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Um lugar de mato verde (pra plantar e pra colher)

Rodrigo Cabral
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Regadas pela crescente busca por hábitos saudáveis, hortas vêm ganhando espaço em casas e apartamentos de Belém.

“Cuidar de uma horta nos faz compreender que cada coisa tem o seu tempo”. A frase escrita no vaso floresce na vida de quem decide cultivar esse hábito. Glenda Meira Bestene, 38, é advogada e há cerca de dois anos decidiu assumir um novo estilo de vida, desejo que nasceu de uma semente bem especial: a maternidade. “Além dos benefícios mais evidentes relacionados à saúde e ao bem-estar, a horta me deu a oportunidade de ensinar o meu filho Ravi (de quatro anos) sobre a importância de cuidar das coisas e entender as diferenças, pois um tipo de planta precisa de mais sol, outra de mais água; uma cresce mais rápido, outra mais devagar. Isso sem falar na oportunidade de aguçar o interesse dele por vegetais e chás, coisas que são, geralmente, o terror das mães”, conta.

Glenda mora em apartamento e cultiva alecrim, tomilho, manjericão, hortelã, orégano, erva cidreira, cebolinha, cheiro verde, capim-limão, babosa, cariru, mostarda, tomate e limão. “Faço adubo orgânico com cascas de outros vegetais que iriam para o lixo e utilizo óleo de neem (extrato vegetal) para o controle de pragas. Uso a minha produção no preparo de comidas, como tempero, mas também na ‘hora do chazinho da tarde’. É um momento maravilhoso em que o meu filho escolhe a erva, a gente senta e toma o chá juntos. Isso não tem preço”, relata.  

Realmente, as hortas têm muito a nos entregar, porque permitem uma conexão diferente com a natureza, com as pessoas e suas próprias raízes, como evidencia a nossa personagem. “O mais legal nisso tudo é cultivar o hábito de nos remeter sempre às nossas raízes. Vivemos no automático e, nem sempre nos preocupamos sobre a forma como os nossos filhos enxergam o mundo. Aqui em casa, sempre fazemos pizza desde o preparo da massa. No final, o Ravi grita: ‘espera, mãe, que eu vou pegar o orégano na hortinha!’. Parece bobagem, mas no início, tive que explicar bastante até ele entender que o orégano não vem do supermercado, não nasce dentro de um plástico, que a cor é diferente e que o aroma natural é 10 vezes mais gostoso”, destaca a advogada. 

Com sabor de verde - Romulo Almeida Teixeira, 28, é engenheiro agrônomo e costuma dizer que leva a vida através do verde, do universo das plantas. Há quatro anos, ele trabalha como paisagista e percebe, em Belém, um movimento crescente de pessoas buscado equilíbrio alimentar e encontrando na implantação de hortas um leve e delicioso caminho. “Venho fazendo cada vez mais hortas em lares e, também, realizo oficinas para ensinar e mostrar que é possível manter uma em casa, tendo, assim, uma fonte de alimento saudável – livre de agrotóxicos – à sua disposição, proporcionando momentos de união à família durante o cuidado da horta e economia financeira, já que todos passarão a ter acesso gratuito a essas hortaliças”, afirma. 

image Romulo Almeida Teixeira (Naiara Jinknss / Troppo)


Espaço não chega a ser um problema. Romulo orienta que, quem mora em apartamento, por exemplo, pode optar por hortas verticais ou usar as bordas das janelas, onde é possível alocar vários vasos. Fundamental mesmo é a dedicação para cuidar. “Não é difícil manter uma horta. Mas, como todo ser vivo, as plantas precisam de cuidados específicos. Isso vai desde analisar o espaço em que se planeja ocupar, a escolha das espécies vegetais e os cuidados para mantê-las sempre saudáveis”.

Do instagram para a mesa

Apaixonada por gastronomia, vinho e café, a funcionária pública da área jurídica Larissa Neves Duarte, 33, mantém o perfil @viagens_gastronomicas no instagram, onde, há um ano, compartilha suas experiências por restaurantes de Belém e do mundo, além de suas próprias receitas. Adepta da alimentação saudável com base em temperos naturais, ela montou uma horta em seu apartamento para ter sempre ervas frescas à mão e cultivada pelas suas próprias mãos. “Amo a ideia de produzir meu alimento, ainda que seja uma pequena parte dele. Não há maior benefício do que colher os temperos na sua sacada, pois dão muito sabor aos pratos. Eu que cuido das minhas plantas. Procuro podá-las com frequência e regar quase todos os dias pela manhã. Outro cuidado que tenho é mantê-las como orgânicas, não coloco nenhum tipo de fertilizante artificial”, conta.

image Larissa Neves Duarte (Naiara Jinknss / Troppo)


As plantas de Larissa ficam na sacada, onde recebem a luz do sol pela manhã. Orégano, alecrim, tomilho, cebolinha, manjericão, salsa e hortelã – além de outras plantas e flores - dão uma pitada especial de aconchego ao espaço. “Lá, tenho uma mesa e cadeiras, onde geralmente faço algumas reuniões, recebo amigas. Também aproveito essa área da sacada para ler meus livros e ter momentos de paz. Utilizo a minha produção no tempero de carnes, peixes e nos legumes de forno. Adoro preparar meu molho pesto com o manjericão da minha própria horta. Tudo dentro da proposta de uma alimentação mais saudável”, compartilha.

Para temperar a vida nas cidades


Há dois anos, um projeto vem incentivado a implantação de hortas e outros espaços verdes em Belém. Pelas mãos do engenheiro agrônomo Daniel Henrique de Oliveira, 38, e batizada de “Verde Cidadão”, a iniciativa se configura como um negócio social, ou seja, tem entre seus objetivos oferecer serviços e gerar impacto social e ambiental. Daniel é natural de Franca, no interior de São Paulo, e já vive na capital paraense há três anos. Veio para trabalhar em uma grande indústria de cosméticos, com o desenvolvimento de cadeias produtivas de plantas amazônicas para uso em produtos de beleza e cuidados pessoais, em parceria com comunidades locais.

image Daniel Henrique de Oliveira (Naiara Jinknss / Troppo)

 

“A ideia do projeto Verde Cidadão começou a brotar quando eu ainda morava em São Paulo. Na época, me incomodava muito ver como a cidade era carente de verde e como as áreas existentes eram mal cuidadas. Fiquei pensando em como eu poderia contribuir para mudar essa realidade e não ficar apenas reclamando. Quando me mudei pra cá, vi que a cidade não é diferente de São Paulo nesse quesito. Segundo o IBGE, Belém é a capital brasileira menos arborizada do país, o que representa grande contradição. Temos aqui uma diversidade grande de plantas e, muitas delas, são alimentícias ou condimentares e isso é pouco utilizado na alimentação cotidiana das pessoas. O Verde Cidadão traz uma proposta de solução para essa realidade, incentivando e construindo hortas urbanas, levando um pouco dessas plantas comestíveis para a casa das pessoas”, afirma Daniel. 

O engenheiro agrônomo destaca que, além da valorização da diversidade alimentar e do consumo de alimentos agroecológicos, cultivar áreas verdes deixa mais agradável a vida nas cidades, embeleza a paisagem urbana e contribui para melhorar o clima, entre outros benefícios. O projeto desenvolve planos para construção e manutenção de espaços verdes, hortas e jardins, preferencialmente, com espécies nativas. Em suas atividades, são utilizados vasos produzidos a partir do reaproveitamento de latas, que são higienizadas e customizadas. “Com isso, geramos renda para as pessoas que coletam as latas, pintam e fazem os letterings. Os plantios são feios com terra de compostagem que, assim como as mudas, é comprada de pequenos produtores do entorno de Belém. O projeto também oferece cursos e oficinas para ensinar a fazer tudo em casa”, explica. 

Ficou interessado em montar uma horta em casa? Confira no quadro abaixo as dicas do paisagista Romulo Teixeira:

1 - Obtenha um substrato adequado e realize adubações em períodos determinados (substrato é o material utilizado para receber as mudas e sementes).
2 – Controle a incidência de luz. Em média, toda hortaliça necessita de, no mínimo, 4 horas de luz.
3 – Nunca se esqueça de regar. Toda hortaliça precisa de água, então, manter o substrato úmido é essencial par o bom desenvolvimento da planta. Importante fazer a rega no início da manhã ou final da tarde. 
4 – Colher é renovar. Fazer a colheita para o consumo estimulará algumas hortaliças a produzirem cada vez mais.

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