Metanol do PCC pode ter sido usado em bebidas falsificadas
Associação aponta ligação entre facção e destilarias clandestinas; São Paulo tem onda de intoxicações e 10 casos ainda estão sob investigação

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) apontou que metanol importado de forma ilegal pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) pode ter sido repassado para destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas.
A denúncia surge após a confirmação de seis casos de intoxicação por metanol desde junho, com outros 10 pacientes ainda em investigação. O alerta da ABCF é de que o fechamento de formuladoras de combustível ligadas ao crime organizado pode ter impulsionado a recente onda de envenenamentos.
Operação identificou metanol em postos de combustíveis
Há cerca de um mês, uma operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) descobriu o uso de combustível adulterado em postos, com até 90% de metanol na mistura – bem acima do limite legal de 0,5%.
Segundo a ABCF, após a desarticulação de parte desse esquema, a facção criminosa teria buscado outros meios para escoar o metanol, como o mercado clandestino de bebidas, gerando “lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”.
Associação defende retomada de sistema de controle
Para conter o avanço das falsificações, a entidade defende a reativação do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), desativado em 2016. O sistema era operado pela Receita Federal e pela Casa da Moeda para garantir a rastreabilidade da produção.
“Desde o desligamento do Sicobe, os volumes de bebida falsificadas aumentaram muito, em bilhões de litros”, afirma a ABCF. O anuário de falsificação de 2025 da associação estimou perdas de R$ 88 bilhões para o setor de bebidas no último ano – sendo R$ 29 bilhões em sonegação de tributos e R$ 59 bilhões em prejuízos de faturamento das indústrias.
A reportagem entrou em contato com a Receita Federal sobre a possível reativação do sistema e aguarda resposta.
Entenda o que é o metanol e os riscos à saúde
O metanol, também chamado de álcool metílico, é um biocombustível inflamável utilizado como solvente químico, na produção de plásticos, biodiesel e combustíveis. Sua ingestão, acidental ou intencional, pode causar intoxicação grave e morte.
Devido à alta toxicidade, a presença da substância em bebidas adulteradas representa um risco de surtos epidêmicos com alta letalidade, segundo o governo.
Desde sábado (27), a Secretaria da Saúde de São Paulo orienta bares, restaurantes e pontos de venda a verificarem cuidadosamente a procedência das bebidas. A população também deve evitar produtos sem rótulo, lacre ou selo fiscal.
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