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Periferia de Belém ganha cores e beleza por meio de grafitagens de artistas locais

Pelas ruas da capital, artistas visuais como Mama Quilla e PTCK moldam o cenário urbano por meio de graffitis que retratam as vivências periféricas e até mesmo o modo de viver amazônico

Gabriel Pires

Nos muros das esquinas e ao longo das grandes avenidas, a arte transforma a paisagem de Belém e dá novos contornos à periferia da cidade. Pelas ruas da capital, artistas visuais como Mama Quilla e PTCK moldam o cenário urbano por meio de graffitis que retratam as vivências periféricas e até mesmo o modo de viver amazônico. Esses projetos de grafitagens revitalizam e embelezam esses espaços, levando cor, expressão e identidade para bairros mais afastados.

Para a artista Mama Quilla, de 31 anos, a arte na periferia é uma forma de democratizar o acesso a essa expressão para a população e, principalmente, de levar beleza a esses locais. Nascida e criada no bairro da Marambaia, ela realiza intervenções tanto em comunidades periféricas quanto ribeirinhas. Com grafite nos muros e em outros espaços, seu trabalho exalta, principalmente, a Amazônia, como os rios, a fauna e a flora da região, o modo de viver amazônico e também as tradições paraenses.

“Os meus trabalhos falam muito sobre a nossa cultura amazônica, sobre a minha maternidade atípica. Eu tenho um filho de 7 anos dentro do espectro autista. Também trago essas vivências da periferia. Como eu cresci numa região mais periférica e também o convívio com a natureza aqui na Amazônia, a gente tem acesso aos rios, aos igarapés, às praias. Misturo essas vivências e levo para as paredes e para as telas”, conta a artista visual, que recentemente fez uma grafitagem na Marambaia.

Para além da beleza, as intervenções também fomentam o consumo da arte nas comunidades, considera Mama Quilla. “A gente tira a arte somente daquele cenário de museus e traz para o meio urbano. E isso é uma forma de também a comunidade e a população em geral terem acesso à arte. Além disso, é comprovado que as cores influenciam também a autoestima. Um ambiente mais vivo, mais colorido também faz bem para a população. É uma forma também de eternizar e mostrar ali quem nós somos”.

Expressão

“Vejo a arte, além de uma forma de se expressar tanto cultural quanto politicamente, como uma forma de eternizar as nossas raízes. E essa expressão é importante dentro das periferias, tanto para dar voz aos jovens, quanto como um meio profissional, da mesma forma que foi para mim”, acrescenta a artista. Mama Quilla também acredita que, como mulher e amazônida, ainda é necessário romper barreiras: “Quando a gente fala de arte de rua, onde a rua em si, como um todo, é um cenário mais hostil, para nós mulheres é mais ainda”.

Assim como para Mama Quilla o graffiti é uma forma de expressar as próprias experiências, o mesmo objetivo também é compartilhado pelo grafiteiro Patrick Santos, o “PTCK”, de 35 anos. Para o artista, que já adentra esse mundo há quase duas décadas, os painéis evocam a mudança de olhar sobre a periferia da capital, ao também mudar a visão do graffiti, que, muitas das vezes, é visto de maneira “marginalizada”.

Unindo criatividade e a experiência do cenário local, é nas paredes da cidade que PTCK concretiza o seu talento. “Eu tento abordar muito um tema mais cartoon [nos grafitts]. Dentro desse estilo, eu abordo a vivência da periferia e as coisas que vêm acontecendo na nossa cidade. Tem um painel, por exemplo, que representa um trabalhador informal do Ver-o-Peso, que leva renda para casa”, conta.

“Desde criança sempre gostei de desenhar, e, no início da minha adolescência, fui observando muito a cena de graffiti. Eu sou nascido e criado no bairro da Terra Firme, mas o meu início no grafite não foi dentro do meu bairro, foi no centro da cidade. Comecei no centro para depois ganhar visibilidade dentro da periferia. Hoje em dia, eu já consigo adentrar os dois espaços, tanto no centro, que é mais dificultoso, quanto na periferia”, acrescenta.

image PTCK lida com o graffiti desde jovem (Foto: Adriano Nascimento / Especial para o jornal Amazônia)

PTCK também é arte educador e, por meio da arte, realiza projetos de grafitagens com as comunidades, ajudando a transformar a periferia de Belém. O foco é potencializar o protagonismo de jovens e crianças - público com o qual trabalha - e desenvolver o talento artístico desde cedo. “Assim como a arte me ajudou no passado, ela tem força de ajudar jovens hoje e no futuro”. “O tempo que eu estava focando em desenhar e tentar melhorar, isso era um passatempo que eu tinha para me afastar da violência que, antigamente, era muito forte, principalmente no meu bairro”, reflete Patrick.

Debate

Para além da arte, os temas que dizem respeito à periferia também ganham destaque no dia a dia do jornalismo. Na coluna “Periferia em Foco”, veiculada semanalmente no jornal Amazônia, o jornalista Wellington Frazão,37 a partir de uma perspectiva autêntica e vivenciada por ele. “Como morador do bairro da Cabanagem, trago uma abordagem genuinamente periférica, que valoriza as realidades, desafios e potências desses territórios. Meu trabalho busca dar visibilidade a histórias, iniciativas e problemáticas locais”, conta.

“Promovendo uma narrativa construída de dentro para fora, com o olhar de quem vive e compreende as dinâmicas da periferia. Falar sobre a vivência e as belezas das periferias é uma forma de desconstruir a visão estereotipada que a sociedade frequentemente tem sobre esses territórios. As periferias vão muito além da ideia de comunidades "carentes" — são espaços de criatividade, resistência e soluções inovadoras”, observa o colunista.

Frazão ainda completa: “No entanto, essa abordagem não deve romantizar a realidade, pois os desafios são concretos e fazem parte do cotidiano. Através da minha coluna, busco provocar uma reflexão sobre o papel que todos podem desempenhar na transformação dessas áreas, reconhecendo que as periferias são parte essencial da cidade e merecem ser valorizadas e incluídas no debate público”.

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