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Vai uma simpatia aí?

Lorena Filgueiras

É aquilo: há quem não acredite, mas jamais coloca-se em dúvida a eficiência dos santos de junho – em especial Santo Antônio – quando o assunto é garantir uma forcinha a mais no amor.

Diz uma senhora octogenária de quem sou amiga há uns 20 anos, que depois da internet, aparentemente ninguém precisa da ajuda dos santos quando o assunto é o coração. “Às pessoas andam se apaixonando e desapaixonando muito rápido. Cruzes”. 

Dalva Maria, minha amiga em questão, nunca leu a respeito dos amores líquidos, como as relações são cada vez mais voláteis e vulneráveis. Sua contrariedade tem razão de ser (para além de ser “das antigas”, como ela costuma se definir): ela foi casada por quase 50 anos e descobriu, ainda menina, o poder das simpatias de junho. Foi por meio de uma delas, inclusive, que ela sabia: o nome do marido teria a inicial “R”. “Ele era lindo!”, me conta enquanto gargalha sonoramente. “Mas imagine você que eu quase caí dura quando ele se apresentou e disse que se chamava Roberto. Passei a noite fugindo dele, como se eu fosse culpada de saber que podia ser ele. Nem tinha certeza, mas me comportei como se fosse!”.

O namoro ainda demorou a engatar. Os galanteios vieram com cartas de amor, que viraram juras, até que, finalmente, veio o “sim”. As memórias de Dalva evocaram algumas memórias minhas, que considerava até meio perdidas – mas jaziam, empoeiradas, nas prateleiras da memória. E você? Conhece as simpatias típicas do período junino? 

Santo Antônio de cabeça para baixo

Que levante a mão quem nunca ouviu falar em deixar o santo casamenteiro “de castigo”, até que o amor chegasse? Teve gente que foi mais (bem mais) além: além de cabeça pra baixo, o pobre do santo foi afogado em um poço. A Jacyara Silva, 47, confessa sem muito temor (mas entre muitas risadas). “Morava no interior e alguém me disse que tinha de deixá-lo de cabeça para baixo. Ao fim de um mês, como não havia tido novidades, decidi por conta própria deixa-lo pendurado no poço que ficava atrás de casa”. “E funcionou?”, pergunto. “Mais ou menos”. A risada denuncia – o namoro até veio, mas a “propaganda era enganosa”. O bom moço seguiu o protocolo, mas desfez o noivado dois meses antes do grande dia. 

Cera de vela em água, faca na bananeira?

Antes de qualquer coisa, é preciso que se diga: essas simpatias só funcionam quando feitas na véspera de São João (na madrugada do dia 23 para o dia 24). “Só vale se o copo for virgem e faca também”, comenta a professora Maria Inês, com seriedade. “Você vai encher o copo de água e acender uma vela para São João. Reza e pede que ele revele a inicial do nome do seu marido e pinga a cera na água. No fundo do copo vai se formar uma letra. Mas cuidado pra não agitá-lo”, ou a simpatia terá ido, literalmente, por água abaixo.

Tem ainda a da faca na bananeira, mas, convenhamos, é mais difícil. Em todo o caso, fica registrada aqui: pegue uma faca virgem (nunca usada) e coloque no caule de uma bananeira. No dia seguinte, tire a faca e o leite da planta deve escorrer, formando uma letra. Atenção, que é inicial do nome do seu futuro amor.
Volto à Dalva e ela conta que a simpatia dela foi a da bananeira. “Uma amiga fez e não saiu a seiva”, conta bem-humorada.

Ah, também na véspera de São João, tem a simpatia para saber quantos filhos a pessoa terá. Essa daí, eu mesma, lembro de ter feito. Ou melhor, minha avó fez para mim. Tira-se um fio de cabelo da pessoa (logo, o cabelo precisa ter o comprimento de médio para longo) e pede-se emprestada uma aliança de casamento de alguém. Amarra o fio da aliança e mergulha num copo (virgem) com água. O número de vezes que a aliança bater no copo será equivalente ao número de futuros filhos. Nem adianta me perguntar se lembro da soma. 

Banho de manjericão com alecrim

O manjericão é considerado uma planta mágica – foi a erva utilizada por São João Batista para batizar Jesus e, por essa razão, acredita-se que ele limpa a matéria e purifica até o ambiente. Essa é tranquila de fazer, não?

São Jorge não é de junho, mas dá aquela força

Essa tem que ser feita na véspera de São Pedro, ou seja, do dia 28 para o dia 29 de junho. Prepare uma espada de São Jorge para ser plantada. Peça a proteção do seu lar a São Pedro. “Essa é batata!”, afirma Rosinéia Freitas. “Nunca sofri nada em casa”, diz.

Pão de Santo Antônio para garantir fartura

Essa a minha mãe faz até hoje. Em função da pandemia acredito que terá de ser conduzida de outra forma. Habitualmente, ela leva um pacote de pães de leite para a igreja e troca pelos pães bentos (e embaladinhos) de Santo Antônio. Não conheço um único paraense das antigas que não tenha um pãozinho dentro da farinheira. Nossa, que saudade dos detalhes da cozinha da casa da minha avó! Era uma farinheira enorme, em inox toda boleada, que sempre tinha um pãozinho dentro.

E São Marçal, onde entra?

Por fim, e não menos importante, tem simpatia para quem trabalha com cultura popular. São Marçal nem sempre é lembrado, quando o assunto são as crendices, mas diz-se que ele é protetor de quem trabalha com manifestações culturais populares. Mas tem que dedicar os cortejos a ele. Por via das dúvidas, borde o nome do santo na saia do Boi do cortejo.

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