Papa Leão XIV recebe pela primeira vez vítimas de abuso sexual na Igreja Católica
Organização internacional cobra do pontífice política global de tolerância zero para crimes cometidos por religiosos

O papa Leão XIV se reuniu, nesta segunda-feira (20), pela primeira vez com representantes da Ending Clergy Abuse (ECA), organização internacional formada por sobreviventes e defensores de vítimas de abuso sexual cometido por membros do clero. Durante o encontro, realizado no Palácio Apostólico, o pontífice sinalizou disposição em manter um diálogo permanente com o grupo, que pede uma política global de tolerância zero na Igreja Católica.
A ECA, que atua em vários países, tem pressionado o Vaticano para adotar mundialmente a política em vigor nos Estados Unidos desde a década de 1990. Entre as diretrizes está a remoção definitiva de padres envolvidos em um único ato de abuso sexual, desde que comprovado ou admitido segundo as regras canônicas.
Sobreviventes pedem política global contra abusos na Igreja
Segundo Tim Law, cofundador da ECA, o papa reconheceu haver “grande resistência” à criação de uma lei universal de tolerância zero, mas demonstrou interesse em seguir com o diálogo. Leão XIV já havia se reunido com vítimas em ocasiões anteriores, quando era bispo no Peru, mas esse foi o primeiro encontro com uma organização ativista.
Participaram da audiência seis membros da ECA, representando Argentina, Canadá, Alemanha, Uganda e Estados Unidos. O jornalista e sobrevivente Pedro Salinas também esteve presente. A reunião durou cerca de uma hora, e o Vaticano só incluiu o compromisso na agenda oficial após atualizações ao longo do dia.
Grupo destaca urgência em diferentes regiões do mundo
Durante a conversa, os membros da ECA apresentaram suas iniciativas prioritárias: adoção da política de tolerância zero, convocação de conferência sobre supostos abusos no Opus Dei na Argentina e apoio à criação de uma organização nacional nas Filipinas.
A cofundadora da ECA, Gemma Hickey, disse ao papa: “Inspirados por suas palavras ao se tornar papa, viemos como construtores de pontes, prontos para caminhar juntos em direção à verdade, à justiça e à cura”.
A ugandense Janet Aguti destacou que o papa demonstrou sensibilidade aos obstáculos culturais enfrentados na África, onde o problema é muitas vezes negado por líderes religiosos. “As crianças nos Estados Unidos não devem ser mais protegidas do que as da África”, afirmou.
Papa ouviu apelos e pediu paciência ao grupo
Os integrantes da ECA relataram que buscavam uma audiência com o papa desde 2019, ainda no pontificado de Francisco. Sobre Leão XIV, descreveram-no como humilde, sincero e aberto ao diálogo, embora tenha pedido paciência quanto à implementação das medidas.
“Hoje sinto que fui ouvida”, disse Evelyn Korkmaz, cofundadora da ECA e sobrevivente de um internato no Canadá. “Acredito que ele continuará neste caminho de reconciliação.”
Fonte: Associated Press
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