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Artista pé no chão

Lorena Filgueiras

Douglas Silva ganhou notoriedade e o mundo no longa, indicado ao Oscar, “Cidade de Deus”, de 2004. Vivendo Dadinho, no longa, posteriormente Douglas interpretou Acerola, em “Cidade dos Homens”. O começo precoce [o ator tinha 10 anos de idade quando viveu seu primeiro papel] permitiu, entre outras coisas, proporcionar uma vida melhor à mãe, dona Clarinda, e seus outros quatro irmãos. Religioso e metódico, nosso convidado especial desta edição da Troppo + Mulher, conversou conosco no intervalo de suas gravações da novela “Amor de Mãe”, em que interpreta o vilão [“nem tão ruim”, como ele mesmo diz] Marconi. Vivendo uma de suas melhores fases, Silva comemora o êxito do personagem e rememora o começo de carreira, ao mesmo tempo em que fala sobre racismo, metas e celebra que será pai novamente [a esposa está gravida de três meses] e afirma ter conseguido muito do que estabeleceu como objetivos, porque “deixa tudo nas mãos de Deus”. 

image Douglas Silva (Guto Costa)

Troppo + Mulher: Estás de volta a uma novela depois de algum tempo. Como pintou esse convite, Douglas e como tem sido a experiência de fazer tua primeira novela com personagem fixo?
Douglas Silva: Eu estava fazendo uma série na Netflix, chamada Samantha, com a Emanuelle Araújo. Quando fui chamado para fazer o teste para a novela, ainda estávamos gravando e não ia dar. Mas rolou um intervalo ao final da segunda temporada e eu liguei para perguntar se ainda poderia fazer o teste. E eu passei! Graças a Deus! E aí, na verdade, essa [Amor de mãe] é como se fosse a primeira novela. Eu tinha feito “Caminho das Índias”, mas era de um núcleo em que eu era apoio... Já em Amor de Mãe, vivo Marconi, que é um bandido e pelo qual tenho recebido alguns elogios pela performance dele.

T+M: Pois é, quero saber: como tem sido esse feedback do público? Comumente, ouço que sabe-se que o vilão é bom quando as pessoas ficam com raiva da gente...
DS: Então, tenho! Muita gente vem me dar bronca [risos]. É engraçado que o Marconi não é tão vilão assim... ele não faz ruindades às pessoas. Na verdade ele está “trabalhando” e acha que é o ofício dele.

T+M: Como foi tua preparação para este papel? O que ou quais personagens te inspiraram?
DS: Eu assisti muitas séries. Na verdade, coloquei nele muita malandragem e a dualidade daqueles personagens que não são totalmente vilões e nem mocinhos.

T+M: Estás numa novela que celebra, inclusive, o retorno da Regina Casé aos folhetins – coisa que também tem sido tua experiência...
DS: Eu nunca me separei da Regina, mas trabalhar junto é a segunda vez. Tem aquela coisa de contracenar com alguém que é muito próximo de você e rola um nervosismo.... Esse é o nosso primeiro trabalho de dramaturgia juntos, né? [Douglas Silva e Regina Casé estiveram juntos em um especial de Natal, na Globo, “Papai Noel existe”, de 2010].

T+M: Fui fazer uns cálculos e me surpreendi: tens mais de duas décadas de carreira!
DS: É muito, né? No meu primeiro trabalho, eu tinha 10 anos e já tenho 31! Comecei novo.

T+M: Há um debate muito importante sobre o artista negro e seu labor na construção da cultura brasileira, bem como o racismo, o preconceito. Viveste isso?
DS: Sempre vamos ouvir relatos e passar por isso. Nós, negros. A nossa sociedade é racista – por mais que digam que não! Mas veja que negros não têm acesso. Há um racismo velado mesmo quando dizem que não. O negro não tem acesso a alguns lugares e cursos. Quando se é negro e pobre, se vive à margem da sociedade. Vou te dar um exemplo muito claro, aqui no Rio de Janeiro... e você nem precisa ser artista. No shopping center Village Mall, que é um local que reúne algumas das marcas mais caras e famosas do mundo, você quase não vê negros quando entra... mas se você for num grande shopping na [zona] Norte, verá que a maioria é negra. Se você perguntar quais as razões de não ver negros no primeiro, perceberá que é caro e não condiz com a realidade do negro, o que ele elitiza e separa, aparta. “Você pode vir passear, mas não vai comprar”. Um dos meus maiores orgulhos na novela [Amor de Mãe] é ter tanto negro! Há negros em todos os núcleos e não estamos falando em novela de época ou de negros servindo brancos. Tem esportista, policial e bandido também. 

Quando se é negro e pobre, se vive à margem da sociedade.

T+M: Conversávamos um pouco antes da entrevista sobre o cenário político e social brasileiro... e falava eu sobre seres muito ‘pé no chão’. Como vês o futuro do país?
DS: Ter os pés no chão é a minha essência. Fui criado assim e essa é a minha base. Minha mãe [Clarinda] teve cinco filhos e os criou sozinha! Tinha três empregos para poder sustentar a gente. Não posso ser egoísta, nem arrogante porque... bem, não tem porquê! É um exercício diário. Se você me trata bem, eu lhe tratarei bem. Sobre o futuro... eu acredito muito em Deus, sou um cara religioso, apesar de estar aqui, na Terra, no mundo dos viventes, desejo um futuro melhor para a gente. Tudo que estamos vivendo é porque a gente permitiu isso! No caso do presidente, ele foi votado e minha esperança é que nas próximas eleições, possamos votar certo, em um candidato que tenha compromisso com a sociedade. Tá passando por isso? Agora aguenta! Até porque, não dá para mudar o governo.

No caso do presidente, ele foi votado e minha esperança é que nas próximas eleições, possamos votar certo, em um candidato que tenha compromisso com a sociedade.

image Douglas Costa (Guto Costa)

T+M: Realizaste algum sonho da dona Clarinda?
DS: Olha, eu não sonho. Não tenho sonhos, mas sempre tive metas. Num primeiro momento, quis tirar minha família da favela. Tirei. Depois quis dar uma vida melhor para ela e consegui. Com metas, entendo que são potenciais que você pode conseguir! Então estabeleço metas e vou atrás delas até conseguir.

T+M: E quais são tuas próximas metas? Tens uma filha, não é...
DS: Então, está a caminho mais um!

T+M: Parabéns!
DS: Pois é... a Maria Flor tem 8 anos e tem um baby na barriguinha da minha esposa e ele vai completar ainda 3 meses. Não sei se é menino ou menina... A minha família foi uma meta, uma conquista. Eu cresci sem pai e quis ser pai. Pai de uma menina e um menino. Deus sabe de todas as coisas... Quero ver meus filhos crescerem. No caso da Maria Flor, quero que ela cresça bem, que seja bem-sucedida, que tenha sua família. Acho-a muito nova para ser artista e ela já manifestou a vontade de ser pediatra. Agora, se ela quiser fazer Arte, espero ser um bom conselheiro e que seja boa pra ela. Eu vim de uma família muito pé no chão, então não tenho porque não ajudá-la a atingir suas metas.

"Eu cresci sem pai e quis ser pai. Pai de uma menina e um menino. Deus sabe de todas as coisas... Quero ver meus filhos crescerem. No caso da Maria Flor, quero que ela cresça bem, que seja bem-sucedida, que tenha sua família".

T+M: O que conquistaste que não imaginavas?
DS: Então, conheci países que jamais imaginei conhecer, por meio do meu trabalho. Já pude levar minha família, eu bancando, para conhecer outros países, mas boa parte dos lugares que visitei foi por causa do trabalho. Foi muito bacana! E meta é isso!

Para conhecer mais
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