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Como você tem dormido?

Flávia Ribeiro

Vira para de um lado para o outro da cama. Levanta, lê, liga o computador, responde e-mails. Quando percebe, a casa, que estava no escuro, começa a ser iluminada por mais um dia. Soou familiar? Essa é a rotina de muitas pessoas e esse número cresceu durante a pandemia da covid-19. A insônia é um problema de saúde pública que potencializa o risco de outras doenças e que, por isso, não deve ser ignorada pelo paciente.

A presidente da Associação Brasileira do Sono/PA, Maria Claudia Soares, explica que a insônia pode ser caracterizada como aguda, quando a sintomatologia ocorre ao menos três vezes na semana por um mês. Ou crônica, se persistir por mais de três meses. “Segundo a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, em sua 3ª edição, a insônia pode ser definida como uma dificuldade persistente de iniciar e/ou manter e/ou ainda despertar precoce pela manhã com dificuldade em retornar ao sono, à despeito de adequada oportunidade e circunstância para adormecer, resultando em um prejuízo diurno, sem condição médica ou medicamentosa associada”, diz a médica.

As causas para os distúrbios são complexas, pois abrangem vários fatores. “De forma didática, dizemos que envolve ‘3 Ps’: fatores predisponentes (genético, gênero feminino), precipitadores (doenças clínicas associadas, dor, incontinência, conflitos pessoais, preocupações familiares, financeiras, profissionais, nesse momento de pandemia, esse fator se potencializou muito) e perpetuadores (má higiene do sono, associações cognitivas negativas com o sono, como por exemplo, o anoitecer passa a ser angustiante, o quarto gera sensações desagradáveis), criando-se assim, um ciclo vicioso de ansiedade e alerta” comenta Soares.

image Claudia Soares (Arquivo Pessoal)

Ela ainda pontua que o distúrbio pode se manifestar em qualquer idade. Inclusive bebês podem apresentar, e que é mais prevalente em mulheres, principalmente após a menopausa, em indivíduos com transtorno de humor, com história familiar de insônia e naqueles com personalidade mais perfeccionista e ansiosa. O diagnóstico é clínico e muitas vezes é necessário mais de uma consulta para abranger e detectar todos os aspectos envolvidos. Além disso, ainda são usados questionários específicos e, em alguns casos selecionados, exames complementares, como actigrafia e polissonografia.

Depois de confirmar o diagnóstico, é essencial começar o tratamento. O recomendável é que seja realizada a Terapia Cognitiva Comportamental para insônia, com psicólogo capacitado, associado ou não a medicamentos específicos, e cujos usos contínuos devem ser desencorajados. “A insônia não é um problema da noite. Uma boa noite de sono é construída ao acordar, sendo assim, tratar a insônia somente com remédios para dormir, é um erro”. Além disso, o paciente deve estar consciente de que suas expectativas devem estar alinhadas ao plano terapêutico. “Muitas vezes, é criado o mito do sono ideal, com parâmetros muitas vezes inatingíveis para aquele indivíduo. Quando bem diagnosticada e tratada com bases científicas, havendo um comprometimento do paciente, os resultados são promissores”, alerta a médica.

Não há um tempo definido para o tratamento, já que ele depende de muitas variáveis e do perfil de cada paciente. Mas não se pode ignorar o distúrbio, pois pode-se desencadear outros problemas, como fadiga, déficit de memória, atenção e/ou concentração, perda da motivação, alterações de humor, cefaleia, distúrbios gastrointestinais, hipertensão arterial, arritmia, resistência à insulina, ansiedade, preocupação excessiva com o sono, ruminação de pensamentos, entre outros.

Quarentena insone

Soares ressalta que a pandemia tem alterado o sono de muitas pessoas e que o fenômeno tem sido chamado de "coronasomnia". Um levantamento feito pelo Instituto do Sono, em São Paulo, revelou que 55% dos entrevistados alegaram piora de qualidade de sono durante os meses de quarentena. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Sono com 4900 profissionais de saúde, mostrou que 41% deles queixaram-se de piora do padrão de sono. “A junção de ansiedade, excesso de telas e falta de rotina criou um terreno fértil para a piora da qualidade de sono”.

Uma das pessoas que tem sentido dificuldades é o cantor Vinícius Honorato. Ele faz parte de uma das categorias mais impactadas pela pandemia. “Sempre tive ansiedade, porém, piorou com a pandemia. E agora, veio a insônia. Como trabalho com música e foi um dos primeiros setores a parar; e um dos últimos a voltar com trabalho, essa incerteza com o futuro atrapalhou muito” comenta.

Antes, ele tinha uma média de oito horas de sono, mas nos últimos meses chegou a passar a noite sem dormir. Com a retomada das atividades, ele já tem trabalhado por meio de lives e começou a busca por tratamento. Marcou horário com psicólogo e vai iniciar terapia.

Outra pessoa que só teve dificuldades para dormir neste ano é Fábio Contente, advogado. “Nunca sofri com isso, mas as incertezas da pandemia... É um vírus novo, as atividades de trabalho pararam. Como sou grupo de risco tive que vir para home office. Então, é uma série de incertezas. Do nada, a rotina que eu tinha, que era extremamente intensa, foi reduzida a um confinamento. Isso gera uma questão psicológica que me levou à insônia. Dificuldade para pegar no sono, acordava e perdia o sono. A cabeça vai a mil” diz.

Ele já fazia tratamento para o sono, mas para apneia e dormia com qualidade por sete horas. Com a pandemia, passou a dormir entre três e cinco horas de sono. “É a demora para pegar no sono ou acordava de madrugada e não dormia mais. Durante esse tempo, você vai ler, vai para o computador e vê se tem e-mail para responder”, comenta.

Uma das consequências da dificuldade de dormir foi a baixa resistência. O advogado conta que já fez cinco exames para Covid-19 e todos deram negativos. Agora, ele voltou a trabalhar parcialmente. Já está começando a fazer redução de remédio. E se sente melhor.

Tempos de coronasomnia

Os distúrbios do sono decorrentes da condição pandêmica receberam o nome de "coronasomnia". A reportagem publicada pelo jornal norte-americano The Washington Post no último 3 de setembro trouxe que a “coronasomnia tem profundas ramificações na saúde pública e está criando uma nova população maciça de insones crônicos que lutam com os declínios na produtividade, pavios mais curtos e maiores riscos de hipertensão, depressão e outros problemas de saúde. É fácil ver por que as pessoas não conseguem dormir. A pandemia aumentou o estresse e perturbou as rotinas.

O texto informa que houve um aumento de 15% nas prescrições de medicamentos para dormir, entre fevereiro e março, nos Estados Unidos. Cientistas afirmam que a insônia traz repercussões na qualidade de vida das pessoas, pois é considerado o terceiro pilar de uma saúde sustentável, ao lado de boa alimentação e exercícios físicos.

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