Amor de corpo e tempo inteiros

Lorena Filgueiras
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Com o isolamento social imposto pela pandemia, muitos casais se viram em uma situação inusitada: juntos, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Decidimos ouvir alguns deles para saber se (e como) o momento fortaleceu seus relacionamentos.

A esteticista Ana Gabriela Silva, 30, e vendedor Rafael Silva, de 32 anos, estão juntos há quase 15 anos. O aniversário de casamento de 8 anos foi no último dia 18, “em plena quarentena e com direito a sanduíche de comemoração”, ela revela entre risadas. Com dois filhos pequenos, a família iniciou o isolamento no dia 9 de março, por Ana Gabriela ser asmática. “Tínhamos muito medo, mas graças a Deus, não pegamos”, diz. Desde então, quase três meses se passaram e uma certeza ficou: o casal nunca havia passado tanto tempo juntos. “[ficamos juntos] no máximo, nas férias de trabalho dele, mas ainda assim eu acabo saindo pra trabalhar”, conta. “Dessa vez ficamos totalmente isolados de tudo”, complementa.

“No comecinho do período de quarentena, foi bem difícil”, admite Ana Gabriela. “Estava em crise de asma e fiquei neurada”. Os atritos não tardaram a aparecer. “Era uma outra rotina e não estávamos acostumados. Até que definíssemos as tarefas, a gente teve atrito, mas logo ficou mais fácil. Estando eu 24 horas em casa, auxilio em tudo. O café da manhã eu que faço – sou o profissional da tapioca”, conta Rafael. “Logo, o Rafa entendeu os cuidados e estabelecemos metas pra que tudo desse certo”, diz Ana Gabriela.

Realmente não tardou até que encontrassem a fórmula ideal para enfrentarem a turbulência, sem perder a ternura. Foi diante do novo, que acertaram o passo e o casal, inclusive, estabeleceu um tempo só seu. “É bem difícil lidar com as diferenças. Querendo ou não, cada um quer que o outro faça tudo do seu jeito, mas Rafael é um bom parceiro, ele me ajuda em tudo: com as crianças, em casa. Apesar de eu achar que ia ser muito difícil, foi tranquilo. As crianças têm rotina e dormem sempre no mesmo horário, aí nós temos nosso momento de paz”, segreda. 

“Nos últimos meses temos feito muitas coisas juntos, então tenho me apaixonado mais por ela, que tem planos para nossa família ficar cada vez melhor. Ela não se acomoda, não se aquieta, e tenho admirado muito essa característica dela. Temos tido noites e conversas maravilhosas, que têm nos deixado mais próximos um do outro. Sou completamente apaixonado por minha esposa, então posso afirmar que os últimos meses foram, sem dúvida, os melhores para o nosso casamento, pra reacender nossa paixão”, elogia Rafael. A admiração é absolutamente recíproca por parte de Ana Gabriela.

“Eu redescobri que ele é parceiro, amável, cuidadoso e que faz tudo pela família. Esse último ano de casamento foi bem difícil, porque foi a primeira vez que tivemos brigas e stresses. Então acredito que foi importante demais esse momento tão nosso. Tudo na nossa vida tem o número 8. Os 8 anos de casados tinham que ser pra reafirmar toda a nossa história e conquistas juntos! Crescemos, sonhamos e conquistamos tudo juntos, então essa fase foi mais uma de superação e, com certeza, de ter certeza que eu fiz a escolha certa”, finaliza.

Confirmação do sentimento

A advogada Jéssica Malcher, 28, e o policial militar Cristiano Lima, 44, estão juntos há 7 meses – sendo que, destes, 3 meses vivendo sob o mesmo teto. Jéssica explica que seu pai é médico e atua na linha de frente ao combate à Covid-19. Por entender que seria um risco à filha, a família foi unânime em decidir que ela passaria esse período pandêmico longe de casa. Foi aí que pintou a proposta do namorado – por que não passar juntos e na casa dele?

image Jéssica Malcher e Cristiano Lima (Acervo Pessoal)

A proposta foi recebida com muito entusiasmo. Havia um receio, entretanto, conforme explica Jéssica. “Como ele mora só há muitos anos, tive medo de invadir um pouco o espaço dele. Como nós dois temos rotinas muito intensas, por causa delas, quase não ficávamos muito tempo juntos. Senti receio de a gente ‘se enjoar’ porque não havia esse convívio diário”. O receio ficou para trás quase que instantaneamente. “Ficamos um grude. Sabe aqueles casais chiclete?”, revela entre risadas.

“Foi muito curioso porque moro sozinho. Tenho manias, meus gostos, minhas coisas. Conversamos sobre a necessidade de cada um ter seu tempo, seu espaço, respeitando as individualidades. Porém fomos colocados, em razão da pandemia, num convívio direto. Nem tudo foi um mar de rosas, por causa de minhas manias e da TPM dela, mas, com o tempo, fomos nos aproximando muito”, conta Cristiano. “O cuidado da Jéssica, o carinho dela foram fora do comum. Nunca tinha visto algo igual!”, diz. Pergunto se ambos saíram mais encantados um com o outro, ao que ele toma a dianteira para responder. “Posso falar por mim e, com certeza, eu tô mais apaixonado por ela”, revela. Jéssica não deixa por menos. “Conheci um lado muito carinhoso e cuidadoso dele. Isso me encantou e surpreendeu. Estou muito apaixonada e vou sentir falta. Voltamos a trabalhar ontem [na última segunda-feira, 1] e, nossa, estou morrendo de saudades!”, finaliza.   

A psicoterapeuta de casal e familiar, Darklê Nahmias, 64, atua há 43 anos na área e afirma que, mesmo em face de momentos tão desafiadores, alguns casais “sentem-se gratos de passar um tempo maior com o seu parceiro, o que normalmente não acontece, redescobrindo o prazer de estarem juntos e fortalecendo seus laços, conseguindo tirar proveito de uma situação tão adversa”. Segundo ela, o que faz a diferença e determina uma relação bem-sucedida é o compromisso que o casal tem com a relação. “É importante ser companheiro, escutar o outro, oferecer ajuda, elogiar, dispensar as críticas, expressar como se sente. Os casais que conseguem blindar seu casamento nas adversidades saem fortalecidos”, explica.

“Em primeiro lugar é sempre importante investir na relação.  Se isso não for possível, mesmo com o recurso da terapia de casal, a continuidade da mesma começa a ser repensada. Quando você já não sente prazer de estar na companhia do seu parceiro, ao contrário, já até se isola, se esquiva; quando perdem a intimidade, a confiança, o respeito, o companheirismo; quando os planos e os sonhos deixam de ser os mesmos; quando não há mais interesse em escutar e valorizar o outro; e quando a relação sexual já é evitada e o desejo já não existe mais, a relação está enfraquecida e com risco de separação”, enumera Darklê.

E que ninguém espere a vida “voltar ao normal” para revisar ou valorizar sua relação. “Nunca mais seremos os mesmos. Estamos tendo a oportunidade de repensar nossos valores e atitudes, para nos tornarmos seres humanos melhores. Se não mudarmos o olhar e a forma de agir em nossas relações amorosas, se não a priorizarmos, elas se enfraquecerão. O casamento precisa ser alimentado, sempre, para que permaneça vivo”, finaliza.

Como a Terapia de Casal pode ajudar os casais em conflito devido à pandemia?

Quando o relacionamento conjugal está passando por conflitos e os parceiros não conseguem administrar sozinhos, afetando sua rotina, sua qualidade de vida, e causando prejuízos no bem estar físico e emocional de cada um, é hora de assumir um compromisso maior com a relação e procurar um terapeuta de casal. É possível, mesmo durante o isolamento social, começar a terapia através dos atendimentos on-line.

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