Jovens estão atrasando a faculdade porque gastam o dinheiro em bets
O perfil mais comum entre os apostadores é de homens de 26 a 35 anos, com filhos, das classes C e D e com ensino médio em escola pública

Os gastos de jovens com apostas online têm prejudicado o ingresso e a permanência no ensino superior, revela a pesquisa "O impacto das bets na educação superior", realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a Educa Insights.
De acordo com o levantamento, 14% dos alunos matriculados em instituições particulares já atrasaram mensalidades ou trancaram o curso devido aos gastos com apostas. Além disso, um em cada três entrevistados (34%) afirma que precisaria ter interrompido as apostas para iniciar os estudos no primeiro semestre de 2025.
O estudo ouviu 2.317 jovens de 18 a 35 anos, de todas as classes sociais e regiões do Brasil, em março de 2025.
Os valores gastos variam conforme a renda. Jovens da classe A destinam, em média, R$ 1.210 por mês às apostas, enquanto nas classes D e E a média é de R$ 421. A maioria afirma comprometer até 5% da renda mensal com essa prática, mas cresce o número de pessoas, especialmente nas classes mais baixas, que ultrapassam os 10% do orçamento.
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Entre os jovens da classe A, 87% já apostaram online alguma vez. Já nas classes D e E, a divisão é mais equilibrada: 57% afirmam já ter apostado, enquanto 43% nunca apostaram.
Em um recorte regional, Nordeste e Sudeste concentram os maiores percentuais de jovens que associam o adiamento da graduação às apostas online — 44% no Nordeste e 41% no Sudeste. Já Sul (17%) e Centro-Oeste (18%) são as regiões com menor associação entre os dois fatores.
Para o primeiro semestre de 2026, a projeção indica que dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes no ensino superior privado, 34% (cerca de 986 mil pessoas) correm risco de não efetivar a matrícula devido ao comprometimento financeiro com as bets.
O perfil predominante entre os apostadores é formado por homens de 26 a 35 anos, trabalhadores, com filhos, pertencentes às classes C e D, e com histórico de escolaridade em escolas públicas.
A frequência das apostas também chama atenção. Mais da metade (52%) dos entrevistados afirmam apostar regularmente — de uma a três vezes por semana. O índice representa um aumento em relação à edição anterior da pesquisa, realizada em setembro de 2024, quando 42,9% relataram esse comportamento.
“O estudo mostra que as apostas online se tornaram um obstáculo adicional para o acesso à educação superior no Brasil”, afirma Paulo Chanan, diretor-geral da ABMES.
“Precisamos olhar com seriedade para esse cenário e desenvolver políticas públicas que conscientizem os jovens sobre as responsabilidades envolvidas com a prática de apostar”, acrescenta.
Segundo ele, o fenômeno é relativamente novo no país e ainda “carece de amadurecimento e maior compreensão das responsabilidades envolvidas tanto por parte do poder público quanto dos apostadores”.
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