Organização e sexo para a vida conjugal

As palavras podem parecer antônimas, já que uma remete à frieza, enquanto a outra é puro fogo. Mas para quem tem família, casa e está se relacionando há anos, é preciso planejar bem os momentos a dois

Flávia Ribeiro

No começo, tudo é descoberta, novidade, tem muita paixão e tesão... Com o passar dos anos, a vida a dois pode sofrer revezes. Chegada dos filhos, dos pets, há os boletos, o trabalho e toda uma rotina. Ufa! Cansa só de pensar, imagina ter que passar por isso e ainda continuar o romance. É possível? Sim, é! Trouxemos histórias de casais que com muito diálogo, planejamento e companheirismo, permanecem tendo o sexo como uma das prioridades.

Ana Paula Gaia, funcionária pública, e Guto Nunes, professor, estão juntos há quase onze anos, entre namoro e casamento. O casal tem três filhos: Augusto, de dez anos; Maitê, de oito e Cassiano, seis anos. “Eu e Guto já havíamos tido um namorinho na época da adolescência, ali por 1997/1998. Ele gostava bastante de mim, mas eu não dava muita bola e o namoro não seguiu em frente”, resume Ana Paula. O reencontro veio dez anos depois, já com novas prioridades. “Estávamos mais maduros e mais decididos sobre a vida e sobre o que queríamos. Já nos conhecíamos bem. Nos primeiros encontros ele falou logo em ter filhos e eu me assustei (risos), mas não demorou nada e eu já estava grávida. Foi realmente uma grata surpresa. Não tardou e já estávamos morando juntos, cuidando um do outro. Tudo muito rápido e intenso desde sempre”, destaca Gaia, afirmando que os filhos não foram planejados, mas sempre foram bem-vindos.

image Ana Paula Gaia e Guto Nunes (Naiara Jinknss / Troppo)

Ela comenta que priorizar o funcionamento da rotina com as crianças é fundamental na vida de casal também. Por isso, está bem estruturado o horário da escola, do taekwondo, do inglês, aula particular, além das brincadeiras. Em seguida, vem o horário da janta e o de dormir. “Essa rotina com as crianças também nos deixa tranquilos. Mas é importante dizer que somos uma família que divide igualitariamente as tarefas domésticas. Acho isso essencial para não sobrecarregar e não chatear o parceiro. Um parceiro sobrecarregado (e geralmente essa pessoa é a mulher) é um parceiro sem energia”, analisa a funcionária pública.

O planejamento e organização também é priorizado e fundamental para a vida de casal. E também, é necessário valorizar o tempo livre, mesmo que seja pouco. “Gostamos muito de ficar em casa. Preparamos ou pedimos um jantarzinho, abrimos um vinho, colocamos nossas músicas e falamos dos nossos planos e da nossa vida. Às vezes, escolhemos simplesmente assistir um filme legal e curtir o aconchego desse momento. Os filmes nos fazem refletir muito sobre a vida e ficamos horas depois conversando sobre o assunto”, revela Ana Paula, informando que em algumas oportunidades, contam com a ajuda de uma pessoa da família ou contratam alguém para cuidar das crianças, enquanto eles saem. “Acreditamos que todo esse nosso planejamento e cuidado com a nossa relação, e nossos filhos, nos conecta muito e o sexo é resultado natural disso”.

“Autoconhecimento e revolução”
E quando o assunto é rotina sexual, o casal alerta que não se pode idealizar porque nem sempre vai ser só fogo e tudo bem ser assim. E terapia de casal pode fazer diferença.  “Sempre digo que casamento não é linear, como a vida também não é. Temos momentos de mais interação sexual, outros de menos, mas não perdemos o interesse um no outro porque temos completa liberdade para falar sobre esse assunto. Tivemos a oportunidade de fazer terapia de casal e a terapeuta acabou nos ajudando muito a refletir sobre a nossa comunicação no que se refere a sexo, e de lá para cá a nossa vida conjugal melhorou muito mesmo. Nossa relação como um todo melhorou” analisa Gaia.

E com os dez anos e dez meses – o casal conta em anos e meses – os três filhos, a vida profissional, a avaliação é que vale muito investir num relacionamento e é muito importante viver o dia de hoje, todos os dias. “Antes de mais nada, ter um parceiro que respeite quem você é, que não te limite e não te julgue. Poder falar abertamente sobre sexo é uma libertação. Eu sempre achei que tivesse liberdade para falar sobre isso, até fazer terapia e perceber que eu mesma tinha preconceitos muito bem guardados. Guto a mesma coisa. Nós somos educados a achar que sexo é errado, que é ‘pecado’, crescemos cheios de regras que absorvemos sem nem perceber. Autoconhecimento pode fazer uma revolução na nossa vida e do nosso parceiro”, recomenda e aconselha: “busquem atividades que os conectem como casal. Os dois precisam assumir essa responsabilidade. Um trato que a gente tem é agir como se fôssemos namorados todos os dias e isso nos faz refletir muito sobre todas as nossas atitudes diárias. Acho que vale a pena ter essa percepção. Não há relação sem carinho e sem cuidado diários”.

De repente, tudo muda
Quando Mariana Lemos, curadora de conteúdo e influencer digital, e Gabriela Souza, gerente de projetos audiovisuais e produtora executiva se conheceram, jamais imaginaram que se casariam. Tudo começou, em 29 de agosto de 2016, após uma caminhada pelo Dia da Visibilidade Lésbica, em São Paulo, onde moram. “Eu estava solteira e na pista total” diverte-se Mariana. Já Gabriela estava em um relacionamento aberto. Eu achei estranho que ela não parava de me olhar. Daí quando cheguei em casa, já tinha solicitação de amizade numa rede social”, relembra.

image Gabriela Souza e Mariana Lemos (Daisy Serena)

Como Gabriela fala, ela achou que a situação “ia ser só um caldinho de ervilha com bacon numa noite fria”. Entre idas e vindas, términos e recomeços, em dezembro do ano passado elas casaram e com as bênçãos da filha, Amora, de 1,6 anos de idade. A maternidade era um antigo anseio de Gabriela, mas foi inusitado para Mariana. “Gabi sempre falava do desejo de ser mãe. A gente tinha acabado de voltar e ela estava grávida de três meses. Mas só a partir da consolidação da nossa volta, que foi se estabelecendo em mim essa noção de que eu compartilharia com ela a gestação da Amora. A minha vida materna nasceu com a Amora” relembra.

Casadas, dividindo apartamento e com uma criança, elas também mudaram o tipo de relacionamento. “Foi muito orgânico, porque quando eu a conheci passei a perceber de que queria estar com ela, ao mesmo tempo que os outros relacionamentos já não estavam fazendo muito sentido. Comecei a entender: quero estar com essa mulher e não quero que ela fique com mais ninguém”, brinca Gabriela.

Elas falam que ainda estão aprendendo a equilibrar a vida profissional, casa, criança e o relacionamento. “A gente preserva muito estar juntas. Mas sempre com apontamentos, se estivermos trabalhando muito, se está sobrando trabalho para as noites e para os fins de semana, então tem que se organizar melhor. Tivemos mudanças na carreira, no começo da vida de casada, materna e novas responsabilidades profissionais, tudo aconteceu junto. Mas a gente tem se exercitado com muito afeto e cuidado, algumas lágrimas também. No sentido de ter diálogo a respeito, então tem momento de dizer que estamos com saudades e organizar isso. Mas estamos atentas, para não deixar as coisas tomarem os lugares das outras. A gente vai equilibrando à medida que vamos identificando as situações”, diz Mariana.

Há relatos de que a rotina pode fazer com que o interesse sexual diminua no casamento, mas isso não acontece com elas. Na verdade, sexo nem sempre implica apenas manter relação sexual. “O interesse é constante pela outra. Alguns dias mais, outros menos, mas sempre tem. A gente tenta fazer com que caiba tudo isso, porque tudo é importante. Há semanas mais corridas, mas a gente está sempre se tocando, fazendo piadinhas sobre sexo, mandando figurinhas, dentre outras coisas. Acaba que a gente está sempre alimentando isso. É muito natural, não é que a gente fique pensando em fazer para não esfriar. Às vezes, a gente acorda pensando nisso, mas o dia ‘disgramento’ passa (risos) e à noite a gente vai dormir pensa que queria estar disposta e não tem como. Não rola. Mas, mais do que fazer é sentir que o interesse está vivo em você e na outra pessoa. Conseguimos ver na cara da outra que nos queremos. Mesmo que não consigamos, sabemos que o tesão está vivo” comenta Mariana. “Se curtir e priorizar estar juntas e isso tudo alimenta o sexo. É um conjunto de coisas que influencia”, finaliza o casal. A entrevista foi por áudio, durante a noite, depois de mais um dia de trabalho. Enquanto Amora se entretinha com desenhos, elas responderam, com muitas risadas, sons de copos. Mais um momento do casal.

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