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Rotina saudável é essencial para evitar obesidade infantil

Médico endocrinologista afirma que sedentarismo e dieta desbalanceada podem contribuir para o surgimento da doença

Elisa Vaz

A rotina saudável pode ser uma aliada no combate à obesidade infantil, doença que, além de fatores genéticos, também é impulsionada pela má alimentação e falta de exercícios físicos. Dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), com base em um relatório público do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde, mostram que, em 2021, o sobrepeso afetou 7,74% das crianças de zero a 5 anos no Pará, e a obesidade 7,11% na mesma faixa etária. Já na idade de 5 a 10 anos, 14,34% das crianças estão com sobrepeso, 7,36% com obesidade e 4,61% com obesidade grave ou mórbida. Nesta sexta-feira, 3 de junho, é celebrado o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil.

Médico endocrinologista, Rubens Tofolo Júnior explica a diferença entre esses quadros, que são resultados do excesso de gordura corporal em crianças de até 12 anos. Obesidade, segundo ele, é quando o percentil do peso em relação à idade está acima de 97%, e sobrepeso quando está entre o percentil 85% e 97%. As causas para que isso ocorra, diz ele, estão relacionadas a fatores genéticos ou ambientais, ligados a uma dieta desbalanceada e rica em alimentos gordurosos, além de falta de sono, sedentarismo, ansiedade, depressão e causas hormonais.

A genética conta bastante: a chance da criança ter obesidade é de 40% se um dos dois pais é obeso e de 70% se o pai e a mãe tiverem a doença. Características gestacionais e do nascimento também influenciam. Rubens afirma que toda criança que nasce acima de 4.000 gramas (bebê macrossômico) tem maior probabilidade de se tornar um adulto obeso, o que, em geral advém de gestantes que ganham muito peso durante a gravidez ou são diabéticas. Por isso ela deve ser acompanhada de maneira mais cuidadosa por um endocrinologista pediátrico ou pediatra.

“Se uma criança é obesa aos dois anos de idade, tem muita chance de ser obesa para o resto da vida. O Ministério da Saúde, em 2022, estima que 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso no Brasil e, segundo esse mesmo estudo, uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos de idade está com o peso acima do normal: 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade”, alerta. As consequências disso podem ser isolamento, bullying, baixa autoestima e, a longo prazo, problemas nas articulações, diabetes, acnes, doenças respiratórias, obesidade mórbida, complicações renais e outros casos.

Acompanhamento gera mudanças

A prevenção e o tratamento da obesidade passam por mudanças comportamentais, de acordo com o endocrinologista, privilegiando uma alimentação balanceada e mudando o estilo de vida. É preciso fazer uma análise dos hábitos alimentares tanto da criança como da família, além do acompanhamento das medições de peso e altura. Toda a família deve estar envolvida, dando exemplo para o pequeno, e brincadeiras de rua e em grupos devem ser incentivadas, pois são positivas no aspecto físico e emocional, já que possibilitam mais socialização. Além disso, Rubens pontua que a obesidade infantil também vem das telas, e por isso crianças de 2 a 5 anos de idade devem ser limitadas a uma hora por dia - o ato de comer olhando para telas deve ser evitado, assim como o uso no quarto antes de dormir.
 
A orientação de um profissional da nutrição deve ser diferenciada e prazerosa para que a criança consiga se adaptar, e que também não seja radical, mas implantada aos poucos. Rubens ressalta que uma criança obesa na puberdade tem 40% de chance de manter esse quadro na vida adulta, enquanto adolescentes têm 70%.

Nutricionista, Vivian Rodrigues diz que o impacto de uma alimentação inadequada, além de promover o ganho de peso excessivo na infância, pode causar deficiências de vitaminas e seletividade alimentar. “Desde dos primeiros anos de vida, a nutrição já desempenha um papel fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança. A formação das preferências alimentares irão impactar no hábito alimentar posteriormente, por isso a alimentação nos primeiros anos de vida baseada em alimentos ultraprocessados, bolachas doces, bebidas açucaradas e doces está associada ao maior ganho de peso e alterações lipídicas”, ressalta.

Mas restringir o consumo de alimentos que a criança já está adaptada a comer pode ser mais prejudicial do que se imagina. Segundo a especialista, o ideal é a modificação de pequenas metas, e a família precisa estar envolvida no processo. A criança ainda deve ser acompanhada por uma equipe com educador físico, pediatra, psicólogos e outros especialistas. 

Mãe se preocupa com alimentação dos filhos

Adepta de um estilo de vida saudável, a bancária Camila Castro Ferraz, de 25 anos, tenta dar exemplos constantes aos dois filhos. Um deles tem seis anos de idade e o outro apenas 10 meses, e ambos já seguem uma dieta equilibrada, sem exageros na ingestão de guloseimas e comidas industrializadas.

Ela conta que praticar exercício e manter um estilo de vida mais saudável se estende a todas as áreas de sua vida. “Em nossa casa tento mostrar pelo exemplo o que podemos conseguir sendo disciplinados e cuidando do nosso próprio corpo. Apesar de ser difícil controlar o paladar infantil, que é bem normal para a idade deles, opto por sempre ter lanches ou ‘petiscos’ mais naturais, diminuindo o consumo de industrializados e acostumando eles a comerem comida de verdade”, diz.

Na primeira gestação, Camila não se alimentava adequadamente e não praticava exercícios físicos, então o primeiro filho cresceu tendo hábitos alimentares que via dentro de casa. Embora ela tenha mudado de lá para cá, não conseguiu transformar totalmente os costumes do primogênito e o processo tem sido a passos lentos. “É um trabalho que tenho ciência que vou ter devido ao que eu mesma ensinei, apesar de hoje em dia estarmos bem melhores do que antes. Venho a cada dia reforçando o consumo de alimentos naturais e a importância de realizar todas as refeições do dia”.

Já com o segundo filho, a mãe aproveita o recurso e o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos para apresentar a ele alimentos nutritivos, uma rotina dentro dos horários e a devida alimentação cada vez mais próxima da rotina de um adulto. Isso inclui o que é consumido, a forma como será ingerido, a mastigação, o ato de levar o alimento até a boca, beber água após se alimentar e mais.

A preocupação de Camila é com a saúde dos filhos em geral, mas também acredita que os hábitos saudáveis desde cedo podem evitar o surgimento da obesidade e outras doenças que vêm como consequência. Inclusive, a mudança na rotina do filho mais velho surgiu após o diagnóstico de colesterol alto para a faixa etária dele. “Quem se preocupa com isso quando a criança tem apenas cinco anos?”, questiona ela.

“Geralmente, nós damos desculpas e falamos que é a fase, que logo passa. Mas quando observamos o que está sendo feito dentro da nossa própria casa notamos pequenos detalhes que talvez estejam sendo realizados de maneira totalmente irresponsável por nós, pais, e daí vem a importância de criar um alerta e buscar entender a necessidade de aplicar uma mudança, até porque se fôssemos ensinados desde cedo sobre bons hábitos dificilmente enfrentaríamos esse tipo de problema na fase adulta”, opina a bancária.

Historicamente, a família de Camila não tem casos de sobrepeso e obesidade, mas há muitas pessoas com doenças cardíacas, o que também a incentiva a cuidar da saúde com antecedência. A mãe lamenta não ter sido ensinada desde cedo sobre o autocuidado, e por isso tenta passar o exemplo aos filhos. Além da alimentação, ela também é adepta dos exercícios físicos e quer ser atleta futuramente - o primogênito chega a acompanhar Camila nos treinos. Essa é outra influência da mãe na rotina das crianças.

“Se você se dedica em não faltar os treinos, dar o melhor de si em cada aula, se desafiar e tudo mais, quando menos espera está agindo assim nas outras áreas da vida também, e os resultados começam a fluir de forma instantânea, onde você observa que é o único e principal responsável por suas escolhas. A atividade física me transformou. Me tirou de um ciclo vicioso de ansiedade e compulsão, me fez ser melhor em meu trabalho, ter mais tempo de qualidade com minha família e ainda me trouxe o hábito de ler livros. Parece absurdo, mas foi exatamente assim. A recompensa é maravilhosa”, relata a mãe.

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