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Ary Souza é uma marca do fotojornalismo paraense

Ele veio de Abaetetuba, no Baixo Tocantins, e fez história no jornalismo paraense com o brilhantismo de um repórter vocacionado à profissão

Fabio Cruz
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Grandes profissionais escrevem a história de prestigiados veículos de comunicação por meio de memoráveis coberturas jornalísticas e suas relevantes contribuições à sociedade. Certamente, nestes 75 anos de O Liberal, o fotógrafo Ary Souza, falecido em 20 de abril de 2019, aos 63 anos, vítima de câncer, foi um desses personagens que contribuíram com muita dedicação à profissão de fotojornalista no jornal paraense. Seus 33 anos de empenho à função renderam a criação do Prêmio Ary Souza de Fotografia, em 2021.  

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Nascido em Abaetetuba, no nordeste do Pará, Orivaldo Ferreira de Souza, o Ary Souza como era conhecido, começou a trabalhar com fotografia, aos 13 anos de idade, na capital paraense. Ele era vizinho da antiga sede do jornal O Liberal, localizada na Rua Gaspar Viana, bairro da Campina, e trabalhava com registro e revelação de fotos 3X4. Em 18 de março de 1987, foi contratado pelo fundador da empresa jornalística, Romulo Maiorana, onde iniciava uma trajetória que durou mais de três décadas. 

“Todo dia, quando chegava em casa, ele [Ary] contava como tinha sido o dia de trabalho pra gente. Ele gostava demais de trabalhar, mesmo se tivesse doente não negava serviço. Não tinha tempo ruim para ele, certa vez, deu uma enchente muito grande próximo de casa, pois ele saiu com um short e uma sandália, com a água na altura dos joelhos, fez as imagens, foi para a redação e disse: estão aqui, já fiz as fotos da matéria”, lembra Bernadete Tavares, casada há 33 anos com o fotógrafo e mãe dos filhos dele, Thomás Tavares e Matheus Souza. 

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Galeria Ary Souza fotos pessoais

O repórter Dilson Pimentel foi um dos principais parceiros de Ary de Souza durante as coberturas jornalísticas em O Liberal. O jornalista fala com admiração e saudade do amigo, ao lembrar de velhas histórias, momentos engraçados e curiosos do amigo. Dilson também reforçou a afirmativa da viúva Bernadete Tavares sobre o amor que o fotógrafo tinha pela profissão. “O Ary era apaixonado pelo jornalismo, ele respirava e tinha o fotojornalismo nas veias. Isso não é uma frase de efeito, pois foi uma prática dele que pude presenciar diariamente”, afirmou o repórter.

Dilson conta que além do amor ao jornalismo, o repórter fotográfico também era apaixonado pelo O Liberal. “Ele nunca quis ter um segundo emprego, entendia que para se dedicar à profissão, não poderia ter nenhum tipo de empecilho, dilema moral ou ético. Ele optou em trabalhar só pelo jornal, pois acreditava que dessa forma teria mais liberdade e desenvoltura para desempenhar o seu trabalho da melhor forma possível. Se ele quisesse, poderia ter trabalhado em qualquer outro lugar, mas escolheu ficar só no jornal", comentou Dilson Pimentel.

O repórter afirmou também que Ary não media esforços para fazer uma reportagem, não importando o dia, a hora e as circunstâncias adversativas. Dilson lembrou do dia em que o fotógrafo chegou a viajar às pressas para o sul paraense, apenas com a roupa do corpo para não perder a cobertura jornalística na região. Para o jornalista, o amigo possuía uma personalidade ímpar: “Ele não tinha dificuldades para entrar na lama ou na água, subia partes elevadas, colocava a vida em risco, mas não se importava, pois o objetivo dele era conseguir a melhor imagem possível. Era muito ousado e não gostava que alguém dissesse o que ele deveria fazer, também não se prendia às regras ou orientações de cobertura jornalística”.                   

Eldorado do Carajás

Ary Souza participou de grandes coberturas jornalísticas, entre elas a do Massacre de Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996, quando policiais militares atiraram contra integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), que interditavam a Curva do S, matando 21 trabalhadores. Dilson Pimentel não esquece de quando o fotógrafo foi capa de O Liberal. “Certa vez, ele [Ary] fez uma cobertura de um protesto de estudantes pela meia passagem, em 1991, e foi agredido pela Polícia Militar, a imagem do Ary sendo carregado estampou a capa daquela edição. A máquina fotográfica dele ficou totalmente quebrada, mas nem por isso ficou intimidado, o jornalismo era o escudo que ele precisava para seguir adiante”, afirmou o repórter.

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Galeria Ary Souza trabalhos

Bernadete Tavares diz que somente um evento abalava o destemido fotógrafo durante as coberturas: as tragédias envolvendo jovens e crianças. “O Ary sempre foi corajoso, não tinha medo de quase nada, se, por exemplo, tivesse que subir um prédio que estivesse pegando fogo, com certeza ele subia, pois o espírito dele era jornalístico mesmo. No entanto, chegava em casa muito abalado quando tinha morte de criança por acidente, negligência ou estupro. Ele sempre dizia que a morte de jovens ou crianças o deixava muito triste”, contou.

O talento do fotógrafo de Abaeté levou o nome dele longe e fez com que Ary conquistasse várias premiações, uma delas internacional, o prêmio da União Católica Internacional (UCIP), com sede em Genebra: o registro de uma criança de cerca de dois anos, em condições de rua, que estava sozinha cuidando de um bebê deitado em um pedaço de papelão. Na imagem chocante, a criança vestindo apenas uma calcinha aparece de costas cobrindo o bebê.

Com o dinheiro do prêmio, Ary comprou o bugre vermelho, uma espécie de alter-ego dele, rebelde e avesso às regras. Era uma marca registrada na qual o fotógrafo circulava pela cidade, em condições precárias, sempre com os longos cabelos gris soltos ao vento. Ele também foi premiado no Salão Arte Pará, foi artista homenageado em uma das edições, além de  participar da Bienal de Fotografia de São Paulo, em 1995.

image Ary Souza tinha presença marcante nas ruas de Belém com o seu bug (Dirceu Maués / Arquivo O Liberal)

Em setembro deste ano, o Grupo Liberal lançou o Prêmio Ary Souza de Fotografia, homenagem ao profissional premiado que exerceu seu trabalho com excelência reconhecida, registrando momentos históricos dos paraenses nas páginas de O Liberal. “A nossa família ficou muito grata com essa homenagem. No dia da premiação, eu disse que o Ary, se estivesse vivo, iria ficar muito contente, pois o jornal era a segunda família dele. Foi uma justa homenagem para ele”, disse a esposa Bernadete Tavares.

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