Distribuição desigual de vagas em TI no Brasil desafia profissionais paraenses
Região Sudeste concentra mais da metade das vagas no setor de todo o País

Apesar do crescimento nas oportunidades de trabalho em Tecnologia da Informação (TI) no Brasil, a distribuição das vagas é desigual, com 62% delas concentradas no Sudeste, especialmente em São Paulo (44%), de acordo com um relatório do Google for Startups publicado em 2023. O Pará, junto com outros estados das regiões Norte (Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins) e Nordeste (Alagoas, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) representava apenas 2,8% dos empregos em software e tecnologia de todo o país até 2021. Profissionais paraenses ouvidos pelo Grupo Liberal falam sobre os desafios de crescer no mercado local.
Roberto Monteiro, especialista em cibersegurança, mudou-se para o estado de São Paulo há seis anos, após ter trabalhado durante quatro anos, ainda em Belém, para o setor bancário. “Devido ao fato de não terem encontrado outro profissional por aqui, nem no restante do país, que tivesse as qualificações que eu tinha, me fizeram três propostas até eu aceitar me mudar com minha família para Indaiatuba, onde estou até hoje”, conta o atual líder técnico da empresa.
Entenda as diferenças entre os mercados de TI de São Paulo e do Pará
Para Roberto, as principais diferenças entre os mercados de TI no Pará e em São Paulo se resumem ao perfil dos profissionais e à valorização salarial. “O paraense sabe se virar com pouco e consegue facilmente atuar em conjunto com profissionais de outras áreas de TI. Já um sudestino que, por exemplo, trabalha com banco de dados, dificilmente vai mexer com alguma coisa de segurança da informação. Além disso, o que se paga na região Norte para um sênior (no máximo R$ 5 mil), aqui em São Paulo se paga para um estagiário, trainee ou júnior”, compara.
Silvia Muniz, graduada em processamento de dados, deixou a capital paraense em 2005, em busca de melhores oportunidades. “Eu saí porque achava a área de TI muito pequena em Belém e o salário era muito baixo. Na época em que trabalhei numa empresa privada, a gente tinha muito o problema de concorrer com pessoas do Sul e Sudeste, e os contratantes acharem que eles (de outras regiões) eram melhores, porque não teríamos tanta capacidade profissional”, revela. Em Fortaleza, Silvia encontrou um mercado mais dinâmico e promissor. “A oportunidade de emprego aqui é muito maior. Quando eu saí de Belém, vim para cá ganhando três vezes mais do que ganhava lá”, conta.
Além da diferença salarial, Silvia destaca a oferta de eventos de tecnologia na capital cearense. “Aqui, se você quiser ir para eventos de tecnologia todo mês, você consegue. Isso é muito importante para quem quer se atualizar e crescer na carreira”, diz, mencionando também a presença de muitas escolas profissionalizantes focadas em TI. Atualmente, Silvia é gerente de projetos no governo estadual do Ceará e embaixadora do Women Techmakers Fortaleza, programa do Google que incentiva mulheres a permanecerem na área de tecnologia, ainda majoritariamente formada por homens.
Expansão do mercado local é lenta
Para o professor Ermínio Paixão, pesquisador em redes de computadores residente no Pará, o mercado de TI na região ainda está em desenvolvimento. “Um dos grandes desafios que enfrentamos aqui é que o mercado de trabalho ainda está engatinhando. Agora que as vagas e pequenas empresas começaram a amadurecer na Grande Belém”, analisa. O professor destaca que muitos profissionais optam por trabalhar remotamente devido aos baixos salários locais.
Embora algumas áreas de TI estejam em ascensão no Pará, como desenvolvimento e bancos de dados, Ermínio diz que ainda há muito preconceito e falta de investimento. “Muitas pessoas acham que quem trabalha com segurança da informação são apenas ‘hackers’, e as empresas daqui ainda não investem nessa área como as empresas de fora”, acrescenta.
Para os profissionais de TI do Pará que estão considerando se mudar, Roberto e Silvia têm dicas. “Não venha para cá sem emprego. É muito mais difícil conseguir um emprego aqui no Sudeste sem ter experiência em alguma empresa local,” aconselha Roberto. Silvia enfatiza a importância de continuar estudando e se atualizando. “A área de tecnologia está sempre evoluindo. Não pare em uma graduação. Busque sempre novas qualificações”, recomenda.
O pesquisador Ermínio Paixão defende iniciativas público-privadas para promover o setor de TI no Pará. "A ampliação da rede técnica e o incentivo financeiro, apoiado pela indústria, para vagas nas faculdades paraenses, é essencial. Precisamos qualificar nossos profissionais para que possam assumir as vagas que surgem aqui, sendo que, hoje, o Pará é um dos maiores exportadores de mão de obra qualificada”, finaliza.
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