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A benção, Leila!

Lorena Filgueiras
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EXCLUSIVO – Naquele 31 de outubro, quarenta anos atrás, a jovem (e então estudante de Medicina) Leila Pinheiro, debutava oficialmente no palco do Theatro da Paz. Decidida a fazer carreira na música, a paraense comunicaria aos pais, seis meses depois, que deixaria a faculdade e que não casaria. “Não foi fácil”, ela diz. “Ia contra todo o caminho que vinha sido pavimentado por tantos anos!”, complementa nesta entrevista exclusiva, concedida na última quarta-feira, enquanto ensaiava em seu estúdio e já pensava na próxima live. Leila contou ainda como foi revelar aos pais que era gay e que estava decidida a viver a vida à qual tinha direito. Muito à vontade e às vésperas de comemorar 60 anos de vida [e 40 de carreira], enfatizou sobre quão produtivo tem sido seu 2020 (afinal, lançou três trabalhos e se prepara para lançar um disco inédito, o primeiro solo em quatro décadas de música, no dia de seu aniversário), como tem encarado a vida nesta pandemia, do amor pelos pais, que são vizinhos dela, na capital carioca, há um ano. Revisitou saudades e afetos de Belém, afirmando que não sabe lidar ainda com o fato de que não haverá Círio este ano. Nossa entrevistada especial revelou ainda que está amando (muito!), sendo amada e que vive um belíssimo momento. 


Troppo + Mulher: Leila, 2020, foi e tem sido um ano muito produtivo para você: três trabalhos lançados, cada um deles com uma linguagem muito própria (e cujos planejamentos começaram bem antes da culminância da pandemia). Eu fiquei emocionada com todos, com sua voz no repertório belíssimo Antonio Adolfo-Tibério Gaspar; com os arranjos lindíssimos do “Cenas de um amor” e por, mais uma vez, você celebrar a parceria tão longeva e prolífica com Menescal, interpretando Cazuza. Ufa! E ainda estás trabalhando num disco para celebrar seus 60 anos de vida/40 de carreira. Vamos por partes? Como cada um dos trabalhos já lançados se desenhou? O que te fez abraçá-los? 
Leila Pinheiro: Pois é, lancei três trabalhos em 2020. Primeiro foi o “Cazuza em bossa”, pela Som Livre – eu, Roberto Menescal e Rodrigo Santos. Depois, eu e Antonio Adolfo, mais um timaço de músicos, com “Vamos partir pro mundo” e “Cenas de um amor” com o [grupo] Seis com casca. No dia 16 de outubro, que é dia do meu aniversário, vai sair o “Melhor que seja rara”, que é meu primeiro disco solo. Esses trabalhos se desenharam... Primeiro, o do Menescal, que foi lançado, o “Cazuza em bossa”, ele [Menescal] e Rodrigo já tinham esse planejamento. Quando eu soube, achei uma boa ideia me incluírem nesse trabalho, que é a seis mãos! Foi tão dando certo essa homenagem em bossa... e o Cazuza amava a Bossa nova, MPB e conhecia profundamente. Nos reunimos aqui, na minha casa. Rodrigo foi baixista do Barão Vermelho e tem essa pegada de rock. Ele trouxe muito vigor às bossas novas todas. A gente escolheu e ensaiou vinte músicas. Após uma série de apresentações em alguns lugares do Rio, a Som Livre se interessou por 8 fonogramas e subiu para as plataformas. Gravamos ao vivo e o resultado é um trabalho lindo e muito vitorioso, que alcança uma outra geração de público. Eu e Antonio Adolfo já nos “paquerávamos” como artistas havia muitos anos. Eu o ouço desde que comecei a ouvir música, ainda muito garota. Sou fã do compositor e grandioso pianista que ele é. Alguns anos atrás, eu o convidei para fazer um trabalho com voz um trabalho que ele havia lançado instrumental, o Carnaval Piano Blues. Nos conhecemos de perto, mas o disco não rolou. 

T+M: Mas foi o começo de outras coisas...
LP: Ele ficou muito tocado com o nosso entrosamento, com nossa afinidade, até porque eu também sou pianista e fui respondendo, como cantora, de uma forma bem diferente para ele. Passamos a nos frequentar em shows, até que ele teve o desejo de atualizar a obra dele, em especial, as parcerias dele com o Tibério Gaspar. Veio novamente ao meu estúdio e me convidou se eu queria ser a intérprete desse trabalho [ela ri]. É um presente ser intérprete, porque o Antonio é amigo, parceiro, generoso, um doce e pioneiro nos trabalhos independentes. É um homem muito valoroso! Aí, a Deck Disc, do nosso amigo João Augusto e Rafael Ramos, quis o disco. À exceção de Sá Marina, Teletema, Giro, Ao Redor, eu não conhecia as outras músicas. Então são canções inéditas para uma intérprete – e, de fato, para uma intérprete, a melhor coisa que pode acontecer é ganhar músicas novas! Foi um banho de música e um resultado final maravilhoso! As faixas têm vendido muito nas plataformas – estamos todos muito felizes! Agora é uma união para toda a vida! Estávamos planejando várias coisas, indo pra estrada, quando veio a pandemia. O show está guardado, mas está vivo, pronto! Em 2011, conheci o [grupo] paulistano Seis com casca. Fui apresentado a eles pelo produtor cultural Marco de Almeida, que tinha um projeto chamado “Metso cultural”, que eram shows numa praça, em Sorocaba [interior de São Paulo], abertos e de graça ao público. E ele me deu a opção de tocar com eles – que eu não conhecia. São todos mestrandos e doutorandos pela USP e que têm essa formação inusitada de violino, clarinete, clarone, baixo acústico, piano acústico, percussão sinfônica e guitarra. Fiquei louca com eles e eles, loucos comigo! Nos reunimos para o show em 2011 e, em 2014, gravamos o “Cenas de um amor”, em Cotia, num teatro vazio, sem ninguém, ao vivo. O disco ficou guardado até agora. Com a pandemia, todos puderam se dedicar à mixagem e a Azul Music se interessou e o disco está na rua. Esse trabalho é um desafio, porque estou cantando música erudita, compositores eruditos, como Mahler, Fauré, Dvórak, Ravel, Kurt Weill. Compositores que nunca cantei, em versões especialmente para esse disco, com letras traduzidas e adaptadas pelo letrista e escritor paulistano Carlos Rennó. Foi muito trabalho, mas acho o resultado primoroso! Lindo e muito linda é a reação do público a esse trabalho. Já o trabalho mais recente foi iniciado em 2016, produzido pelo DJ José Pedro Selistre [DJ Zé Pedro], que é dono do selo Joia Moderna. Agora resolvi finalizá-lo e ele sugeriu que lançássemos pelo selo dele e pelo meu, que é o Tacacá Music. O disco subirá [para as plataformas digitais] exatamente no dia 16 de outubro, que é meu aniversário. Tô muito feliz com todos os trabalhos e vem mais coisa aí, até dezembro!             

T+M: Percebo que muitos artistas estão acumulados de criatividade, embora o “fazer artístico” não seja – e talvez nem volte a ser – o mesmo. O que mudou em ti, diante do mundo e como sairás deste ano? Ainda falando no fazer artístico, qual aspecto, hábito ou interface, não utilizavas antes da pandemia e que pensas em continuar utilizando daqui para frente?
LP: Neste momento, meu fazer artístico está turbinado por um foco, que passei a ter, no que eu não tenho que sair de casa, viajar, no que eu não tenho que me dispersar com outras coisas. Faço 40 anos de carreira este ano e havia muita coisa que já estava sendo produzida, que continuou sendo produzida, sem agonia, sem correria. Moro praticamente no meu estúdio, já que minha casa é na parte de cima e sou muito produtiva, muito inquieta. Sempre fui! Tenho feito coisas inimagináveis com uma equipe que não pode aparecer aqui, porque não pode aparecer aqui... a não ser por minha irmã, Marisa, que também é minha agente e que vem aos sábados, para me ajudar com as lives. É uma super produção que tem fluído, porque ela é o que tem nos aliviado desse peso, dessa sombra imensa. Então sou outra artista, no sentido de estar sintonizada com tudo o que está acontecendo. Não sei como sairei disso tudo, mas certamente, sairei melhor, porque estou fazendo por onde – eis o grande lance, em qualquer circunstância da vida! Tô muito focada em dar o meu melhor, porque é o que todo mundo mais precisa e tenho tido muito apoio! Tenho feito lives fechadas para amigos que contribuem, porque sabem que estou sem trabalho – não só eu, mas milhares de outros artistas. Eu contribuo com outros artistas, colegas, para angariar dinheiro. Em relação às interfaces, acredito que as lives seguirão, como uma ferramenta a mais para nós. Temos falado muito nisso. Se tudo isso puder permanecer, enquanto não for possível voltar aos palcos, é uma forma de seguir... e as pessoas contam com isso! Esses encontros [as lives] já fazem parte das vidas das pessoas – como faz parte da minha, porque passo a semana inteira planejando e me preparando para o que vai ocorrer aos sábados [a cantora tem feito apresentações on-line, ao vivo]. A criatividade é grande – tem que ser – e ela está sendo turbinada neste momento!

image Leila Pinheiro (Murilo Alvesso)

T+M: Aliás, não sei se é possível falar em rotina, no contexto de pandemia e isolamento social, mas em qual momento te deste conta da seriedade da situação, Leila? E como tem sido teus dias em isolamento?
LP: Existe uma rotina nesta pandemia, porque ela se caracteriza pela ausência da rua. Aqui, eu desço para trabalhar em meu estúdio. Não saio de casa para nada, a não ser que haja realmente necessidade. Ou saio, com uma amiga que tem carro e que só ela o usa, para ver o mar, porque também preciso disso. Moro bem embaixo do Corcovado, então tenho uma vista ampla, de florestas, de flores, mas o mar me faz falta... no sentido de ver o horizonte, de caminhar no calçadão. Mas eu evito ao máximo. A seriedade da situação ficou explícita de cara. Minha funcionária, que está comigo há 20 anos, teve de ir para casa e não voltou até o mês passado! Foi brutal para ela e pra mim. Meus pais também moram aqui no Rio desde 31 de julho do ano passado, ou seja, fez um ano que estão perto de mim. Sigo cuidando deles! Tenho lavado roupa, colocado para secar. Esses dias estão lotados de coisas. Não sei cozinhar, mas sempre peço comida. Não sou de ver televisão porque não gosto de ver desgraça – nunca foi uma opção minha sentar defronte à TV para ver notícias. Há muitos anos me desliguei disso! Me informo por outros meios e vou tomando pé das coisas, mas não fico nessa tortura diária de noticiários, embora sejam necessários. Sei o tamanho da sombra que estamos vivendo e da péssima [ela enfatiza] condução do problema! É uma insanidade! Estamos cada vez mais sozinhos, mas Deus é grande e, apesar do que temos tido, amanhã há de ser um outro dia! Chegaremos à vacina. Eu só me sinto isolada por não poder estar com as pessoas, por não poder abraçá-las e não ser abraçada. Mas sou uma privilegiada: tenho uma casa, alimentos, minha família, amigos que me ajudam. Tenho meu trabalho com intensidade. Não podemos reclamar.
 
T+M: Voltando a falar do “Melhor que seja rara”, disco que será lançado no dia do seu aniversário, o que podemos esperar no repertório? 
LP: Será um disco solo, pela primeira vez: piano e voz. E ele é mesmo para comemorar meus 40 anos de carreira! Como te disse, ele será lançado no dia 16 de outubro, mas ao longo do mês, muitas outras coisas serão lançadas. Tem muita coisa a se comemorar! O trabalho foi idealizado pelo José Pedro Selistre [o DJ Zé Pedro], que é meu grande amigo musical! Aliás, ele é um baú de músicas – eu mando pra ele coisas que gravo e que só ele tem, como ele me manda coisas dele, que só eu tenho! É um baú grande! O baú da véia, como a gente chama! [ela ri] É um trabalho muito bonito e que tá me dado muita alegria, porque é meu primeiro solo em 40 anos. Eu já havia tentado outras vezes e a hora é agora! Então já sabem: dia 16 de outubro ele sobe para as plataformas e serão 12 faixas!

T+M: Daquele 31 de outubro, quais lembranças ainda permanecem nítidas para você? Lembra do pensamento quando pisou – na estreia – no palco do Theatro da Paz? Pensa em, assim que for seguro e possível, revisitá-lo para essa celebração?
LP: Essas lembranças são as melhores do mundo! Ainda não posso adiantar, mas possivelmente estarei em Belém ainda este ano! Possivelmente no palco e possivelmente em outubro! Minhas lembranças daquele 31 de outubro são as melhores, como te disse. De pavor, é claro! Eu era muito jovem, tinha recém-feito 21 anos e vim embora para o Rio seis meses depois. Foi maravilhoso! Era uma menina começando a carreira, cheia de amor, de energia, de vigor! A parceria com o Guilherme Coutinho foi muito decisiva para que esse show existisse. Apoio do meu pai, que me ajudou a pagar todo mundo, fazer cenário e tudo mais. São momentos inesquecíveis, de muita emoção e de desafio. Com esse show foi que concluí que não podia prosseguir em Belém, por questões do trabalho propriamente. Foi uma reviravolta na minha vida! Eu ia casar, ser médica! Não casei, não sou médica e saí de Belém! Estou no Rio desde o dia 11 de junho de 1981 – quase uma cidadã carioca também! [ela ri novamente]   

T+M: A gente tem falado muito sobre o papel da Arte em tempos de crise social e política e sobre como ela tem salvado e salvou as pessoas neste período intensificado por uma pandemia. Como observas esse movimento?
LP: Nós, artistas, sempre soubemos que a Arte salva as pessoas. É um caminho de muita luz para sempre – tanto para quem faz, quanto para quem recebe. Esse momento é como se houvesse tocado um sino de lembrete às pessoas da sobre a importância da Arte – para o público, que prestigia, como aos que podem apoiar. Todos se alimentam dessa Arte, quando participam das lives; se iluminam com o trabalho de artistas que, neste momento, não estão ganhando nada por isso! Eu apenas comecei a fazer lives, oferecendo às pessoas a possibilidade de contribuições voluntárias, agora, na penúltima, cantando Roberto Carlos. Conseguimos uma soma significativa, que foi repartida com a minha equipe e que paguei minhas contas. É uma troca e serviu muito para mostras às pessoas, produtores culturais que entenderam que é possível e que é a Arte que os mantêm sãos, quanto para nós. A Arte sobreviverá a qualquer crise! Li a biografia da Fernanda Montenegro e... nossa, o que essa mulher passou! Além dela, tantos outros artistas que enfrentaram guerras, que foram perseguidos... Já aconteceu o diabo e a Arte permanece! É sobrevivência de vida! Tem sido uma grande – dura –, mas grande lição.

T+M: Experimentaste um contato mais intenso com fãs, por meio das lives. Alguma percepção te surpreendeu?   
LP: As lives trouxeram meu público para dentro do meu estúdio e isso tem sido extremamente prazeroso, da mesma forma que intensificou o contato com meus fãs, que têm escrito para meu e-mail de trabalho, me mandam cartas muito gratas, com reconhecimento imenso e profundo por toda essa troca. Faço questão, como sempre fiz, de responder e agradecer pessoalmente a cada um. No caso das lives fechadas, como a que fiz ontem para 20 pessoas, cada uma delas contribuiu com um valor, acordado previamente, e assim pude realizar cada pedido de música de todos. Isso é uma experiência de vida, muito mais que de música. É rara, profunda, eterna. Tive uma experiência semelhante ao gravar um EP, o “Por onde eu for”, em 2015. Havia necessidade dessa contribuição voluntária, para que eu tivesse o montante, um crowdfunding [espécie de financiamento coletivo virtual, “vaquinha” virtual]. Ali eu tinha eu contato diário, diário mesmo, e nominalmente com meus fãs. Um dia, eu falava com a Maria. No outro, com o Augusto. Havia uma conversa prévia, um sorteio de coisas que eu produzia especialmente para eles! Nesse meio tempo, as redes sociais cresceram. Se eu tinha mil inscritos, hoje tenho dez mil. Tenho quase cem mil seguidores no instagram e é assim o mundo digital. As lives de música ou de conversas aproximam nós todos. É tudo muito rico! A percepção que me surpreendeu é quanto as pessoas estão abertas a ajudar – isso é emocionante! Por exemplo, eu não posso te dar mil reais para você construir um muro... aí em Belém tem um abrigo chamado AuFamily [que cuida de animais abandonados, maltratados], que tem uns 800 animais! Eles me pediram ajuda. Não pude dar dois mil reais, mas doei duzentos e assim, de 200 em 200, eles vão conseguir o valor para o muro. Pude ajudar divulgando, passando em frente essa necessidade, para que outras pessoas possam contribuir. Assim tem sido essa corrente solidária e parceira por todos os lados, para todo o mundo. Quem ainda não tá nessa, que abra o olho, ainda dá tempo! Tive uma percepção mais ampla desse elo de afetos e trabalho, de parcerias muito fortes nesse momento. Isso me surpreende e me emociona, me toca profundamente. No meu caso, acho que houve uma colheita de tudo que plantei esses anos. Nada cai de graça no seu colo – a gente faz por onde! Acredito muito nisso!

T+M: Em qual lugar te encontras, Leila? Emocional e fisicamente falando. Me fala um pouquinho do teu “universo particular?
LP: Sou uma mulher de 60 anos... que medito, que moro debaixo do Corcovado. Que toco todo dia, que gravo todo dia. Tô amando e acho que estou sendo muito amada! Acho, não! Tenho certeza! Tô feliz, emocionalmente falando. Meu universo particular é montar cenário para minhas lives e iluminá-las, arrumar um figurino bonito. De leituras importantes, para que eu possa me abastecer bastante de informações para as conversas. Faço um pouco de pilates e muito trabalho! Cuidar dos meus pais. Emagreci bastante, porque estou com muito trabalho e com saúde!  

T+M: Se me permitires voltar um pouquinho no tempo, tenho uma enorme curiosidade: como foi anunciar que deixarias a faculdade de Medicina e dedicar-se à Música? Surpreendeu mesmo as pessoas no teu entorno ou foi um movimento esperado pelo fato de seres uma musicista?
LP: Eu tinha 20 anos e 21, quando estreei o “Sinal de Partida”. Havia uma expectativa, como segunda filha que sou – de 4 filhos, sendo eu a primeira mulher. Somos Alberto, eu, Vera e Marisa, com uma diferença grande de 5 anos entre eu e Vera. De 6 anos, entre eu e Marisa. Havia a expectativa do possível casamento; a possível médica que eu seria. Após aquele dia de outubro, avisei em casa, à minha mãe, que sairia de tudo isso. Não foi fácil. Para ela, pra mim, para meu pai, nem para meus irmãos, afinal, eu sairia de Belém. Ia contra todo o caminho que vinha sido pavimentado havia tantos anos! Mas eu tive muito apoio deles. Fazer o show [Sinal de partida] já não foi fácil. Minha mãe ficou bem assustada com aquilo, mas depois aceitou e apoiou. Somos muito amigos, tanto que moram aqui, no andar debaixo do meu. Sou muito amiga dos meus pais. Minha opção sexual também, sobre a qual ninguém falava na época, eu esclareci logo! “Eu caminho por aqui, sou gay e sigo muito feliz nesse caminho. Também não foi fácil! Essa revelação só houve depois da minha partida para o Rio, já aqui, em uma conversa com os dois. Foi quando passei a viver a vida com o direito que eu tinha de escolher, que todos temos. Nem todos têm o direito de viver suas vidas com esse direito, eu consegui! Isso é uma vitória da minha vida, das minhas batalhas pessoais. Hoje minha mãe é completamente fã do que faço e se emociona, que tem fãs entre os meus fãs. Ela fez anos no último dia 7 de setembro e há 500 mensagens dos meus fãs para ela! [ela gargalha] A vida segue e seguiu, mas não foi fácil. Nada é fácil! A gente tem que lutar pelo que quer e ir cada vez mais fundo. Foi o que eu fiz e sou muito feliz em minhas opções. Não me arrependi em momento algum de tais escolhas.

T+M: A gente vive um ano muito atípico e, para os paraenses, em especial, um ano sem Círio – que já foi homenageado por ti e cuja versão é uma das que mais evocam os sentimentos da festa. Como recebeste a notícia? E como buscar consolo diante de tempos tão difíceis?
LP: [ela suspira longamente] Ah, não caiu a ficha ainda de que não haverá Círio. Não consigo imaginar. Não consigo. Haverá um Círio para cada um, certamente um momento individual. Acho até que haverá algo coletivo nas ruas, porque dificilmente as pessoas aguentarão ficar em casa. Pelo que já soube, a curva da pandemia já está mais baixa em Belém do que já foi. Imagino que no segundo domingo de outubro, estará mais baixa, o que não justifica as pessoas saírem às ruas. Não sei. Tive um convite, relacionado ao Círio, sobre o qual ainda não posso falar, mas é muito atípico, muito triste não ter a procissão esse ano. Vivo o Círio desde que estava na barriga da minha mãe e, enquanto morei em Belém, participava das procissões. Como paraense, o mês de outubro... já não sou nem flor, nem pele. Fico em carne viva. Emocionada, tocada, como todos os paraenses. Às vezes, faço questão de esquecer que não haverá Círio, porque, por ora, não sei onde colocar esse sentimento. Somente Nossa Senhora de Nazaré para nos amparar nesse momento! Tenho buscado consolo na música, nos amigos, nos afetos, no amor e no trabalho. É aí que me ilumino, me alimento, me reabasteço. 

T+M: “Das saudades que tens na vida”, qual delas é uma companhia frequente? Quando pensas em Belém, do que sentes falta?
LP: Tenho muita saudade de Belém. Da vida tranquila, da vida em família. Primeiro, na Generalíssimo. Depois na Quintino. Tenho saudades daquela cidade tão mais calma, que se tornou, posteriormente, uma grande cidade, com violência – como em todas as grandes cidades. Sinto saudade do paraense, do acolhimento; do abraço aberto, da hospitalidade. Sinto falta da comida, dos meus amigos e são tantos, que estão aí! Meus pais estão aqui, então tenho outras expectativas de reencontro com a cidade, porque um dos motivos que levavam a Belém eram eles. Agora quero rever meus amigos. Sinto falta do cheiro, de caminhar nas ruas e do Mosqueiro que não existe não e onde eu me criei. Sinto falta da simplicidade, de tudo! Agora me adaptar à ausência dos meus pais aí e, quando for possível, levá-los aí, para um novo Círio, quem sabe... talvez levar minha mãe para passar o aniversário aí, já que ela tem tantas amigas, grupo de Terço. Meu irmão Alberto e a esposa, Sheila, ainda moram aí, então ficaremos com eles. Saudade a gente consegue cuidar melhor que da ausência do Círio. É um sentimento difícil de arrumar dentro do peito. Mas Nazinha vai nos proteger!

Para conhecer mais:
@leilapinheiro
youtube.com/leilapinheirooficial 

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