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Como lidar com a quarentena?

Lorena Filgueiras

O isolamento social imposto pelo cenário atual (enquanto cientistas correm contra o tempo, em busca da vacina para o Covid_19) fez com que inúmeras famílias se apartassem e se isolassem, de modo a conter o avanço do vírus. A mudança radical e repentina de hábitos não permitiu que nos preparássemos, fazendo com que alguns gatilhos de ansiedade fossem disparados. Como lidar com tantas adversidades? A Troppo + Mulher foi em busca de algumas respostas.

Em meados de 2019, a Organização Mundial de Saúde divulgou um relatório que apontou: o Brasil era o país mais ansioso do mundo. A epidemia da ansiedade, segundo a OMS, afeta quase 19 milhões de brasileiros. O total representa pouco mais de 9% da população e deste percentual, quase 8% são de mulheres – as mais afetadas pela epidemia. Entre os outros números divulgados à época, um dado alarmante: 260 milhões de indivíduos convivem com algum transtorno de ansiedade em todo o globo. 

Saúde mental é um tema recorrente nos dias atuais. Qualidade de vida tem muito, tudo a ver com saúde mental e a preocupação maior dos profissionais ligados a essa área (psicólogos, psiquiatras, terapeutas) são os gatilhos que a quarentena do isolamento pode disparar. “Essa é a questão principal: como preservar a saúde mental em tempos de coronavírus”, inicia a psicóloga (e nossa colunista) Zildinha Sequeira. “O risco de contaminação, as incertezas, o isolamento e o desemprego têm causado muita ansiedade. Imagine as pessoas que vivem da economia informal? Primeiro, é importante que se diga que este é um momento decisivo: ou a sociedade assume a situação como um todo, com todos juntos, para que atravessemos a situação com união, tentando minimizar os danos”, afirma.

image Zildinha Sequeira (Arquivo Pessoal)

Para Zildinha, este é o momento de a sociedade exercitar a solidariedade e, principalmente, mesmo isolados, de manter o contato com as pessoas. “Precisamos viver um isolamento interativo – não trancados dentro do quarto”, diz. O objetivo, ainda segundo ela, é evitar uma solidão vivida coletivamente. “Arrumem a casa. A ordem da casa é ordem na vida. Arrume os armários, as gavetas. Isso é um importante elemento de organização do nosso mundo interno, de nossas sensações, dos sentimentos”. 

O alerta de Zildinha faz muito sentido, uma vez que o isolamento, por si, deve deflagrar uma certa angústia, mas não pode (nem deve) ser confundido com solidão. “A ordem é clara: não saia de casa, mas coloque um som na vitrola, dance com a esposa e as crianças. Combine vídeo chamadas com os amigos; combinem de assistir o mesmo filme – cada um em sua casa. Não permitam que seus filhos se isolem nos quartos, dentro de casa. Temos de nos cuidar mais: do alimento, do corpo e do sono. O sono, aliás, é um importantíssimo regulador da saúde mental”, alerta.

Zildinha também faz um apelo ao estabelecimento ou manutenção de uma rotina: para acordar, trabalhar, cuidar da casa, cozinhar. “Tirem o pijama, saiam dos quartos e se empenhem em novos projetos, como aprender um novo idioma, um curso on-line de Gastronomia, montar playlists”.

Atendendo a normativas e resoluções dos conselhos federal e regional de Psicologia, os profissionais estão priorizando os atendimentos virtuais. “Tenho conversado com cada um dos meus pacientes, explicando para eles que, enquanto não temos uma vacina, faremos os atendimentos por chamadas de vídeo. É mais seguro para eles, para mim e para todos. Se você sentir que seu nível de estresse ou cortisol estiver muito alto, procure ajude. Há inúmeros colegas disponibilizando-se a realizar as consultas por vídeo chamadas”, finaliza.

Atenção à ansiedade na alimentação

A professora da Faculdade de nutrição da UFPA Naíza Bandeira Sá alerta que os distúrbios alimentares têm aumentado tanto entre homens, quanto mulheres, começando na infância, inclusive. Por essa razão e especialmente neste período de quarentena, é imprescindível observar com atenção nossos hábitos alimentares. “As pessoas precisam entender que há vários tipos de fome: física, emocional, social, entre outros. A fome física é a fome fisiológica, que é saciada com qualquer tipo de alimento. A fome emocional é quando você come em resposta a uma emoção.

Come-se quando está feliz, triste, quando não tem nada para fazer, simplesmente. É preciso ficar atento porque a fome emocional, quando muito acionada, pode levar ao comer transtornado ou a um transtorno alimentar. O comer transtornado é quando você tem uma relação não-saudável com a comida, não chegando a ser um transtorno alimentar, como anorexia, bulimia ou compulsão alimentar, por exemplo. O comer social não é tão comum neste tempo de quarentena”, explica. 

A principal dica, segundo a profissional, é tentar identificar qual é o seu tipo de fome? Fisiológica ou emocional? Se emocional, qual é o seu gatilho? E os gatilhos podem ser diversos. 

“As pessoas estão ansiosas e ociosas também, sem uma rotina. Sem algo para fazer, vai acabar comendo mais por gatilhos emocionais”, ela avisa. No que tange às técnicas possíveis, Naíza diz que a atenção plena ajuda muito a focar no momento de comer. Outra opção é avaliar, numa escala de 0 a 10 a intensidade da sua forme, e recomenda-se que se coma quando ela estiver em 6 ou 7, porque aí ainda é possível fazer boas escolhas alimentares. “Mais que isso, nosso corpo pedirá mais gordura e alimentos mais doces. É possível usar o tempo da quarentena para voltar as atenções ao seu corpo e ao ato de comer. Costumo falar para as pessoas que se elas forem comer uma fruta, que você olhe com atenção, que observe as texturas. É um ato de descoberta e curiosidade, bem parecido com o das crianças, quando elas começam a perceber mais esses detalhes. Os adultos perderam muito esse hábito – comem em frente à TV, pensando em outras coisas. E esse é um tempo a ser resgatado. O comer precisa ser associado ao prazer e precisa ter atenção plena!”, finaliza.

Para conhecer mais:
@zildinhasequeira

@naizabandeirasa


Rita Lee, uma das rainhas do rock nacional, falou sobre sua quarentena, uma vez que pertence ao grupo de risco e, de quebra, ainda compartilhou dicas valiosas para cuidar e preservar a saúde mental.

"Eu, que pago para não sair de casa, que só saio da toca em caso de emergência, tenho algumas dicas para você se distrair enquanto estiver em isolamento forçado. Há 8 anos vivo enfurnada e há sempre coisas interessantes para fazer. Nada melhor do que ter a companhia de bichos, que oferecem serenidade e alegria: cuidar e brincar com animais faz o tempo passar de maneira mais divertida. Arranjar uma mudinha de planta e acompanhar o crescimento dela é emocionante. Aproveite e plante em vasinhos: cebolinha, salsinha, tomates-cereja... até alface. Descole uma orquídea, ainda com brotinhos, para acompanhar o desabrochar, lindamente, dia a dia.

Espalho telas e tintas sobre uma mesa e me arrisco a pintar alguma coisa, mexer com cores dá uma alegria na cabeça enquanto escuto músicas que me fazem feliz. Tenho feito tricô, fabrico mantas para os bichos usarem quando o inverno chegar. Escrevi uma letra vudu sobre o coronavírus e fiz uma música punk para combinar com a ‘noiera’ que acontece: chama-se ‘Vírus do horror’.

Faço minhas unhas e pinto de várias cores. Pratico feldenkrais [conjunto de técnicas e exercícios físicos que visam o autoconhecimento e o bem estar] por Skype para meu corpo não enferrujar. Assisto séries diversas e filmes antigos na TV. Outro dia matei a saudade de um clássico dos anos 1950, ‘O dia em que a Terra parou’, bem no clima de hoje. E, é claro, sempre rola um filme de James Dean no salão. 

Escolhi passar apenas 3 horas por dia acompanhando as notícias do coronavírus. Mais do que isso, fico deprê. Depois, acendo velas e incensos na frente do meu altarzinho com todo tipo de divindades. Peço, em especial, para Nossa Senhora Aparecida proteger o Brasil com seu manto milagroso. Ando fuçando minha biblioteca, escolhendo livros que já li e esqueci. Arrumo gavetas, jogo fora um monte de traquitanas inúteis que acumulei ao longo dos anos. Fico namorando e limpando minha coleção de cristais phantom e meus pesos de papel. Lavo as mãos duzentas vezes por dia cantando ‘Parabéns a você’ e estou viciada em passar álcool gel, hábitos modernos.

Tenho a sorte de morar numa casinha no meio do mato com meu namorado e passeamos pelo jardim conversando com as plantas. Acabei de escrever um livro e não consigo defini-lo: se é um diário, citações esquisitas, autoajuda a mim mesma ou nonsenses da minha cabeça.

Pego o violão e noto que esqueci como tocar a maioria das minhas músicas. O que me deixa mais triste é não poder receber visitas dos meus filhos e netos, mas nada que um facetime não resolva provisoriamente. Minha impressão é a de que nesse confinamento forçado que a humanidade está sendo obrigada a passar há um propósito Divino. Um teste para que aqueles que sobreviverem a essa guerra invisível se conscientizem de que o planeta Terra está realmente sendo destruído pelos donos do poder de cada país. E que se não modificarem radicalmente seus comportamentos em todas as áreas, aí, sim, será a Terceira Guerra derradeira. Saúde física, mental, psicológica e espiritual para todos!”

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