar. Quero simplesmente ser isso que chamam de sexo frágil.

Mas temos que entender que fragilidade também é uma forma de força, é poder sentir, chorar, cair, pedir ajuda e admitir suas dores, sem anular a nossa capacidade de amar por disso, já que uma mulher com a energia predominante masculina sabe doar o amor, mas raro as que sabem e permite ser amada e cuidada.

Uma pessoa pode sim ser mais guerreira, ambiciosa, gostar de trabalhar, ser menos romântica e ainda assim ter a força bastante evidente nela. Porque ela reconhece o seu sentir e a sua fragilidade. Pedir ajuda é um trampolim para aceitar também que merece repousar. Às vezes nos cansamos, chegamos ao limite de nossas forças e, simplesmente, nos deixamos levar. Chorar não é desistir, nem é um sinal de fraqueza. Encarar que estar em estado de repouso faz parte da sua jornada, as pausas são necessárias para ajustar as velas, redefinir a nossa direção, selecionar novas batalhas e escolher novas armas!

Somos todos humanos, feitos de carne, osso e coração. E todo mundo sangra! Faço um forte apelo aos leitores deste artigo que humanizem a relação com as mulheres fortes amam ou interagem diariamente. Aquela mulher forte, guerreira, ou aquela amiga que está sempre ajudando os outros, aquela que toma a frente e que parece ter a resposta para tudo? Que tal perguntar se ela está bem ou se precisa de alguma coisa? Quando encontrar uma mulher forte, ofereça a ela um chá, uma cadeira, um repouso e um afeto. Ela provavelmente viveu grandes batalhas para estar hoje onde está: irradiando luz, com faíscas nos olhos e fogo nas veias inspirando outras mulheres.

As pessoas protagonistas das suas vidas sabem que a vida tem amor e tem dor. A vida também é dura e gera caos. Não é de tudo as faltas, mas as vezes os excessos. O desafio é o equilíbrio desse balançar em cada pessoa que vive a sua história, a sua verdade e a sua realidade!

Ser forte implica, primeiramente, estar bem consigo mesma. Cultive o seu crescimento pessoal, aproveite os seus momentos, os seus interesses. Ser forte é saber amar a si mesmo. E não, isso não é um sinal de egoísmo. Ser forte requer também liberar pesos que dificultam o nosso avanço, que afetam o nosso bem-estar e nos causam sofrimento. Ser forte significa se permitir “ser fraco” de vez em quando.

Você tem direito de dizer que “não consegue lidar com isso ou aquilo”, que está além da sua capacidade, que não vai assumir mais responsabilidades do que as que já tem. Você tem direito de dizer que “não consegue mais” e que precisa de um descanso. Você tem direito de pedir respeito, demandar carinho, afeto e reconhecimento. Quem precisa de você deve compreender que você também precisa deles.

E você tem todo o direito a seus instantes de alívio pessoal, de buscar um instante de intimidade para passear e pensar em si mesma, para chorar, para escutar seus pensamentos e atender as suas emoções, para tomar decisões e avançar.

Se permita ser forte quando necessário, ser Guerreira quando for para ser e frágil quando se sentir necessário, e isso não te faz ser menor que ninguém.

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