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Identidade do belenense passa pelo universo esportivo vivenciado nas comunidades

Belém tem diversos projetos sociais esportivos, que movimentam jovens da periferia dispostos a correrem atrás dos seus sonhos

Natalia Mello e Luiz Guilherme Ramos
fonte

As ferramentas de inclusão social que servem de alavanca nas comunidades periféricas das grandes cidades são um instrumento poderoso na formação do indivíduo. Uma das principais nesse processo é o esporte, que movimenta grande parcela da população sem acesso digno e acelera o descobrimento de talentos. Na capital paraense, o segmento iniciado através do poder público hoje se prolifera com a ajuda de projetos sociais encabeçados por pessoas que, lá atrás, não tiveram o mesmo auxílio e hoje encurtam a distância entre o sonho e a realidade de ser um atleta. 

 

Pelas próprias características urbanas da capital paraense, cercada de áreas periféricas, é possível ver a olho nu o desnível na prática esportiva, ainda que muita gente lute contra esse cenário desfavorável. Lutando contra as adversidades, atletas e personalidades de várias modalidades esportivas caminham com a ajuda de terceiros para construir um futuro mais humano para quem deseja subir ao pódio ou erguer um troféu. 

Projeto atende cerca de 40 jovens no bairro da Cremação

As crianças e os adolescentes que participam do projeto Lutando pelos Sonhos também veem na iniciativa uma oportunidade de mudar de vida. O grupo, coordenado por Juraci dos Santos Oliveira, mais conhecido como “Jura”, da academia Rocky Balboa, reúne todos os dias para treinar boxe no bairro da Cremação, em frente ao canal da rua Três de Maio.

image Projeto Lutando pelos Sonhos.  (Sidney Oliveira / O Liberal)

Com 22 anos de atividade, o projeto social oferece treinamento gratuito para pessoas de 9 a 16 anos. Além de boxe, há também um treino funcional para aumentar a força dos atletas, mas, para participar, o aluno precisa estar na escola e tirar notas boas, além de ter disciplina e obedecer às regras da academia e em casa.

Jura, que já foi atleta de boxe, conta que, desde cedo, tinha muita vontade de ter a própria academia assim que parasse de lutar profissionalmente, para ajudar pessoas em bairros que estão em situação de vulnerabilidade social. Ele conta que o projeto já tirou muita gente da área de risco na Cremação. “Vários garotos já foram campeões, já competiram e continuam aqui com a gente”.

Embora o treinamento dos alunos seja gratuito, Juraci e os outros técnicos não têm ajuda financeira. O coordenador é um dos técnicos de um lutador profissional e tira dinheiro do próprio bolso para investir na escola. O dinheiro recebido profissionalmente é investido na academia, mostrando que é possível vencer na vida com poucos recursos.

image "Jura" e a garotada do boxe. (Sidney Oliveira / O Liberal)

“Tem que colocar Deus na frente. Não existe nada difícil, se colocar um objetivo na vida, treinar, se dedicar e levar a sério, logo logo vai ser um campeão. Nosso projeto é para formar campeões”.

Para participar das aulas basta estar estudando e comparecer ao projeto na companhia de um responsável para fazer a inscrição. "Nos projetos eu tenho a finalidade de tirar jovens e adolescentes e pessoas que são sedentárias, senhoras sedentárias que não têm condições de pagar uma academia. E a gente está lá de braços abertos pra ajudar essa galera carente e sem condições de pagar uma academia. Tínhamos cerca de 120 alunos. Aí como teve aquela situação da pandemia nós caímos e ficamos mais ou menos entre quarenta jovens. Nosso projeto é voltado para essa galera de 9 a 16 anos, mas a gente agrega, atende cada um no seu horário de treinamento, tirando essa galera da marginalização, né?", explica. 

O futebol que fabrica craques nos campos de pelada 

No bairro do Coqueiro, uma iniciativa esportiva cai como uma luva para quem é fã do futebol e nunca teve oportunidade de estar profissionalmente entre as quatro linhas. A ideia do Parazão da Pelada surgiu através de Marcos Noro, um entusiasta do esporte que vê nos jovens da periferia um potencial muitas vezes desperdiçado por quem poderia trabalhar na qualificação deles. Como resultado, centenas de jovens e adultos hoje fazem da 'pelada' um dos esportes mais praticados em toda Belém, como frisa um dos fundadores, o empresário Aderlan Simplício.

O Parazão surgiu de uma vontade do fundador Marcos Noro, onde ajudei ele na primeira edição e retornei para ajudá-lo na nona edição. Hoje o Marcos é falecido por conta da Covid 19, mas o projeto segue e a meta foi atingida. Queríamos dar oportunidade em uma competição de grande nível a atletas com muita condição técnica, mas desprestigiados da categoria profissional, por ironia o Parazão hoje é frequentado por vários atletas Profissionais do estado e Nacional também". 

image Parazão da Pelada concede premiações boas aos participantes (Ary Souza/ Arquivo de O Liberal)

Um desses atletas é o professor de educação física Thiago Silvino, que desde os 17 anos percorre os campinhos da cidade disputando partidas que contém tanta emoção quanto os jogos profissionais. "Futebol de pelada, de uns anos pra cá, evoluiu muito. Antigamente só tinha a questão da rivalidade entre bairros. Hoje em dia cresceu muito. Tem vários campeonatos e movimenta a economia. O pessoal que trabalha nos campos vende cerveja, chope, comida, camisetas. Tudo isso o torcedor compre, né?!", garante. 

E a injeção econômica não para por aí. "Se tu for for pesquisar mais a fundo, tem campeonato todo dia. É campeonato de futsal, campeonato de 'Fut7', entendeu? Toda semana está tendo campeonato. Com essa evolução, tem gente que até sobrevive disso. Jogadores pegam dinheiro dali, de um time, dinheiro de outro e assim vivem. Acaba se tornando uma fonte de renda", detalha. 

A capoeira que ferve as rodas da Terra Firme

A capoeira é praticada em mais de 200 países. É a maior difusora da língua portuguesa no mundo, mas em Belém segue essencialmente periférica. Muitas vezes ocupando os espaços de lazer e educação que o Estado não supre. Dessa reivindicação histórica nasceu o projeto "Eu sou Angoleiro", voltado para o ensino da arte, que mistura dança, música e luta. A professora Alessandra Marinho, também conhecida como 'Leca', é uma das entusiastas da prática e ajuda na disseminação aos jovens do bairro.

image O projeto é desenvolvido em vários espaços. (Divulgação)

"O grupo do qual eu faço parte está vinculado ao Mestre João Angoleiro em Belo Horizonte e aqui tem como principal responsável o contramestre  Edimar Silva. Eu sou treinel e assim como outros Camaradas Ewerton Elias e  Xokeid de Oya ficamos responsáveis pelos treinos no grupo. Eles acontecem às terças e quintas de 19:00h às 21:00h na Escola Brigadeiro Fontenelle e também temos uma outra frente de trabalho guiada pelo Treinel Rodrigo Etnos em um terreiro de Candomblé, também localizado na Terra Firme, o IBAMCA", conta.  

Todo o trabalho desenvolvido é voluntário e comunitário. Portanto, não há um espaço fixo para receber os jovens. Muitas vezes é necessário improvisar locais e nesse período o grupo já passou pela UFPA, UFRA, escolas públicas, barracões comunitários. Em alguns momentos, houve até acusações em relação à conduta das crianças, mas nem isso foi o suficiente para matar a sede da inclusão social. 

image Garotada atendida pelo projeto "Eu sou Angolano". (Divulgação)

"A Terra Firme é um grande quilombo urbano e é permeada de várias outras manifestações ancestrais como os Bois bombas, grupos de hip hop e outros grupos de capoeira regional. Nossas bases de ensino se dão entre todos: crianças, jovens e adultos e é muita coisa a se aprender cantar, tocar, jogar e temos como ritual de culminância a roda", comenta Leca, que finaliza com um discurso muito assertivo sobre as dificuldades de viver nas áreas periféricas de uma grande cidade. 

"Entender o que é viver numa periferia, porque sua rua alaga e você não consegue chegar ao treino, entender como cada aprendizado dentro do grupo pode te ajudar  enquanto ser humano, dentro da escola ou do trabalho, munir-se de forças para se defender e combater o racismo. Seguimos na resistência porque a capoeira Angola para nós é uma filosofia de vida e segue como peça fundamental numa cidade como Belém, que por muito tempo teve a presença negra e de suas manifestações negadas".

Projetos da Prefeitura de Belém voltados para o esporte 

A Prefeitura Municipal de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer (Sejel), informa que atende mensalmente em média 2.220 pessoas em diversos trabalhos sociais. Deste total, aproximadamente 1.620 são crianças e adolescentes. 

A Sejel possui os seguintes projetos permanentes de incentivo ao esporte e lazer: 

- Saúde+: 
O projeto oferece atividades físicas coletivas gratuitas na Aldeia Cabana, de segunda a quinta-feira, com aulas diurnas e noturnas. Os treinos incluem ginástica funcional, dança, aeróbica e alongamento. Cerca de 360 pessoas, a maioria moradoras do bairro da Pedreira, são beneficiadas com as atividades físicas.

- Escola de Esportes:
O
ferece aulas gratuitas de vôlei, futsal e basquete a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, no Complexo Esportivo Doroty Stang, bairro da Sacramenta. Cerca de 250 crianças são beneficiadas. 

- Brinca Belém: 
Acontece com realização de ações itinerantes, com equipes de servidores da Sejel levando atividades de lazer e dança às crianças e adultos da periferia. Cerca de 70 pessoas participam das atividades, em cada ação. O projeto também faz parte das ações da Sejel durante o Verão da Gente, da Prefeitura de Belém, realizado durante o mês de julho em Belém, Mosqueiro, Outeiro e Cotijuba. Além do Brinca Belém, a Sejel organiza diversas atividades físicas e torneios durante o Verão da Gente, também nas regiões distritais. No total 1.190 crianças participaram das atividades em 2022. 

- Instrução Normativa: 
Funciona com oferta de bolsas de incentivo financeiro para atletas participarem de competições nacionais e internacionais. Em 2022, 75 atletas de diversas modalidades foram contemplados.

- Mestre 70: 
O Espaço Esportivo e Cultural Mestre 70, no bairro do Guamá, atende 165 crianças e adultos em atividades esportivas e de dança. 

- Viva Melhor Idade: 
O projeto Viva Melhor Idade atende 280 idosos em três locais de Belém, em parceria com unidade básica de saúde e com instituições religiosas. Os idosos participam de atividades de ginástica e dança, sendo duas a três vezes por semana, dependendo do local. Atualmente, são atendidos idosos na Unidade Básica de Saúde do Conjunto Satélite, na Paróquia José de Anchieta, localizada no conjunto Maguari, ambos no bairro do Coqueiro, e na Paróquia Santo Agostinho, localizada na avenida Cipriano Santos, em São Brás.

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