Força, foco e... lesões?

Ele já foi febre na cidade e esteve envolvido em inúmeras controvérsias, mas, afinal, o que é mito e verdade a respeito do CrossFit? A Troppo + Mulher foi atrás de respostas

Rodrigo Cabral
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Você pode até nunca ter entrado em um box de CrossFit – nome que é dado aos espaços onde se treinam essa modalidade -, mas, certamente, já passou por um e observou pessoas fazendo exercícios diferentes, escalando cordas sem o uso das pernas, saltando de caixas ou, simplesmente, levantando pesos que, olhando de fora, parecem ter cargas excedentes. Por muito tempo, esse esporte dividiu opiniões, por reunir exercícios de alto impacto e intensidade. Na contramão, nos últimos anos, percebemos uma hipertrofia no número de boxes e de praticantes pela cidade. 

Então, decidimos correr pelos quarteirões – e tentar acompanhar o ritmo dos crossfiteiros – para saber se esse esporte é mesmo campeão em gerar lesões. Antes de botar os pés no box, primeiro procuramos orientações médicas. Nossa reportagem buscou se consultar com um ortopedista. Chegando lá, descobrimos que ele, também, é assíduo praticante de CrossFit. Rodrigo Badaró de Sousa Nogueira, 40 anos, é médico ortopedista e acredita que qualquer pessoa pode praticar a modalidade, que proporciona diferentes estímulos motores e fortalecimento muscular. 

image Rodrigo Badaró (Naiara Jinknss)

“No início, o CrossFit teve um momento difícil. Em sua chegada ao Brasil e em Belém, entre os anos de 2003 e 2004, os médicos temiam os impactos e eu era um deles. Comecei a praticar em 2006, com muitas ressalvas. Ao longo do tempo, fomos vendo que os coaches (treinadores) conseguem adaptar os treinos às diversas idades e restrições, se a pessoa tem uma lesão, se não tem uma perna, se é cadeirante, se tem obesidade... Com essa personalização, as lesões foram diminuindo. Hoje em dia, isso é publico e notório e esse mito foi caindo por terra. Para se ter uma ideia, disparadamente, o esporte que mais causa lesão é o futebol. Depois vem a corrida, pois algumas pessoas abusam na quilometragem”, destaca.

É claro que, assim como nas academias, a prática do CrossFit pode gerar lesões também. Mas, de acordo com o especialista, isso está ligado à forma como o praticante conduz seus treinos. “Não é o esporte que causa lesão e sim a intensidade ou a má realização dos exercícios que as causam. Em busca de resultados imediatos, alguns alunos acabam por sofrer com lesões osteomusculares provenientes da falta de critério técnico e uma evolução de cargas e horários de treino. O CrossFit é recomendado para todas as idades e para ambos os gêneros. A atenção deve ser redobrada porque a ele tem como verdade sua capacidade dinâmica de resultados rápidos em função da aplicabilidade técnica de diversas modalidades esportivas em um único treino diário e suas variações durante a semana de treino. Os alunos devem ter acompanhamento médico, avaliações periódicas com nutricionistas e prevenção com fisioterapia, quando necessário, após consulta médica especializada”, orienta Rodrigo Badaró.

Crossfiteiras de corpo e alma

Joseane Freire é formada em Educação Física e especialista em fisiologia do exercício. Em outubro de 2017, começou a treinar e a estudar o CrossFit para aplicar a modalidade com seus alunos. Para isso, fez um curso específico e sentiu os resultados no próprio corpo. “Escolhi o CrossFit por ser uma modalidade totalmente dinâmica e abrangente, na qual a variação de treinos é muito grande e traz ótimos resultados, tanto cardiovasculares quanto musculares e estéticos. Tenho uma filha de dois anos e, depois da gravidez, além do melhor condicionamento físico, ganhei muito na otimização do tempo, pois, nessa atividade, em uma hora, você faz um treino eficiente, que gera gasto calórico elevado e força muscular”, afirma.

image Joseane Freire (Naiara Jinknss)

Joseane também é do time que acredita não haver contraindicações nessa prática esportiva. “O que, às vezes, falta é bom senso, não somente por treinadores, mas por parte dos alunos. A evolução no CrossFit é gradativa e, quando o aluno ainda não está apto para alguns movimentos, usamos a adaptação para as principais dificuldades. Mas, certamente, o que tem atraído muito a procura por esse esporte é a rapidez com que gera resultado nas pessoas. A turma passa uma hora sem o celular na mão, respeitando os intervalos propostos no treino. Com o foco, o resultado vem mais rápido”, destaca Joseane.

A esteticista e empresária Grayce Thayanna Santos Vieira, 31 anos, pratica atividades físicas desde os 18 anos de idade, quando começou a fazer musculação. Em 2017, decidiu buscar algo diferente e conheceu o CrossFit. Como ela já havia desenvolvido afinidade com os exercícios, rapidamente, avançou de nível e, durante uma competição, sofreu uma lesão no punho. “Na competição, eu realizei muitas repetições. Como o peso estava leve para mim, acabei fazendo muitos movimentos repetitivos, que acabaram por machucar o meu punho direito”, conta. 

image Grayce Thayanna Santos Vieira (Acervo Pessoal)

O tratamento foi simples e, logo após o restabelecimento, Grayce esteve de volta ao box. “Para tratar, eu fiz fisioterapia e voltei para a musculação, visando fortalecer os músculos dessa região. Hoje, já voltei para o CrossFit, mas tomo cuidado para não forçar essa lesão. Por todas as experiências que eu já tive com o esporte, posso dizer que não tem impacto negativo para a saúde. O que aconteceu comigo foi um excesso de competição. Durante as aulas, eu nunca me lesionei”, pontua a esteticista.

Além dos limites

A atividade explora 10 capacidades do corpo humano: resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão. E, conforme ressalta o professor de Educação Física, Head Coach e proprietário de um box de CrossFit de Belém, Felipe de Lima Moura, 29 anos, esse esporte é uma excelente ferramenta de inclusão. “Durante minha graduação na UEPA, desenvolvi meu TCC sobre os benefícios do CrossFit para idosos. Já com o meu negócio, há três anos, criei o projeto Extraordinário, pioneiro em Belém no atendimento a pessoas com necessidades especiais”. 

Envolvendo deficientes visuais, cadeirantes, pessoas com má formação congênita, deficientes auditivos e com síndrome de down, o projeto adapta a prática às individualidades de cada aluno. “Porém, mesmo com essas adaptações, nosso objetivo é mostrar que todos podem ir além de onde podem imaginar. O projeto faz jus ao nome, pois revela que cada um, independente de sua limitação, não só pode como deve ser extraordinário. Obtivemos vários resultados expressivos e o principal é oferecer aos alunos, saúde, qualidade de vida, autonomia e independência. De forma concomitante, eles alcançam benefícios estéticos, como o emagrecimento, redução de gordura, aumento de massa muscular, que também previnem doenças como obesidade, gastrite, diabetes, depressão etc”, ressalta Felipe. 

Além dos resultados do dia a dia, conquistas vieram em competições. “Alcançamos vitórias na corrida do Círio, na categoria cadeirantes. Um aluno deficiente visual participou da corrida do Círio, fazendo o percurso de 10km. Além disso, realizamos o 1° campeonato de LPO (Levantamento de Peso Olímpico) para cadeirantes no Brasil. Enfim, o CrossFit é uma ferramenta de transformação e, durante os treinos, independente de o aluno ser atleta profissional ou amador de algum esporte, trabalhamos para que ele aprenda a técnica correta, que possa executar todos movimentos ‘limpos’ e com segurança”, reforça.

CrossFit sobre rodas 

Com muita força nos braços e força de vontade maior ainda, o acadêmico de Administração e paratleta Rildo Carlos Pinto Saldanha, 30 anos, encontrou no CrossFit uma extraordinária forma de elevar ainda mais os seus resultados. Ele possui má formação congênita dos membros inferiores e, desde pequeno, precisa do auxilio da cadeira de rodas para sua locomoção. Ele deseja ir longe. “Pratico CrossFit há pouco menos de 5 meses, mas a conexão com esse esporte foi intensa e já tenho planos de entrar em competições nacionais e internacionais. A princípio, seria apenas um trabalho de base para os esportes que já pratico, que são o atletismo e o basquete em cadeira de rodas. Mas, a cada treino, o CrossFit vem me conquistando e quero ser o pioneiro nessa modalidade no estado do Pará”, dispara.

image Rildo Carlos Pinto Saldanha (Naiara Jinknss)

Rildo destaca que, os benefícios desse pouco tempo já têm sido importantes dentro e fora dos treinos. “As mudanças que a atividade me trouxe são visíveis e têm me ajudado muito nos outros esportes, pois ganhei mais potência e força. Isso sem falar na minha mobilidade diária pelas ruas de Belém, que não são fáceis para quem tem alguma dificuldade de locomoção. No início, eu tive muito receio pela fama que tem de ser uma atividade de muitas lesões. Mas observei que, se você tem ao seu lado um profissional qualificado, que respeita as suas limitações, o risco é muito menor. Com certeza, eu o indico como atividade para atletas de alto rendimento, que desejam melhorar seu desempenho, quanto para atletas de fim de semana, que buscam cuidar da saúde. É um esporte dinâmico, que vai melhor muito o condicionamento físico de seus praticantes”, conclui Rildo.

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