Promessas de emprego na Rússia: entenda as denúncias e saiba como identificar golpes
Programa divulgado nas redes sociais oferece salário e moradia a jovens estrangeiras, mas investigações apontam indícios de exploração e tráfico humano

Um programa que promete emprego, moradia e intercâmbio na Rússia tem chamado a atenção nas últimas semanas após ser promovido por influenciadoras brasileiras nas redes sociais. O “Start Program”, como foi divulgado, ofereceria salários entre US$ 540 (R$ 2,8 mil) e US$ 680 (R$ 3,6 mil) mensais, além de benefícios como passagens aéreas, seguro e acomodação gratuita.
No entanto, investigações internacionais indicam que, por trás da promessa de estabilidade e crescimento profissional, pode haver um esquema com indícios de exploração e tráfico humano. O programa está ligado à Zona Econômica Especial de Alabuga, no Tartaristão, região localizada a leste de Moscou.
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O que é o Alabuga Start
Apresentado oficialmente como um projeto de capacitação e inserção profissional para jovens estrangeiras, o Alabuga Start é voltado a mulheres entre 18 e 22 anos com ensino médio completo. Segundo o site do programa, o objetivo seria “ajudar jovens mulheres a encontrar um emprego oficial bem remunerado e criar um futuro brilhante”.
Entretanto, relatórios de organizações internacionais afirmam que a iniciativa estaria recrutando jovens para trabalhos forçados, principalmente na montagem de drones militares, em condições consideradas degradantes.
Relembre o caso
O programa ganhou destaque no Brasil após ser divulgado por influenciadoras como MC Thammy, Zabetta Macarini, Catherine Bascoy e Aila Loures, que apresentaram o projeto como uma “grande oportunidade profissional no exterior”. As publicações foram posteriormente apagadas, depois que denúncias sobre o Alabuga Start começaram a circular na imprensa e nas redes sociais.
MC Thammy afirmou ter recebido documentos aparentemente legítimos antes de aceitar o contrato de publicidade. “Assim que percebi a repercussão e as suspeitas, devolvi o dinheiro e encerrei a parceria”, disse a influenciadora.
Aila Loures declarou que seus advogados analisaram a documentação e “não encontraram irregularidades”. Já Catherine Bascoy reconheceu que “nem sempre é possível acertar em todas as escolhas”.
Entre as brasileiras que afirmam participar do programa, Michelle Souza, de 21 anos, declarou nas redes sociais que está na Rússia de forma voluntária e que não sofreu qualquer tipo de abuso. Ela apresentou documentos de visto e contrato de trabalho revisados por advogados e reforçou que seus vídeos não foram patrocinados. “Nunca recebi para divulgar o programa, só quis mostrar minha rotina aos amigos e familiares”, disse.
Denúncias internacionais de exploração
Relatórios recentes da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC) e do Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) apontam que mulheres africanas e asiáticas recrutadas pelo Alabuga Start relataram trabalho forçado, retenção de passaportes e salários reduzidos.
A Associated Press noticiou em 2024 que participantes do programa eram coagidas a montar drones sob condições perigosas e exaustivas, com remuneração abaixo do prometido.
Essas denúncias levaram a investigações em vários países, incluindo a atuação da Interpol em Botsuana e alertas oficiais de governos africanos sobre possíveis fraudes.
As autoridades russas negam as acusações, classificando-as como “campanha de desinformação promovida pelo Ocidente”.
Como saber se não é golpe
Antes de aceitar propostas de trabalho no exterior, especialistas recomendam verificar a legalidade da empresa e dos intermediários no Brasil.
Veja algumas dicas:
- Consulte se a agência ou programa possui CNPJ ativo e autorização do Ministério do Trabalho e Emprego;
- Pesquise o nome da empresa em fontes oficiais e sites de reputação;
- Desconfie de promessas de altos salários com pouca qualificação exigida;
- Nunca entregue seu passaporte antes da confirmação do contrato de forma segura e legal.
No Brasil, denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100 ou Disque 180, além de órgãos como o Ministério Público Federal, Polícia Federal e o Ministério do Trabalho.
Mesmo com a polêmica, o site oficial do Alabuga Start continua ativo, sem informações de CNPJ ou representante legal no Brasil. O perfil no Instagram, antes promovido por influenciadoras, foi desativado após a repercussão.
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