Outubro rosa: mais que uma sentença, o câncer ensina a ressignificar a vida

Lorena Filgueiras
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O outubro rosa foi criado, no começo da década de 90, como um movimento internacional pela conscientização ao controle do câncer de mama e hoje é uma referência global, um chamado aos autocuidados e prevenção ao câncer que de maior incidência entre as mulheres: o de mama. 

O sorriso estampado no rosto de Gemille Sales é, sobretudo, o sinal de quem enxerga a vida, sob os melhores prismas. Otimista convicta, nem o diagnóstico de câncer de mama, em abril de 2018, foi capaz de tirar seu sorriso. Bailarina de formação e professora de dança, e com dois filhos (um de 17, o outro, de 5) nossa entrevistada não sentiu qualquer tipo de sintoma, mesmo com uma rotina pesada a cumprir, entre as salas de aula, academia e o papel de dona de casa e mãe. Em fevereiro de 2018, ela percebeu um nódulo no seio e o diagnóstico foi confirmado dois meses depois. A cirurgia veio em junho, seguida do início da quimioterapia. 

Mesmo afastada das aulas e da academia, Gemille não parou de fazer atividades físicas e passou a exercitar-se em casa. Fazia os alongamentos e enviava vídeos para as amigas. Importante dizer, a esta altura do texto, que não havia casos de câncer na família dela. “Venho de uma família de cardíacos e acreditava que ia morrer do coração, mas fui surpreendida pelo câncer de mama. A notícia foi inesperada e forte, mas sempre enfrentei com pensamento positivo”, afirma. A leveza de humor permanecia inalterada – arriscamos dizer que foi intensificada, já que durante sua recuperação, a bailarina começou a dar pequenas palestras e, sempre que podia, participava de rodas de conversas sobre o câncer. Quando os médicos a liberaram, ainda durante o tratamento, para voltar a frequentar academia, Gemille abraçou a oportunidade e tornou-se uma defensora da prática de atividades físicas durante a recuperação. Acabou por aí? De jeito algum! Ela formou um grupo de Dança do Ventre com 10 mulheres, todas em tratamento. “É mais que dançar: é uma troca de experiências e de apoio constante”, garante ela, que, mesmo depois de vencer a doença e terminar o tratamento, continua no grupo. “O câncer me ensinou que a gente não sabe o dia de amanhã. Sempre me cobrava demais, tinha que dar conta de tudo, era ansiosa demais. Hoje, sou mais calma, não me cobro excessivamente, mas vivo intensamente o hoje e não adio mais o que eu sinto vontade de fazer, meus sonhos. Se quero viajar, não espero pelo próximo ano, já programo e vou”, ensina. “Ter que conviver com o câncer de mama não me limitou, apenas tenho cuidados especiais. Eu procuro levar uma vida normal. Eu quero mostrar para todo mundo que minha vida não parou por causa do câncer”, afirma.

Ao contrário de Gemille, que não tinha registros de câncer na família, a advogada (e professora) Lumilla Bordalo tinha suas razões para monitorar a saúde com maior frequência. O pai, José Carlos, 75 anos, teve câncer de laringe; a mãe, Elizabeth, 73 anos, teve câncer de pulmão. Além deles, 3 tias, a avó paterna e a irmã, Cyntia, enfrentaram o mesmo mal e, em função de todo esse histórico, ela nunca se descuidou.

No dia das mães de 2018, ela percebeu um nódulo na mama. Hoje, olhando em retrospecto, Ludmilla considera a descoberta um presente, já que foi o diagnóstico precoce que permitiu tratar a doença ainda no começo. Ela lembra que a mamografia apontou como sendo uma alteração no linfonodo axilar, mas que no ultrassom não aparecia. Ludmilla precisou insistir com o médico para localizar o nódulo, mostrou o local e só então, conseguiram identificar e confirmar o tumor.

O diagnóstico oficial com resultado da biópsia foi no dia 22 de maio de 2018, aniversário da filha Isadora.
Fez mastectomia dupla, com reconstrução, na mesma cirurgia e no dia 18 de junho, começou o tratamento quimioterápico. Foram 4 sessões de quimio vermelha quinzenais e 12 sessões de quimio branca semanais. A última foi no dia 5 de novembro. Ludmilla está bem e só lamentou ter parado o que mais gostava de fazer para poder se dedicar ao tratamento: praticar kitesurf. Uma ausência que foi resolvida no final de junho, com muita felicidade. Ela e o marido planejaram uma viagem só para realizar isso.

A doença ensinou à Ludmilla que não vale a pena se apegar a coisas pequenas ou se aborrecer com bobagens. As coisas ganharam mais valor e ela não se permite ficar chateada à toa. 

Por causa da Ludmilla, todas as mulheres da família fizeram os testes genéticos para verificar se tinham mutação para câncer de útero e mamas. Apenas a irmã Renata e uma prima tiveram resultados positivos. Renata já operou para retirar útero e ovários e já planeja a retirada das mamas.

O aumento dos casos de câncer de mama, a cada ano, soa um alerta necessário. O mastologista Fábio Botelho afirma que o crescimento não se dá apenas no Brasil – mas no mundo inteiro. “Esse crescimento, que é de cerca de 2% ao ano, ocorre por várias razões. Primeiro, porque a expectativa de vida das pessoas também continua aumentando e idade é fator de risco para câncer. Outros fatores importantes estão diretamente relacionados com a vida moderna. Hoje, as mulheres têm filho mais tarde e em quantidade menor do que suas mães e avós. Obesidade, sedentarismo e consumo de bebida alcóolica também aumentaram entre as mulheres e tudo isso aumenta o risco de ter câncer de mama”, explica. 

Uma das informações mais importantes é a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia, que recomenda que toda mulher, a partir dos 40 anos, tenha uma consulta com o especialista e faça a mamografia anual. “Essas são as principais providências da chamada prevenção secundária. Ou seja, aquela que pode assegurar o diagnóstico precoce, que significa chances de cura superiores a 95%. Prevenção primária, a que diminui as chances de a mulher ter câncer de mama, é não fumar, combater a obesidade e o sedentarismo e ter uma alimentação saudável. Tudo isso é muito importante”, explica o mastologista. Mesmo com tanta informação, o médico ressalta que o Outubro Rosa é um movimento que ainda salva vidas. “As dificuldades são maiores no sistema público de saúde, sem dúvida. Se a consulta com o especialista demora demais, se a mulher não consegue fazer a mamografia, que é o principal exame de rastreamento - como acontece com muita frequência no Brasil - isso pode fazer toda a diferença entre viver e morrer. A mulher que tem plano de saúde às vezes também não consegue marcar uma consulta tão rapidamente, mas a dificuldade dela nem se compara com a da mulher que depende do SUS. Sobre informação, a quantidade é crescente. “O Outubro Rosa, por exemplo, é um movimento bem sucedido, mas, no Brasil, ainda existem muitas mulheres desinformadas e informação salva vidas”, finaliza. Um lembrete, em uma cor suave, para garantir a vida em tantos outros tons vivos. 

Os homens e o câncer de mama
Cerca de 1% dos casos de câncer de mama são masculinos. Como o percentual é muito pequeno, não se preconiza ações de prevenção para os homens, mas é bom observar os sinais e os mais comuns são parecidos com os que as mulheres podem ter: um inchaço, geralmente, indolor; pele ondulada ou enrugada; retração do mamilo; vermelhidão ou descamação da pele da mama ou do mamilo e inchaço nos linfonodos axilares.

Para saber mais:
outubrorosa.org.br

instagram @cto_pa

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