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Paes Loureiro 80 anos de poesia e o grande homenageado do Arte Pará 2019

Orlando Maneschy

João de Jesus Paes Loureiro é um operário das palavras. Atribui ao privilégio de ter nascido ribeirinho a fluidez natural da poesia. Não haveria outra maneira de descrever seu ‘fazer poético’ a não ser como um exercício de mergulho no imaginário que sempre o provocou. Fez do rio um rito e ali desenvolveu sua teoria; da palavra seu alimento mais concreto e da experiência de viver a Amazônia um caminho de compreensão do mundo à sua volta, entendendo, nas matrizes da cultura, a base para o entendimento deste complexo território. Grande homenageado desta edição do Arte Pará, projeto que assistiu nascer e no qual contribuiu em seu momento inicial, retorna como eixo de uma grande reflexão sobre arte e estética, no momento em que celebra seus oitenta anos; bases sólidas sobre as quais ele fala nesta entrevista concedida à revista Troppo + Mulher. Mas Paes Loureiro é um caudal de experiências e esmiúça o início de sua carreira, as passagens por TV, Teatro, Cinema – passagens que sempre desembocaram na potência viva da palavra. 

Troppo + Mulher: O Senhor esteve nos primeiros momentos do Arte Pará. Como foi estar naquele momento em que se delineava o projeto  a desempenhar um papel fundamental como articulador?
Paes Loureiro: Bem, eu trabalhava já em O Liberal e tinha sido contrato pelo Romulo [Maiorana, fundador do grupo] como redator, mas com um compromisso, que era o de produzir uma crônica literária diária, que era um fato muito novo, porque redatores, repórteres que queriam fazer crônica mesclando jornalismo com Literatura, o faziam por colaboração, cooperação, por desejo de produzir literariamente... entretanto, não havia essa característica de ser, digamos assim, um redator com essa incumbência apenas. E ele me chamou para trabalhar lá logo depois de O Liberal ter adquirido A Folha do Norte. Então, ele me falou da ideia do Arte Pará, porque que ele tinha essa fascinação, talvez em função da herança cultural da família italiana, pelas Artes, em especial pela pintura. Ele chamou a Sônia Renda para estruturar o projeto, passando a atuar como diretora-executiva, eu já a conhecia, porque ela havia sido minha aluna, no curso de Literatura Luso-brasileira quando ficamos amigos. Era uma ótima aluna, com destacada articulação e o Romulo, claro, viu nela uma pessoa que tinha muito talento e condições para dirigir aquele projeto que ele sonhava e que pretendia valorizar as artes e o artista paraense, que Romulo almejava projetar para fora de nosso território. Ela me procurou e participei do grupo que discutia essa fase inicial, o perfil que o Arte Pará teria. Participei das primeiras seleções em comissões de júri, coisa que só aceitei pela amizade a  ele e a ela, pois não gostava de participar de júris. Mas fiz com prazer, porque entendi que era necessário. Depois, tendo que escrever sobre o projeto, entendi que o Arte Pará era um ponto de luz das artes aqui, no meio Amazônia! Por isso, eu me entusiasmava e me dediquei tanto ao projeto, naquela fase inicial. Hoje continua a ser um ponto de luz, mas é um ponto de luz amplificado. Quanto Roberta , diretora-executiva, assumiu, fez o mesmo processo: me chamou para conversarmos. Tínhamos um relacionamento fraterno, de muita amizade, porque sempre gostei muito dela e o que tinha de sugestões, fiz – até para reforçar essa grandeza, essa luminosidade do Salão. Lembro que quando veio o Paulo [Herkenhoff, curador do Arte Pará em diversas edições e atual consultor], eu acho que essa luz, além de ampliada, foi elevada ao topo, como se fosse no topo de uma árvore muito alta porque iluminava no local, mas também, para fora do local, visto que o Paulo é um estudioso, um curador e profundo conhecedor naquele ângulo que concordo plenamente – que é o de um Brasil que expressa uma visualidade como uma expressão simbólica da cultura brasileira. Não de uma cultura brasileira centralizada, mas que advém das várias regiões; que vem das camadas populares também, sem que houvesse uma espécie de sombreamento da camada que vem das ruas e dessa brasilidade que fortalece a originalidade dessa produção visual. Por isso mesmo, um Brasil que se expressa através dele. Então fiquei feliz, porque conhecia outros trabalhos dele e pela importância do Paulo para as Artes visuais da Amazônia, que é imensa e precisa ser celebrada, reconhecida e documentada, porque ele sempre teve um olhar valorativo para o que se faz aqui na Amazônia. Aquele projeto da visualidade...

“Que a Arte Possa existir com liberdade, sua condição essencial” Loureiro no catálogo do 1º Arte Pará

image Paes Loureiro (Estúdio Tereza & Aryanne)

 

T+M: Era isso o que eu ia perguntar ao senhor...
PL: Aquele projeto das Artes Visuais na Amazônia, deu um fôlego e ele soube ativar! Já que era uma certa documentação de nossas bases visuais presentes na cultura e que ele foi buscar em Osmar Pinheiro e Luiz Braga. Os dois me procuraram para fazer um texto que dialogava com o projeto e que estabelecia um espaço de conversa sobe nossa cultura e nossa visualidade.

T+M: E esse seu texto “Por uma fala amazônica sobre a cultura”? 
PL: Esse texto já foi resultante de um desdobramento no projeto As Artes Visuais na Amazônia - Reflexões Sobre Uma Visualidade Regional. O projeto idealizado pelo Paulo [Herkenhoff], propunha um diálogo Belém-Manaus, ou seja, o Pará e o Amazonas, com duas sedes, fomentando o intercâmbio. No caso, como já havia sido iniciada a pesquisa pesquisa no Pará, ele idealizou que seria feito um seminário em Manaus e, após essa etapa seria editada uma publicação com os textos que constituíram os capítulos e fecharia a primeira etapa do projeto. A documentação dessa visualidade na região, a discussão de Manaus... inclusive, esse texto foi ele quem me sugeriu. Só que o livro já totalmente diagramado, pronto, não tinha recursos recurso para a publicação. Eu estava, naquela altura, como secretário da SEMEC [Secretaria Municipal de Educação e Cultura] do prefeito Almir Gabriel. Então, ele (Paulo) me liga e nós conseguimos bancar por aqui e assim foi feito: como tínhamos a obrigação de fazer por uma gráfica local, em função de licitação e uma série de outros fatores e até porque tínhamos uma certa urgência de fazer isso, [o livro] que foi feito pela Gráfica Falângola e ficou perfeito.

T+M: Que era uma pessoa que apostava também, não é?
PL: Muito! O Falângola tem uma história de apoio, por via das publicações e de outras formas também, às atividades artísticas. Lembro que quando eu publiquei o meu primeiro livro, eu estava na universidade e ele me facilitou a edição do Tarefa.

T+M: Livro que foi sequestrado...
PL: Ele foi sequestrado... apreendido e um volume que foi escondido, salvo! No caso do meu segundo livro, em 1966, “Cantigas de amor, de amar e de paz”, o Falângola fez o seguinte contrato: ele publicaria e, com a venda dos livros, a partir do lançamento, eu iria pagando a edição. Assim foi feito, mas houve uma publicidade tão boa entre as pessoas, com uma participação muito grande dos alunos na vida cultural da cidade e a União Acadêmica Paraense tinha uma grande força e presença na cidade; os jornais apoiavam muito... E aconteceu algo inédito: eu e Falângola ríamos disso, mas o livro se pagou no dia do lançamento! Ele havia feito uma edição com um custo acessível, ele não lucrava! Mas é interessante esse tipo de generosidade: dele, como apoio, sem transformar isso num favor e ele até bolou o design de uma maneira muito genial: um envelope espesso em que as páginas eram soltas lá dentro! Desta forma, as pessoas iam lendo, retirando as páginas, e os próprios poemas tinham uma forma que, se as pessoas embaralhassem sem querer, por acaso, não prejudicava a leitura. Era uma coisa interessante, digo isso já que você lembrou dessa qualidade do Falângola, do apreço as artes e que está na história das publicações de Literatura em nossa cidade.

T+M: Lembro que quando entrei na Universidade, o senhor dava aula de Estética. Não fui seu aluno, mas foi muito marcante. Pergunto: como foi para o senhor, que tinha muito forte a Literatura, dar aulas de Estética, fundamental para todas as linguagens? Em que momento, o senhor viria aprofundar a reflexão sobre o nosso patrimônio cultural? Reli recentemente o Tarefa, o poema, e ele me impactou muito por ser tão atual e por trazer uma carga tão nossa. Como é essa sua travessia do senhor, estudante, de uma condição de grupo estudantil para as matrizes culturais que seriam um território para seu pensar? O senhor pode falar um pouco sobre isso?
PL: Como eu sempre penso que o autor é ele e as circunstâncias que constituem sua vivência, quer dizer não é um aspecto isolado, é um trajeto antropológico que a gente, a própria evolução interior do inconsciente dialogando com as experiências... Eu tive a sorte de ter nascido no interior, em uma cidade ribeirinha, que é Abaetetuba, e ter vivido... ter tido ali a minha formação emocional, principalmente, até a juventude, de uma forma mais contínua e, depois, de uma forma intermitente, mas sempre presente, nessa cultura ribeirinha, vivida de forma espontânea. É uma impregnação, desde que você se abra para a experiência, de forma que sua sensibilidade possa se abrir e absorver isso intensamente. Lá mesmo em Abaetetuba, tínhamos um grupo de estudantes que fazia, digamos, boi-bumbá. Só que fazíamos a encenação e quando não tinha ninguém que soubesse compor na turma, eu pegava músicas da tradição e colocava uma letra adequada ao ‘enredo’. Então, aprendi a fazer poesia muito cedo! E sempre me dediquei muito ao meu ‘fazer poético’. Quando vim para Belém, para estudar no Colégio do Carmo, tive um ligeiro distanciamento dessa cultura ribeirinha – embora Belém seja uma cidade ribeirinha, mas é uma cidade ribeirinha onde essa relação espontânea desparece muito! Pelo tamanho da cidade, por uma série de fatores. No Carmo, eu tinha uma fascinação pela leitura da poesia, que desenvolvi o hábito de ler “Antologias Literárias” e ia à biblioteca do Carmo, que era muito boa. Me fascinava a diferença do fazer poesia na Idade Média, do Classicismo, do Romantismo, do Barroquismo e até do Modernismo. As obras do Modernismo brasileiro, eu fui buscar em revistas e jornais, por uma sensibilidade minha, já que pouco havia ali. Meu colega do internato do Carmo era o Valdir Sarubbi [pintor, desenhista, artista visual], e tínhamos um diálogo muito grande,  e como o Sarubbi gostava de fazer as letras, umas quadras e charadas, tínhamos uma brincadeira de fazer um para o outro, Depois que respondíamos, jogávamos fora, mas eu comecei a treinar fazer poesia no estilo de cada época. Fazia e jogava fora. Aprendi e sei! E uso na minha poesia. Se quiser escrever poesia medieval, escrevo... Transitei entre as épocas, até o Concretismo, onde fiz experiências e uma delas vai ser exposta lá [no Arte Pará 2019], sobre o Jimmy Hendrix...

T+M: Já que o senhor tocou no assunto...
PL: Mas aguarde um pouco porque tenho que dar um pouco mais de substância à resposta da sua pergunta. No Carmo, eu já interessava por essa questão do Teatro. Quando saí do Carmo, fui convidado a participar de uma encenação do nosso Teatro-Escola, isso já no curso científico, fui convidado pelo Carlos Miranda, que era professor, e principal ator do nosso Teatro-Escola para ingressar na encenação de Édipo Rei, que seria apresentada em Santos. Eu me entusiasmei tanto, que comecei a ler peças clássicas e dirigi um olhar para o Teatro, com esse desejo, embora tivesse participado de peças da Maria Clara Machado e autores que o Norte Teatro encenava...

T+M: Norte Teatro?
PL: Norte Teatro [Escola do Pará], que era dirigido pela Maria Sylvia Nunes, Benedito Nunes, Angelita [Silva]... aliás, Angelita foi uma pessoa muito importante e dela não posso esquecer! Era quieta, recolhida, mas uma pessoa muito importante. Então, sempre a minha ótica era essa, de me dedicar a fundo a experimentação da linguagem, tanto que, quando a TV Marajoara foi iniciada, o grupo desses diretores e de pessoas ligadas ao Teatro local foi o que se candidatou a assumir as posições de realizadores operações locais que seriam implantadas aqui. Raymundo Mário Sobral, o Acyr Castro eram gênios, que faziam as adaptações e dirigiam as encenações que eram feitas “ao vivo” diretamente no ar. Eu entrei pra lá como ator! Fui ator de novelas; de novelas dirigidas pela Maria Sylvia, pelo Acyr e, às sextas-feiras à noite, tinha uma novela, “A Selva”, que era uma adaptação do Ferreira de Castro para a Televisão e eu fazia o papel do protagonista, que era a própria figura do Ferreira de Castro, porque era escrito na primeira pessoa.

T+M: É incrível como ele descreve a chegada aqui...
PL: Ah, é uma joia! Um primor! Eu vivia o José, que era o personagem alter ego dele, porque é muito documental o romance. Pois bem, também fiz adaptação para “O Grande Teatro”, que era uma encenação feita sexta-feira à noite, que tinha a duração de uma hora. Era completo, porque não havia intervalo. Foi naquela época que aprendi a fazer roteiros para Televisão, Script, como se chamava e aprendi também a fazer para Cinema. Até hoje acho, entre os meus papeis, uma das adaptações que fiz. Sempre me dediquei muito a tudo que fiz!

T+M: Como chegamos à sua poesia visual que estará no Arte Pará?
PL: Primeiro, pelo conhecimento da poesia visual, concretista. Já havia visto, na poesia romana, poemas visuais também! Há um celebre poema, da Ânfora, em que o poema vai formando uma Ânfora, visualmente falando, compondo a sinuosidade que ela tem. Há trabalhos no “entre guerras”, na França,... poemas visuais. Li também poemas do Maiakovski que eram visuais e que está na raiz disto tudo. Achei interessante e comecei a imaginar esse tipo de poesia, fascinado pela exploração visual das palavras, compondo uma página. Admirava a experiência formal e a valorização da palavra como imagem.

T+M: E esse seu trabalho que quase chega a criar uma espacialidade dentro do plano, ele tridimensionaliza o plano...
PL: A minha ideia era explorar poeticamente o espaço. Uma vez encaminhei um projeto pra uma dessas exposições, em São Paulo, pra ver se obtinha recursos para isso e era da seguinte maneira: era um poema, que não era apenas visual: era contextual e, ao mesmo tempo, ambiental. Era como se fosse uma sala onde os versos estivessem colocados de uma forma vertical, como se fossem finas cortinas e que a leitura seria a pessoa percorrendo aqueles versos, pendurados aleatoriamente, de forma que pudesse percorrer o espaço lendo aqueles versos ao seu gosto! Você reconstruiria o poema sempre que os lesse. Um poema permutacional, pelo leitor, pelo percurso que fizesse. 

T+M: Como o senhor percebe esse período e sua poesia visual?
PL: Nessa mesma fase do meu interesse pelo Teatro, recuando um pouquinho... É como a gente vê nesses filmes: “Anos atrás....”, ali na fase da Escola de Teatro também funcionava, um Cineclube, que, no fundo, era um mesmo grupo que já transitava de um lugar para outro, que era o Pedro Veriano, o grande mentor e, digamos assim, entusiasta realizador das coisas ligadas ao Cinema e que reunia a intelectualidade reconhecida à época e que nós admirávamos. Funcionava ali, onde se localiza a Academia Paraense de Letras, em frente ao Corpo de Bombeiros, na SAI – Sociedade Artística Internacional, que funcionava ali, naquele lugar. Pois bem: fiquei muito empolgado com o Cinema, não só para ver, mas para ler e estudar Cinema. Na minha Biblioteca, sempre teve uma pasta para cinema. Comecei a escrever sobre isso nos jornais, durante algum tempo. Tinha uma sensibilidade enorme e meu farol sempre foi a poesia. Sempre que me interessava por outras artes, eu aprofundava esse conhecimento bastante, porque lia muito. No caso do Cinema, passei a escrever e dava cursinhos de linguagem cinematográfica no Cineclube e, ao começar a lecionar no Colégio Santo Antônio, criei, com o apoio da direção da escola, uma disciplina “Linguagem cinematográfica” dentro do plano pedagógico. Teve tanta repercussão, que o Santa Rosa me chamou e depois o Gentil. Foram as freiras que me chamaram! Em vez de fazer uma festa de formatura, as alunas se reuniram para fazer um documentário. Contratamos um fotógrafo, o Fernando Melo, que tinha um equipamento 16 milímetros, e que havia trabalhado com o Líbero Luxardo em seus filmes, que fez um preço módico. Era um bom fotógrafo de cinema! Combinamos com ele, que se entusiasmou, porque era uma novidade para ele e nós fizemos! Mas como te disse, o meu farol do meu interesse, pelas Artes, em geral, é a poesia. O Teatro era poético. A parte da visualidade sempre foi poética. No caso do Cinema, eu chamava de Cinepoema, uma mistura de imagens com palavras. Mas voltando a minha incursão na poesia visual.... Na década de 1970, seria comemorado o aniversário de 50 anos da Semana de Arte Moderna e o Roberto Pontual recebeu a responsabilidade de ser o curador de uma grande mostra. Aqui, ele me procurou para conversar sobre algumas ideias e se situar sobre a cena local e na minha casa, ele viu um quadro, que era um poema visual em homenagem ao Jimmy Hendrix, “Elegia a Jimmy Hendrix” e ele se empolgou E isto faz parte de minha trajetória poética, do meu trabalho. Foi algo espontâneo em mim.

T+M: Queria que o senhor falasse sobre como ao longo de sua trajetória constitui a percepção complexa de nossas matrizes culturais
PL: Há uma impregnação emocional que alimentou uma relação respeitosa com tudo isso, como nosso imaginário. Sempre tive muito respeito e valorizei essas experiências com as coisas da região; indo aos lugares e tendo acolhida e experiências dos produtores locais, das artes e de demonstrações simbólicas de nossa cultura – não só na minha terra, mas em Belém. E pelo meu trabalho na Universidade, percorrendo o estado todo conheci muito daquilo que é nosso. E quando visitava outros lugares, ia atrás de artistas. Fui acumulando experiência concreta de vida participativa em tudo isso. Fui levantando material que eu podia recolher, daquilo que eu via, por meio de anotações, artigos, textos literários e com uma posição permanente, de reconhecimento de valor. Sempre encontrava, nessas manifestações ribeirinhas, indígenas, rurais do Pará, um valor que sempre ficava permanecido na sombra; que ficava nessa espécie de realidade submersa e que, quando vinha à tona, era visto como folclore ou como algo sem maior significação. Mas eu pensava diferente! Via e ia anotando, registrando aquilo que observava e, quando fui fazer meu doutorado na Sorbonne consolidei um pensamento. Veja bem esse meu itinerário intelectual: começa na cultura ribeirinha, vem para Belém numa transição, parte para um Mestrado em Campinas, que foi muito rigoroso em Teoria Literária e Semiologia e, em seguida, vou para França, levando todo meu material da cultura amazônica. E o que eu fui buscar na França? Fui buscar essa visão englobante, teórica, que as Teorias do Imaginário me ofereciam e que o Brasil não me oferecia como desejava. Comecei a perceber, por via do imaginário, esse ângulo que eu tinha vivenciado no interior, nas viagens pelo estado e pela minha visão, relativa à Mitologia, que é uma dimensão dessa cultura amazônica que me empolga e me encanta. Queria um aprofundamento disso e também contextualizar, numa dimensão social, não como sociólogo, mas com fundamentações sociológicas e até antropológicas, que me permitissem contextualizar essas manifestações, não como fatos isolados, mas como constitutivos de um ethos amazônico, da cultura Amazônia, como substância original da cultura. Foi nesse distanciamento, de quatro anos e pouco, que eu pude refletir e conceber a ideia de que o imaginário era uma dimensão englobante da cultura amazônica. Era, digamos, o ponto vélico da cultura amazônica. Quando os ventos dão um rumo à vela! Essa dimensão do imaginário era essencial, por se destacar de outras áreas culturais no próprio Brasil. A partir daí, passei a refletir e encontrei a dimensão poetizante. A poética do imaginário é dominante na cultura amazônica. 

T+M: Como o senhor recebe essa homenagem no Arte Pará 2019? 
PL: Já recebi prêmios, comendas e homenagens, mas essa homenagem, vindo do Arte Pará, com toda essa história de relações, e com tantos artistas envolvidos é de uma emoção profunda. Posso afirmar que é das maiores emoções que estou tendo por vir do campo  das artes, como todo esse carinho na forma de obras que celebram nosso lugar

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