Educação financeira: começa em casa e é para toda a vida

Se você se assusta a cada novo boleto e não faz mais ideia de quanto gasta por mês, está na hora de discutir a relação com suas finanças.

Rodrigo Cabral

Último final de semana de outubro e você tá como? Contando os dias para a chegada do quinto dia útil do mês que vem? Conseguiu equilibrar despesas e receitas e está com uma reserva para se manter até o próximo salário? Ou você está entre aqueles que preferem não tocar no assunto? Se for isso, cuidado. Uma das principais dificuldades para se alcançar o equilíbrio financeiro está justamente em não ter tempo ou interesse para descruzar os braços, botar a mão na consciência e segurar o bolso. Sim, realmente, tempo é dinheiro. E você pode encontrar diferentes interpretações para essa frase, mas precisa ter a certeza de que é fundamental dedicar momentos específicos, periódicos e programados para pensar, falar e agir sobre suas finanças. Além dos tradicionais cadernos de anotações e planilhas, hoje, ainda podemos contar com diversos aplicativos que ajudam nessa organização do orçamento familiar.  

A educadora financeira Ana Ferrari, 38 anos, destaca que as famílias precisam estabelecer um dia da semana ou do mês para conversar sobre as finanças da casa. “É muito importante ter uma visão clara sobre o que se gastou, se as receitas foram completas, elencar as contas e prazos a pagar. Eu sei que, às vezes, as pessoas não gostam de abordar esses temas, pois acham chatos, mas você pode fazer isso de forma diferente. Pode começar a conversa perguntando o sonho de cada pessoa que compõe o núcleo familiar e estabelecer metas para realizá-los. Isso deixa o assunto mais agradável e, a partir de então, avançamos para os números. Não tem jeito, é preciso botar na ponta do lápis mesmo. Precisa saber exatamente quanto se ganha e buscar a definição de um padrão de vida. Por exemplo, se eu desejo ter um certo padrão, devo buscar fontes de renda para arcar com ele. Agora, se eu constatar que não há, em curto prazo, como ampliar as receitas, então preciso fazer uma adequação desse padrão de vida. E isso deve ser decidido em família”, explica.

Ana é graduada em Administração de Empresas e em Sistemas de Informação. Na construção de sua carreira, buscou especializar-se em gestão empresarial e terapia financeira. Mas, como ela mesma destaca, equilibrar as finanças é algo que deve se aprender, ainda, na educação infantil. “É imprescindível ter educação financeira desde a infância. Hoje, já há essa abordagem em algumas escolas particulares e, a partir de 2020, já foi estabelecido pelo MEC a integração desse tema na grade curricular, desde as séries iniciais. A educação financeira pode – e deve – começar cedo. De uma forma lúdica, claro, e a intensidade vai evoluindo de acordo com a faixa etária. Além disso, também recomendo fazer com que as crianças participem da tomada de decisões em casa. É óbvio que elas não vão conseguir trazer receita, mas podem deduzir despesas. Ou seja, vão aprender a economizar água, luz e começar a ter consciência de aquisição”, orienta a educadora financeira.

image Ana Ferrari (Arquivo Pessoal)

Em março deste ano, o endividamento das famílias brasileiras foi o maior, desde o ano de 2015, chegou a 62,4%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O mesmo estudo indicou que o cartão de crédito é o responsável por 78% das dívidas. 

Para mudar esse quadro, a consultora Ana Ferrari dá algumas dicas: “O primeiro passo é se organizar e fazer o seu orçamento financeiro. Visualize o salário líquido (ou a renda familiar), anote todas as despesas (fixas e variáveis) e relacione todos os valores das dívidas, todos mesmo, desde débitos a bancos, cartões de crédito ou empréstimos feitos com parentes. Só depois disso, você poderá saber quanto dispõe ou vai precisar para sanar o que deve. Dependendo da necessidade, recomendo algumas ações simples, como trocar despesas. Por exemplo: se eu pago uma TV a cabo, mas não uso muito porque trabalho o dia inteiro, posso cancelar essa assinatura e assistir mais filmes pela internet. Com isso, consigo direcionar o valor da mensalidade da TV para pagar as parcelas da dívida que virei a negociar. Mas existem outras saídas, como se dispor a fazer atividades extras ou até buscar uma linha de crédito com juros menores para quitar todas as dívidas e administrar apenas uma amortização de empréstimo”, ensina. 

Mudança de hábitos - O representante comercial Fabio Silveira Costa, 37 anos, nasceu no Rio de Janeiro, morou em São Paulo e, há cinco anos, mora em Belém. Além das mudanças de estado, para alcançar seus objetivos, ele precisou transformar seus hábitos. “Como a maioria dos brasileiros, eu não tive uma orientação financeira em casa ou na escola. Minha educação foi baseada em estudar, trabalhar e comprar uma casa. Como já almejava outros patamares, chegou um momento em que eu senti uma grande necessidade de contar com uma orientação específica. Procurei aconselhamento profissional e, com isso, passei a ter outra visão sobre o dinheiro. Sabendo para onde ia cada centavo que eu gasto, comecei a planejar e ter uma visibilidade melhor do futuro. Os resultados são notáveis. Hoje, tenho metas realizadas sem endividamento e já sei quando vou atingir as próximas”, afirma.

Com um maior controle de seu orçamento, Fábio já alcançou um novo patamar. “Quando você consegue regular suas contas pessoais, naturalmente começa a ter uma sobra de capital. A partir desse momento, decidi aplicar o excedente em investimentos, que vão de Tesouro Direto a investimento em multimercados e estou bastante animado com isso. Nunca é tarde para começar. Porém, acredito que, os pais devem direcionar os seus filhos para buscar o equilíbrio financeiro desde cedo, para que sejam adultos com consciência e sabedoria sobre onde melhor investir ou gastar seu dinheiro”, avalia o representante comercial.

Coragem para sonhar e determinação para realizar
Parece que as novas gerações já estão mais atentas. A abaetetubense Ana Laura Quaresma tem 23 anos. Hoje publicitária, ela começou a economizar quando ainda estava na faculdade. “Quando me mudei para Belém, eu recebia um valor semanal dos meus pais. Então, tinha que controlar o que gastava para o dinheiro render até a semana seguinte. Depois iniciei no estágio, guardava dinheiro para pequenos objetivos, viajar para um congresso, comprar o celular que eu queria etc. Quando comecei a trabalhar, economizava, mas não tinha muito método. Apena guardava na minha conta bancária. Na época, as pessoas passaram a falar mais sobre aplicações, alguns amigos já estavam investindo. E foi ali que eu criei conta na corretora e comecei a investir no Tesouro Direto, pra alcançar meus objetivos a longo prazo”, detalha a publicitária. 

Com muita informação disponível, ela procurou aconselhamentos em seu círculo de amigos e, claro, na internet. “Para começar, pedi orientações aos amigos que já investiam. Mas, também, procurei informações no YouTube, no canal Me Poupe, da Nathalia Acuri. Assisti muitos, muitos vídeos dela para entender qual era meu perfil de investimentos e o que combinava com o que eu queria, qual modalidade do Tesouro atendia as minhas necessidades naquele momento. Depois vi vídeos mais práticos, mostrando como se investia. Comecei a pensar mais nos meus objetivos ‘grandes’, eles tornaram-se mais possíveis pra mim. Quando a minha primeira carta do tesouro sair, eu já terei dinheiro pra me mudar (do país) e me manter por um tempo, ou fazer o meu mestrado”, conta a jovem investidora. 

O planejamento financeiro continua ajudando Ana Laura a alcançar suas metas no presente, como pagar sua pós-graduação. Ela reserva 30% do seu salário para os investimentos e vive como se recebesse apenas os 70% restantes. E sua lista de metas é, digamos, renovável. “Tenho objetivos até o fim do ano, como trocar de computador, e objetivos de vários anos, como eu citei anteriormente, de me mudar e fazer mestrado. Ainda não penso em guardar para aposentadoria, mas imagino que, ao longo do tempo, as metas e as prioridades vão mudando e o planejamento se renovando. Pensar em como gastamos é pensar no que é importante pra nós. Pra mim, é importante ter segurança financeira para tomar decisões mais independentes, menos condicionadas. Dessa forma, podemos focar no que queremos para o futuro e ter a possibilidade de cumprir as nossas responsabilidades da vida cotidiana e, ainda assim, realizar os nossos sonhos”, arremata.

Votando a falar sobre a importância do tempo, a educadora financeira Ana Ferrari deixa uma reflexão: “para se buscar o equilíbrio financeiro, é importante olhar para o passado para saber o que deu certo e o que não se deve repetir; viver o presente de forma consciente e sustentável; e não esquecer que você tem um futuro e precisa se preparar para ele. Com todas as mudanças que estão se cogitando em relação à aposentadoria, deve-se buscar alternativas para garantir qualidade de vida na longevidade”, conclui Ferrari.

Para saber mais:
@anaferrarieducadorafinanceira

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