A rua é do Boi Faceiro!

A exposição“A imagética do Faceiro no condado Ver-O-Peso” ocupará rua de São Caetano de Odivelas com telas, que estarão disponíveis para venda. Toda a renda obtida será convertida para revitalizar e adequar o espaço cultural Mestre Bené Careta.

Por Rondi Palha, pesquisador Colins/UFPA e coordenador do Boi Faceiro. Convidado especial da Troppo

“A imagética do Faceiro no condado Ver-O-Peso”é uma exposição de 40 telas,que serão dispostas nas fachadas das casas dos moradores da Rua Baltazar, em São Caetano de Odivelas. Os próprios moradores serão os responsáveis por colocar as telaspela manhã e retirá-las no fim da tarde, de 22 de agosto a 7 de setembro de 2020. A propostade exportelas ao ar livre, utilizando casas como expositores, deu-se em função da ausência de galerias locais e por uma sugestão de intervenção urbana no logradouro público, que é uma das mais importantes ruas da cidade, por abrigar grupos tradicionais da cultura local como o Boi Faceiro; o grupo infantil de boi de máscaras Faceiro Junior e o Grupo de Carimbó Sauatá.

Após a exposição, as telas estarão disponíveis para quem desejar comprá-las. O objetivo da venda é arrecadar recursos para revitalizar e adequar o Espaço Mestre Bené – casa onde viveu Mestre Bené Careta e que atualmente éponto de visitação para turistas, estudiosos, pesquisadores e a população em geral. No local, funcionam ainda o curral do Boi Faceiro, asede do Grupo de Carimbó Sauatá e o Ponto de Cultura Boi de Máscaras. 

image A manifestação do Boi Faceiro é um projeto cultural, que serve de parâmetro e exemplo para outros grupos de bois de São Caetano, por seu modelo de organização e trabalho de preservação (Divulgação)

As imagens foram captadas em janeiro de 2019, durante a participação do Boi Faceiro na gravação do clipede Dona Onete. A curadoria da exposição ficou por conta dos próprios integrantes do Boi Faceiro.À época, foi possível o registro imagético da interação entre dois ícones da cultura popular paraense: o Ver-O-Peso,enquanto espaço de sociabilidade heterogênea, e o Boi Faceiro, representante da manifestação dos bois de máscaras de São Caetano de Odivelas – sendo ambas representatividades dos saberes e fazeres populares.

Não houve performance pré-determinada para o momento, sendo uma oportunidade singular de vivências culturais e humanas, onde “pirrôs”, “cabeçudos”, músicos e o Boi Faceiro puderam circular entre as barracas dos feirantes, numa miscelânea de elementos culturais envolvendo cores e ritmo, registradas etnograficamente pelas lentes de um integrante da própria manifestação. 

O complexo do Ver-O-Peso, tombado como Patrimônio Histórico Nacional, é uma referência imagética da cidade de Belém, enquanto que o boi de máscarasé uma alusão significativa de cultura popular, sendo citado como patrimônio imaterial do imaginário paraense. O Ver-O-Peso e toda sua polifonia e dinâmica cotidiana, que o configura como um local de trabalho e lazer, teve seu contexto alterado com a presença inusitada e inesperada dos personagens do boi de máscaras de São Caetano de Odivelas. Figuras como os “pirrôs mascarados”, os “cabeçudos” e a figura do “Boi Faceiro”despertaram a curiosidade dos trabalhadores e frequentadores do complexo.

image Se o boi é o personagem central do cortejo cênico e musical, a folia não não fica completa sem a presença do “pierrô mascarado” e dos bonecos “cabeçudos”, (Divulgação)

O boi de máscaras é uma festa tradicional de São Caetano de Odivelas, cidade ribeirinha do interior do Pará, localizada a 107 km de Belém em linha reta. Trata-se de um folguedo junino da cultura popular paraense, em que o boi é o personagem central de um cortejo cênico e musical seguido de brincantes mascarados, dentre os quais destacam-se o “pirrô mascarado” e o “cabeçudo”, são animados pela sonoridade de uma orquestra composta por instrumentos de sopro e ‘pau e corda’.Os bois de máscaras também participam efetivamente da programação carnavalesca do Município. Dentre os principais grupos, destacam-se, além do Boi Faceiro, o Boi Tinga, a Vaca Velha, o Boi Mascote, além de outros grupos que compõem na cena do imaginário odivelense.

O Boi Faceiro tem se destacado como uma das principais referências da cultura popular do Estado do Pará e tem uma história peculiar de aparecimento, desaparecimento e reaparecimento. Criado em 1937, ele compôs a cena cultural de São Caetano de Odivelas durante 10 anos, quando desapareceu, retornando suas atividades em 1998, por iniciativa de um grupo de jovens e com incentivo de Mestre Bené Careta (Benedito Cardoso de Aquino), falecido em 2000. A manifestação é considerada um projeto cultural, que serve de parâmetro e exemplo para os outros grupos de bois de São Caetano, por seu modelo de organização e trabalho de preservação. É importante citar sua parceria com o grupo mirim Faceiro Jr., uma versão voltada para o público infantil, a fim de conscientizar nossas crianças a respeito da manifestação dos bois de máscaras.

image Legenda (Divulgação)

O grupo, ao longo do tempo, ganhou importantíssimos registros de grandes nomes da fotografia regional e nacional, como Geraldo Ramos, Luiz Braga, Bruno Carachestti, Tarso Sarraf, Paulo Santos, Fernando Sette, Luís Marques, Igor Mota, Maicon Nunes, AraquémAlcântara, Ratão Diniz, Uesley Marcelino entre outros.

A ideia da exposição,utilizando a rua como galeria e as fachadas das casas como expositores, surgiu em 2018. Naquela oportunidade, foram utilizadas imagens dos fotógrafos Ratão Diniz e Bruno Carachesti. Na versão deste 2020, a exposição “A imagética do Faceiro no condado Ver-O-Peso”tem como principal objetivo retratar o universo dos bois de máscaras, através do Boi Faceiro, em um espaço infrequente para a manifestação, numa experiência distinta da habitual, que consiste no cortejo cênico tradicional da quadra junina, com toda a participação dos brincantes e moradores locais, haja vista que o palco dos bois de São Caetano são as ruas, alamedas e logradouros da cidade. 

Serviço:
Exposição “A imagética do Faceiro no condado Ver-O-Peso”
Período: 22/08 a 07/09/20 na Rua Baltazar, em São Caetano de Odivelas

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