“Estou em minha melhor fase!”

Lorena Filgueiras
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O anúncio do remake de Pantanal, que irá ao ar pela TV Globo, deixou o Brasil em polvorosa na última semana. A icônica novela, exibida pela extinta TV Manchete, em 1990, foi um marco da teledramaturgia brasileira, pelos temas abordados, e fez história ao ser gravada distante do eixo Sul-Sudeste do país, ao mesmo tempo em que sua trama apresentava mitos do folclore pantaneiro. Uma onça, ou melhor, uma mulher que se tornava onça, Juma Marruá, foi a estrela principal do folhetim. Cristiana Oliveira, que deu vida a ela, foi colocada nos trending topics das redes sociais (que não existiam à época) depois de o próprio autor, Benedito Ruy Barbosa, também afirmar que estava em busca de uma atriz para o papel, outrora ocupado por nossa entrevistada especial deste domingo. Em uma conversa muito animada e sincera – como a atriz fez questão de reafirmar algumas vezes – ela falou sobre todo o barulho em torno da nova versão de Pantanal, de sua carreira, futuros projetos, deste período pandêmico e, às vésperas de completar 57 anos, declarou viver a melhor fase de sua vida. Afirmou ainda que a nova produção tem a obrigação de trazer à tona o debate sobre a preservação da natureza. De sua casa, na capital paulistana, Cristiana bateu esse papo delicioso conosco, enquanto se ocupava do café da manhã para o neto (sim, ela tem neto e nunca esteve tão bonita quanto agora!).

Troppo + Mulher: Fomos surpreendidos com a notícia do remake de Pantanal e a expectativa toda está em torno de quem viverá a personagem Juma Marruá - tens tuas preferências? Arriscarias elencar características e qualidades necessárias à interpretação deste papel? Apostas num nome consolidado ou desconhecido?
Cristiana Oliveira: A Juma do Benedito tem alma própria. A Juma que eu vivi tinha o meu cabelo, o meu olhar, os meus trejeitos. Foi algo que eu criei, como todos os atores têm uma liberdade para criar, em cima do que oferecido, através do texto. Eu acho que... já dei algumas opiniões, mas pensei melhor. Acho que quem tem que definir isso é o Benedito [Ruy Barbosa, autor da novela], junto com o Ricardo Waddington e o papinha [apelido do diretor Rogério Gomes]. A partir do texto magnífico e criação do Benedito, penso que ele pensou já em alguém, um tipo de atriz, um tipo de mulher... Eu falar alguma coisa, quando se trata de um novo projeto, de um novo momento, de um novo Pantanal... infelizmente. É muito triste ver o Pantanal passar por esse desastre. Tudo é diferente! Já me arrisquei a falar, agora não falo mais! [ela ri] É importante que eles tenham essa liberdade. Eu acabei sendo escolhida por um motivo que eu não sei! Talvez porque eu tenha brigado muito por esse papel! Me fiz muito presente e criei o cabelo, que já era meu... olhava fotos de bichos e percebi que o olhar deles sempre é de alerta. Há uma desconfiança no olhar deles...

“Já me arrisquei a falar, agora não falo mais! [ela ri] É importante que eles tenham essa liberdade” – sobre a escolha de nova atriz para viver Juma.

T+M: E que retrataste muito bem, porque tu mesma tens esse...
CO: Olhar de gato, não é? Pois é! Foi uma construção muito pessoal. Lembras daquelas pesquisas de colégio, como as fazíamos antigamente? A gente recortava revistas, várias. Fazia colagem... foi o que fiz! Não havia internet na época e nunca tinha visto um animal de perto e foram essas fotos de revistas que me ajudaram a ter a noção do olhar de um animal – que é o olhar da Juma. A personagem está na mente dessa geração que tem a partir de 40 anos – mas aquela Juma não tem nada a ver com uma pantaneira! Eu não tinha cabelos negros, pele bronzeada. Muito ao contrário: branquela, cabelos castanhos, mas rolou uma simbiose enorme com a personagem e até hoje nem eu sei muito bem como aquilo aconteceu!       

T+M: Muitas atrizes, que viveram papéis icônicos, têm um certo apego às personagens e, desde que o remake foi anunciado, percebo você falando com muita tranquilidade a respeito. Tens ciúme da Juma?
CO: Nenhum! Sou muito madura! [ela ri] Não cultivo sentimentos que não me levam a lugar algum! [ela interrompe momentaneamente a entrevista para falar com o neto] Vou ser bem honesta com você. Penso da seguinte forma: a Juma, a primeira, está lá, registrada. Na memória coletiva, no YouTube. O momento passou, mas está guardado.  

T+M: Alguma possibilidade de você estar no remake, interpretando uma outra personagem da trama?
CO: Amor, não me pergunta isso! Deixa eles escolherem. Não me sinto à vontade, embora saiba que na novela há outros personagens maravilhosos, que eu adoraria fazer, mas qualquer outra atriz também! O Benedito tem todo direito de escolher. Por enquanto, qualquer coisa que se diga, é pura especulação. 

T+M: A novela fez história por ser gravada longe do eixo Sul-Sudeste do país, abordar mitos e explorar a natureza. Na época também não havia redes sociais e os mecanismos de controle ambiental talvez nem existissem ainda. Num momento em que o pantanal arde em chamas, é importante que se fale sobre a necessidade de preservação daquele bioma... 
CO: Tem que ter! Não tem como desligar uma coisa da outra! Estamos falando de um bioma, de uma riqueza que está sendo devastada. Se você não tem floresta, fauna, flora, não tem oxigênio. Já tem 19% do Pantanal queimado. Isso é muito sério! Não tem como não abordar! 

T+M: A gente tem falado muito, neste tempo tão desafiador, sobre como a arte e artistas sairão diferentes deste momento, por inúmeras razões. Como sairás disso? Como achas que o mundo sairá? 
CO: Olha, eu sairei diferente, mais consciente e sabedora das minhas prioridades. Saio mais solidária, altruísta, não porque já não fosse antes, mas agora sou mais! Acho que boa parte de nós sairá diferente: o que poderemos fazer por quem precisa? Como ajudaremos pessoas? Qual palavra de conforto dirigiremos ao próximo? Saí pouquíssimas vezes e ficamos, aqui em casa, em quarentena mesmo, por, pelo menos uns 5 meses. As poucas vezes em que saímos, sempre de máscara, porque é importante a gente se proteger. 

T+M: Até porque, quando a gente se protege, a gente também protege ao outro. Questões como empatia têm sido muito debatidas neste momento.
CO: Você falou algo muito importante, sobre o respeito consigo mesmo e ao próximo. Não dá para não usar máscara, não adotar cuidados para evitar que a doença vitime cada vez mais pessoas. É bacana que as pessoas pensem coisas boas também, desejar positividade é muito importante. Estamos à espera da vacina, de notícias melhores, mas todo momento de dor ensina. Forçadamente, mas ensina. Foi um momento de dor para todos nós, tal como foi, a partir de tanta dor, um momento de reflexão, questionamento, autoconhecimento. Se não sairmos melhor desse momento... somos pessoas sem consciência. 

“Estamos à espera da vacina, de notícias melhores, mas todo momento de dor ensina. Forçadamente, mas ensina.”

image Cristiana Oliveira (Edu Rodrigues)

T+M: Eu me lembro de acompanhar tua batalha contra a balança e ouso dizer que te acho mais bonita agora do que antes. Em qual momento te libertaste dele e te harmonizaste contigo mesma? Qual teu lugar físico e emocional hoje, Cristiana?
CO: Uma pessoa extremamente equilibrada!

T+M: Sentiste muita pressão pelo corpo perfeito, ideal de magreza?
CO: Eu sinto a pressão até hoje. A maneira com que eu lido com ela é que é diferente! Teve época em que eu malhava até 4 horas por dia! Comia sashimi de salmão, apenas proteínas e bati no médico, porque estava fraca demais! Fiquei seca, mas me olhava no espelho e tinha aquela disformia! Estava magra e, ainda assim, encontrava defeitos no meu corpo. Paranoia mesmo! Acabei sofrendo muito com isso porque não era feliz e estava preocupada em corresponder ao olhar do outro. Eu era jovem aos 35 anos, mas queria, a qualquer custo ser magra. Depois dos 37, ao perceber o quanto aquilo tudo me fazia sofrer, comecei a tentar equilibrar minha alimentação e minha vida. Engordei, mas aprendi a lidar melhor com isso! E aprendi a exercitar um olhar mais positivo sobre tudo. Sou uma mulher às vésperas de completar 57 anos [a atriz faz aniversário em dezembro], de quem já está há 5 anos na menopausa, que engordou, mas que se cuida melhor, que faz exercícios todos os dias, mas que cuida de sua saúde mental e espiritual. É outra história! 
 
“Eu sinto a pressão até hoje. A maneira com que eu lido com ela é que é diferente! Teve época em que eu malhava até 4 horas por dia!”

T+M: A pandemia colocou em compasso de espera muitos planos - quais projetos teus tiveram de ser momentaneamente adiados? Você estreou um filme, na última sexta feira [“Por que você não chora?”, com a atriz Bárbara Paes. Cristiana vive uma psicóloga], que aborda a temática suicídio e, por que não dizer, saúde mental - assunto muito discutido especialmente nesta pandemia. 
CO: Ainda é um tabu falar de suicídio, mas precisamos discuti-lo, alertar as pessoas a respeito de uma temática tão frágil quanto dura. O filme estreou no Canal Brasil – seria nos cinemas, mas em função da pandemia, ele estreou em canal fechado. E é um filme sensível, emocionante. Convido todos a verem. Em relação aos planos futuros [ela ri], tenho dois filmes para fazer em 2021, mas, infelizmente, não posso dar detalhes ainda. Quando eu puder, conto para você! Nada é certo agora, né?

T+M: A não ser o presente!
CO: Exatamente, eu tenho vivido muito bem o meu agora. Não sou imortal e ainda não tenho bola de cristal! [ela ri] 

T+M: Já és avó, com mais disponibilidade de tempo. Como é essa “Avóternidade”?
CO: O que acontece: ele mora comigo desde que nasceu, mora comigo. Minhas filhas moram. Eu respeito muito a maternidade da minha filha, que é uma mãe que dá uma educação legal para caramba pra ele. De vez em quando, eu saio sozinha com ele e aproveito esse momento para dar aquela agradadinha de vó. [ela gargalha]

Cristiana Oliveira: Você mora em Belém, não é?
T+M: Moro!
CO: Ai, eu adoro sua cidade! Já fui aí várias vezes! Já fui umas 4 ou 5 vezes. 

T+M: Tomaste banho de rio?
CO: Ah, não. Mas fui em vários restaurantes na beira do rio. Tinha um, perto do forte [do Presépio]. Fui em 2011! Mas quando a pandemia passar, quero ir aí e vamos bater outro papo pessoalmente! [risos]. 

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