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É a hora dele!

Considerado um dos mais promissores talentos da nova geração, Jaloo fala sobre carreira, preconceito, fama e futuro

Por Lorena Filgueiras

Guarde esse nome: Jaloo. Se você aprecia a cena musical alternativa, gosta, conhece ou já ouviu falar. Se ainda não ouviu falar, pode se preparar porque seu nome será um dos mais comentados no Brasil. Nascido no Pará, o artista desponta como um dos mais promissores de sua geração, encantando nomes experientes, do quilate de Marisa Monte, Erasmo Carlos, Caetano Veloso e Marina Lima. Tímido, mas muito pé no chão, Jaloo nos atendeu em meio a uma concorrida agenda de eventos: entre pontes aéreas, gravação do programa Encontro, gravação do novo videoclipe. Falamos sobre o começo de carreira, preconceito, a relação com a fama e sobre os planos futuros – entrevista que vocês conferem a partir de agora.

Troppo + Mulher: Você começou a ser conhecido quando divulgava suas performances na internet. Como a tua história difere de tantos outros que tentam o mesmo caminho?
Jaloo: Eu não sei muito das diferenças, até porque no momento atual temos muitos “filhos da internet” e eu sou um deles. Talvez, o pioneirismo da coisa, já que tenho 10 anos de carreira - mesmo com um modelo tão novo de divulgação e existência. Eu não venho de nenhuma cena musical, nem tenho qualquer pessoa ligada à música na minha família: o incentivo veio de dentro mesmo. Sempre digo que ouvi tanta música, a ponto de me questionar e querer fazer a minha também, daí mergulhei fundo no aprendizado, sou autodidata. Sempre fui. Quando me interesso por algo, consigo aprender coisas novas com muita pesquisa e uma longa sucessão de erros e acertos. 

T+M: E como nasceu o Jaloo?
Jaloo: Em 2009 fiz meu primeiro remix e não tinha um nome pra assinar. Um amigo sugeriu juntar o Jaime com o Melo, meu sobrenome. Coloquei mais um “o” para me encontrar facilmente no Google. Assim nasceu o Jaloo.

T+M: Nasceste no Pará, cresceste em Castanhal... Me conta um pouco da tua infância?
Jaloo: Acredito ser uma das últimas gerações que não foi, assim, tão conectada. Eu fui me conectar à internet e ter um computador com 18 anos. Então fiz de um tudo: brincar na rua com umas 10 crianças correndo pra todo lado, explorar a mata, roubar fruta no terreno do vizinho. Tenho muito orgulho da minha infância! Mas sempre fui tímido também. Hoje em dia eu não sei mais o real motivo de toda timidez, se era por conta da minha sexualidade surgindo na adolescência, mas, quando cheguei aos 15 anos já quase não saia de casa, só estudava e jogava videogame. Porém eu também me orgulho muito disso, porque me levou onde estou agora.

image Jaloo desponta como um dos mais promissores de sua geração e já conquistou nomes de quilate como Marisa Monte, Erasmo Carlos, Caetano Veloso (Divulgação)

 

 

 

 

T+M: Você não sai mais do ouvido da Marisa Monte e Marina Lima também quer gravar contigo. Como é tua relação com a fama e com artistas que admiras?
Jaloo: É sensacional receber carinho e admiração de lugares que você não imaginaria. Quando eu saí do meu camarim no Rio, dei de cara com a Marisa Monte que logo disse "estava te esperando". Foi surreal! Mas é preciso ter os pés bem colocados no chão. Minha carreira vem sendo construída tijolo por tijolo e eu tenho total noção disso. Uma música com elas é super importante e ajudaria minha carreira, mas uma música só minha, cheia de verdade e bem feita, é tão importante quanto.

T+M: Tenho a sensação de és tímido. Ao mesmo tempo, tenho a impressão de que és muito pé no chão. Tua rotina mudou muito? Como lidas com o assédio de fãs e admiradores?
Jaloo: As suas sensações são reais mesmo: sou tímido, ao mesmo tempo que sou muito pé no chão, tanto que em de São Paulo, que é a cidade onde eu vivo e experimento, não abro mão da convivência em sociedade. Sinto que eles têm um respeito muito grande por mim. Às vezes, as pessoas me veem em festas, em locais onde eu não estou exercendo a minha profissão – e eu tenho muito essa ideia de que é uma profissão como qualquer uma outra, como professora ou carpinteiro –, a gente só quer curtir a vida, curtir as pessoas que estão perto da gente, então eu fico muito feliz, porque eu sinto que o público do Brasil inteiro tem esse respeito. O público de São Paulo, que é onde eu moro, tem essa noção de espaço e momento certo. Tem momento pra gente conversar e ficar junto e tem momento em que é necessário dar espaço para o outro, para que ele possa se divertir onde quer que ele esteja. Uma coisa que acho importante te falar também é que eu ando bastante de transporte público. Pego ônibus aqui perto de casa, pego metrô... tento muito fazer esse rolê por dois motivos: o primeiro é que eu não quero abrir mão das minhas liberdades por conta de ser um artista e segundo, porque eu sou um artista independente e a maioria dos artistas independentes não tem dinheiro para motorista particular ou para usar Uber a torto e a direito. Então, é uma questão de necessidade, sobrevivência eu conviver e ver meu público, meus fãs a todo momento. Todo dia, cumprimento e tiro fotos com uma ou duas pessoas. Estou habituado e tranquilo em relação à isso.

T+M: Meteoricamente também já estreaste no cinema, interpretando uma drag queen, convivendo com outro artista pesado, como o Erasmo [Carlos]. Como foi a experiência? Queres aprofundar essa vivência com o Cinema? Tens estudado para tal?
Jaloo: Foi muito difícil atuar no começo. Eu não achava que daria conta, mas tem um dado momento que você percebe a magia que acontece; é tipo uma alquimia, uma união das pessoas que trabalham juntas. Sempre fui uma pessoa muito do backstage, que ficava mais na parte de produção do que à frente. Mas eu fui tomando a frente das coisas e o cinema foi meio um misto disso tudo, porque aprendi os dois lados do negócio.

T+M: Me conta um pouco de como te percebeste artista – afinal, você chegou a se formar em publicidade...
Jaloo: Sempre digo que sou formado em Publicidade, mas que, graças a Deus, nunca exerci (ele gargalha). É porque eu sei o quanto é desgastante! Cheio de pessoas sem sensibilidade, mas no controle; e clientes achando que estão em suas festas de 15 anos, mandando e decidindo tudo – no fim. Então acho que publicitários são guerreiros! Colocar em pauta boas ideias, questionamentos, [ter] respeito à dignidade da pessoa humana e ainda ser criativo -  em meio a pessoas estúpidas e que se acham donas do mundo, não deve ser nada fácil.

T+M: Tens um disco novo a caminho. O que podemos esperar dele? Em quais aspectos ele difere do #1? Teremos participações especiais? Podes adiantar?
Jaloo: No primeiro, mergulhei fundo numas tendências da época e agora, cinco anos depois, estou envolvido em tudo o que está acontecendo musicalmente. Minha música conversa muito com o tempo em que estou vivendo. Vou continuar explorando os temas tristeza e alegria, mas de uma forma um pouco mais madura, por conta das experiências amorosas que tive. Por fim, a expectativa é maior do que a minha força de trabalho pra concretizar. O público quer mais o disco do que eu, pra ser bem sincero (risos). Eu tenho algumas composições prontas há anos, em relação à melodia e letra. Mas produzir, deixar o trampo profissional, é um negócio muito desgraçado! É puxado. Gasta muita energia, muita dedicação e leva tempo. Tanto é que vários artistas têm hiatos enormes. Meu hiato é de quatro anos: é grande, mas eu trampo no meu tempo. Eu sinto que o público quer muito um trabalho novo e isso me dá gás pra seguir, pra me debruçar sobre o trabalho. Porém, esse disco, assim que sair, vai revelar uma bela surpresa pro público. E eu agora vou revelar outra: em agosto ele sai.

T+M: Você nasceu e se criou no Pará, mas teve que ir pra São Paulo para ser visto e ouvido. Te entristece que por aqui ainda seja tão difícil o reconhecimento, divulgação e investimento em novos artistas? Sofreste muito preconceito por ser do Norte? 
Jaloo: Já sofri vários, desde ouvir coisas estranhas na Avenida Paulista – um clássico – até ser seguido por segurança ao entrar em uma loja na Oscar Freire. Essas coisas acontecem com frequência… A todo momento estou sofrendo preconceito. Mas tento não absorver esse tipo de coisa senão a gente não vive, fica carrancudo e rancoroso. Sobre a carreira, eu só sei da minha história e gosto dela. Na verdade, eu nunca contei com um estado ou país pra "cuidar" ou acreditar na minha música – eu acho isso muito perigoso. Colocar culpa no ambiente pelo fracasso. É claro que ajuda, mas as ferramentas de transformação estão nas nossas mãos; nunca esqueçamos disso. Agora, sobre ser nortista, geralmente tem admiração. As pessoas amam nosso sotaque, beleza e história, no geral. Uma vez saí de casa e nem dei dois passos uma garota colocou a cara pra fora da janela do carro e imitou um "índio", tipo "bubububu" {ele faz o gesto com as mãos e a boca]. Eu poderia me prender a esse evento, mas prefiro ficar com as partes legais da minha história aqui. Acho que a grande diferença é que não tenho mais tanta paciência. Se alguém fala que o Pará fica no Nordeste e já falo "Norte, e antes de falar algo - olha o mapa do brasil, não custa nada" (ele gargalha de novo). Então eu fico nessas, luto muito contra isso e tento proteger quem também passa pela mesma situação. Mas também tento ao máximo viver com leveza. É importante.

T+M: Quando vens a Belém, quais as primeiras coisas que fazes por aqui, para se conectar à terra?
Jaloo: Eu sou de Castanhal, que mesmo tão perto de Belém, acaba tendo uma outra realidade: nosso sotaque é mais nordestino - graças à influencia de vários que povoam nossa cidade. Não tem “tu vais nem tu foste”, mas é Pará também, e eu tenho muito orgulho da minha cultura do jeitinho que ela é - cheia de agrovilas e com uma quadra junina cheia de calor e rivalidade, e muita, muita dança! Conheci aparelhagem em festa de interior: ela eram pequenas e eu me divertia muito com meus amigos e muita Brahma fresh (ele ri). Geralmente, quando volto ao Pará só quero isso: estar próximo da realidade que deixei pra trás, perto dos meus amigos tão queridos da minha mãezinha e das minhas irmãs.

Para saber mais:
@jaloomusic

Agradecimentos
Direção do novo videoclipe: @dautogalli
Assistente de direção: @igormarchesi
Diretor de fotografia: @skertas
Montagem e cor: @rodrigodcar
Produção exectiva: @letzspindola
Stylling: @iamtiagoferreira
Assistente de Stylling: @marta_dolive
Fotógrafos: Marina Abadjieff e Victor Bravo
Making of: @rassiamanda

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Troppo
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