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Vivendo no azul

Tarik Duarte

Novembro chegou e, em meio às preparações para as festas de fim de ano, não se pode deixar a saúde de lado. Este mês, em especial, é conhecido pelo lembrete à luta contra o câncer de próstata. Mesmo com diversas campanhas de conscientização, principalmente, para a prevenção desta doença, ela ainda é tratada como um assunto tabu, em função da forma com que um dos exames é realizado.

O câncer de próstata é o mais comum em pacientes do sexo masculino e segue como o segundo que mais vitima pacientes no Brasil, o que ainda surpreende os profissionais da saúde, já que é uma doença completamente evitável e pode ser descoberta ainda no início com a realização dos exames de toque retal e PSA.

Segundo o médico urologista Cleybismar Begot, uma grande barreira é o desconhecimento da população sobre a forma com que o procedimento do exame de toque é realizado. Ele afirma que este é um exame clínico básico que dura poucos segundos, mas que permite que o profissional avalie o conjunto de músculos conhecido como assoalho pélvico, responsável por funções como controle da urina e fezes, além de poder sentir a próstata em si. 

image Cleybismar Begot (Naiara Jinknss / Troppo)

Engana-se, entretanto, quem pensa que, por ser simples, o exame não seja essencial, já que nele podem ser constatadas alterações na região, muitas relacionadas ao câncer e, principalmente, detectando a doença em seus estágios iniciais. Doutor Begot conta que atualmente é comum que os pacientes já cheguem ao consultório com mais informações, contribuindo para a diminuição do preconceito – mas, por ser uma região sensível, ainda acontecem casos de quem alegue que o toque pode ser relacionado a uma falta de masculinidade, recusando, inclusive, o exame.

Outro exame que complementa, mas não substitui o toque, é o PSA, feito com uma amostra sanguínea e que detecta uma substância produzida pela próstata, mas que por falta de profissionais em locais afastados de grandes centros urbanos, acaba sendo pouco solicitado em sistemas de saúde, atrapalhando o rastreamento da presença da doença, fato que ajuda a entender o porquê de 20% dos casos serem constatados em seus estágios mais avançados. Outra má notícia é que ¼ dos pacientes com a alteração na próstata acabam morrendo por complicações da doença, sendo que isso é completamente evitável com os exames citados. “Alguns pacientes relatam medo de sentir dor ou desconforto durante o exame, porém, geralmente ele é bem tolerado. Muitos acham que é um exame arcaico e que deve ser substituído, porém da mesma forma que a ausculta do coração permite uma avaliação imediata e rápida da condição do paciente, o exame de toque retal também pode ter resultado imediato”, conta o urologista, que pede atenção também a outros sinais, como alterações no jato urinário, urgência para ir ao banheiro, incontinências leves e até aumento da frequência urinária, que podem ser relacionados a alterações na próstata, já que esta fica próxima a uma das musculaturas importantes para estas funções, denominada de esfíncter.

Foi graças a essa atenção que Wandernilson Cursino descobriu que precisava de tratamento. Em 2015, ele buscou atendimento médico ao sentir dificuldades de urinar e, mesmo com o PSA normal, resolveu investigar e foi descoberto um aumento em sua próstata. Após um ano de tratamento com medicamentos para facilitar a ida ao banheiro, ele não apresentou melhora e optou, junto com seu médico, por retirar parte da próstata. A surpresa veio em seguida, pois ao realizar uma biópsia, foi identificado um tumor maligno já em fase de metástase, quando a doença já está avançada ao ponto de os tumores não ficarem concentrados apenas no local de origem, o levando a retirar completamente a próstata e parte dos músculos próximos.

image Wandernilson Cursino (Naiara Jinknss / Troppo)

Atualmente ele ainda sente os efeitos da quimioterapia, iniciada em 2018, mas agradece todos os dias por ter vencido essa etapa difícil em sua vida, agora fazendo os seus exames regularmente e contando sua história com orgulho. Wandernilson ainda diz que esse preconceito o fez demorar a compreender a importância da rotina dos exames para se prevenir. “Passando por tudo que eu passei e por Deus ter me possibilitado uma oportunidade de viver um pouco mais, me dedico em orientar os amigos, conhecidos e familiares sobre a importância de procurar assistência médica logo que surgirem os sintomas, que não fiquem achando que é uma bobagem fazer os exames”, conta ele, que hoje ajuda a esclarecer o quão normal o exame é, para que outros não cometam o mesmo erro e acabem negligenciando a própria saúde.

Outro forte fator, segundo os profissionais de saúde, é a herança genética, que aumenta o risco da presença da doença em pessoas da mesma família, levando parentes a buscar os exames de prevenção mais cedo, como fez um dos pacientes do doutor Cleybismar Begot. 

Segundo ele, que prefere não se identificar, seu pai já havia sofrido da doença, fato que o levou a ter um cuidado maior e, mesmo assim, o câncer se desenvolveu também na próstata.

Ele conta que começou a fazer o acompanhamento aos 45 anos, quando os resultados do PSA se mostraram alterados. No exame de biópsia, tudo parecia normal, mas o histórico da família o deixou atento, principalmente por apresentar um endurecimento da próstata após o ocorrido. Anos depois, ele iniciou tratamento medicamentoso para redução dos níveis de PSA, o que não aconteceu, deixando o urologista intrigado, o levando a solicitar uma nova biópsia, que dessa vez constatou a presença do câncer. De imediato, o procedimento recomendado foi a retirada total do órgão, pois isso evitaria o consequente desenvolvimento de novos tumores e evitaria um maior sofrimento ao paciente, prontamente acatada por ele.

Atualmente ele segue sua vida normalmente, sem sinais de volta da doença, mas nada que o faça perder a atenção quanto os exames anuais, orientando inclusive seu filho para a prevenção, já que ele pode acompanhar dois casos na família e de parentes próximos. 

Muitos não sabem, mas é importante o acompanhamento de uma equipe no tratamento e recuperação da doença, como conta a Doutora Erica Carneiro. Fisioterapeuta especialista em fisioterapia pélvica, ela diz que muitos pacientes acham que a cirurgia, por si só, já é o fim do tratamento, mas esquecem das conseqüências desse procedimento, por ser em uma região de músculos importantes e que trabalham juntos. Esses músculos precisam de estímulo e exercício, pois podem facilmente perder suas funções ao longo do tempo, papel este do fisioterapeuta, que trabalha com recursos manuais e comportamentais para fazer o paciente voltar a sua rotina sem grandes dificuldades. “O que é muito comum após a retirada da próstata é a incontinência urinária, mas a tendência é o paciente melhorar em alguns meses. No entanto, a perda de urina pode durar por mais de um ano ou mesmo ser permanente, e é aí que o fisioterapeuta pode ajudar, já que os exercícios são simples e práticos, acelerando essa recuperação”, explica Erica.

image Erica Carneiro (Naiara Jinknss)

A professora acompanha os pacientes com seus alunos do curso de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e já perdeu as contas dos casos de pacientes que chegaram conformados com a perda de urina e concluíram o tratamento surpresos e contentes com sua eficácia. Erica também promove ações, com apoio da universidade, de prevenção da doença, já que os atendimentos ocorrem com pessoas que necessitam do Sistema Único de Saúde e, muitas vezes, não consegues tais informações com tanta facilidade.

A fisioterapeuta e o médico atentam também para a população transgênera, já que muitos acham que o tratamento hormonal ou até a cirurgia para mudança de sexo as isenta do exame de rotina, o que nada mais é do que um mito, já que parte do organismo masculino permanece e a próstata não é retirada nesse processo, sendo registrados casos da doença em um grau avançado por desconhecimento da paciente.

Então não tem mais desculpa. De forma rápida e segura, é possível detectar essa doença e ganhar mais tempo e qualidade de vida com os entes queridos, o que não pode é deixar a falta de informação, a intolerância e o preconceito vencerem essa luta

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