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Projetos paraenses são selecionados por grupo internacional

Os Jovens Transformadores da Amazônia agora serão inseridos em uma rede de atuação

Elisa Vaz

Cinco paraenses foram selecionados pela Ashoka, uma Organização Não Governamental (ONG) que atua no campo do empreendedorismo social em 92 países, na edição brasileira do programa Jovens Transformadores de 2021. Eles estão entre os sete amazônidas selecionados, entre 16 e 18 anos, a um grupo internacional de jovens que lideram iniciativas de transformação social. Os brasileiros passaram por um longo processo seletivo que iniciou em junho do ano passado e contou com entrevistas e conversas com empreendedores sociais, educadores, comunicadores e gestores públicos. A etapa final, o “Painel”, foi realizada em dezembro, na cidade de Manaus.

Um dos projetos paraenses que foram selecionados é o Equidade, criado na capital em 2019 pela estudante de ensino médio Beatriz Lacerda, de 17 anos, que é também ativista pelos direitos da juventude e da diversidade. O objetivo é levar a discussão da diversidade para dentro das salas de aula do ensino público de educação.

“A ideia surgiu quando entrei na escola pública para cursar o primeiro ano do ensino médio. Eu já sabia de toda aquela péssima realidade por ser de uma família de professores da rede, mas vivenciar aquilo todo dia é bem diferente. Foi nesse lugar de apagamento social que tive a ideia de criar um espaço seguro para eles, em que pudéssemos ser quem nós somos, um lugar de voz”, comenta a estudante Beatriz.

As ações começaram a ser realizadas dentro dos horários vagos durante a semana, e os alunos foram ajudados por uma professora do corpo escolar, Júlia, da disciplina de sociologia. Após três anos de atuação, a rede conta com 10 pessoas, entre voluntários e colaboradores, que atuam para inserir esse espaço nas escolas públicas do Pará. Na avaliação de Beatriz, a iniciativa é importante enquanto política pública, pois as próprias instituições de educação não enxergam o potencial de transformação dos alunos. Dentro do projeto, a equipe fala sobre vivências e existências que são diariamente negadas.

O primeiro contato com a Ashoka foi em 2020, mas Beatriz conta que foi desclassificada a alguns passos da fase final. Agora, em 2021, ela decidiu voltar mais preparada e tentar novamente, até porque o processo se dedicava especificamente à juventude amazônica. “Além do formulário de inscrição, entrevistas e rodas de conversas, falamos até mesmo com o Bill, fundador da Ashoka, sobre como nós poderíamos compartilhar as nossas vivências com eles e nos juntar ao movimento ‘Por um mundo de pessoas que transformam’. Todo esse processo culminou na fase final, o Painel, em Manaus, onde tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente a equipe que já acompanhava o nosso trabalho há alguns meses e pessoas que hoje são a nova turma de Jovens Transformadores da Amazônia.”, conta.

Beatriz diz que foi uma surpresa ver essa oportunidade direcionada a nortistas, porque mostrou o poder e a voz dos moradores da região. Neste ano, haverá novas ações do projeto no Pará, como cursos online, nova chamada de voluntários e até parcerias externas. O grupo também espera expandir o projeto em Belém para atingir mais jovens. “Eu sempre vejo as pessoas falando que a juventude é o futuro da nossa nação e eu rebato. Não somos o futuro, nós somos o hoje. Temos que parar de pensar sempre no amanhã e começar a agir no agora, a mudança da sociedade só vai acontecer se nos levantarmos uns aos outros e é extremamente por isso que o projeto é importante”.

Projetos do interior do Pará são escolhidos

Outro paraense selecionado foi Rian Santos, de 17 anos, também estudante de ensino médio. Ele, que é escritor e poeta, é um dos coordenadores do projeto Biblioteca Gurupá, na Comunidade Remanescente de Quilombo de Gurupá, no Município de Cachoeira do Arari, que surgiu com a necessidade de um espaço para leitura e pesquisa de trabalhos escolares, e também para fomentar a cultura, incluindo peças teatrais, rodas de conversas e saraus. O grupo tem um ano, mas, na pandemia, com as restrições, as atividades têm sido realizadas com moderação.

Segundo Rian, o grupo tem o objetivo de levar, por meio da arte e leitura, conhecimento e identidade à comunidade. “O projeto deixa para sociedade que, por meio da educação, podemos moldar um corpo social cada vez mais justo e igualitário. A importância é gigantesca. A nossa região, tão sofrida e subjugada, ter essa juventude amazônida selecionada pela Ashoka é algo de uma representatividade muito grande. Temos quilombola, indígena, negros, estudantes, jovens que mudam a realidade à qual são inseridos trazendo alcance muito maior à nossa região. Ter esses nomes representando-a por si só já é algo grande e ter essa responsabilidade de ser um deles é surreal, como se gritássemos ‘estamos aqui, somos Amazônia’”, ressalta o adolescente. A intenção agora é construir o espaço físico da Biblioteca, alcançar mais pessoas e fomentar nelas o desejo pela arte, cultura e literatura.

A estudante de ensino médio e ativista paraense Clara Gentil, de 17 anos, também foi selecionada pela Ashoka. Ela faz parte do projeto Escola D’Água Swarovski e criou também uma iniciativa pessoal em Santarém: um projeto de plantio chamado “Plantar um Mundo Melhor”, desenvolvido há quatro anos nas escolas, junto a alunos que são crianças e jovens, para trabalhar com a conscientização das novas gerações desde cedo. Para ela, a contribuição é uma sociedade mais consciente, limpa e unida.

“Se você tem conhecimento, tem tudo. É o que precisamos, e melhor que ter só o conhecimento é fazer a ação. Se eu consegui mudar a visão dos alunos da minha escola, por que não mudar a visão do mundo?”, questiona. “Acho de grande importância ter sido selecionada. Quem melhor para falar da Amazônia e cuidar dela do que nós, que vivemos nela? Nós, indígenas e povos da Amazônia, somos fortes e vamos conseguir lutar por ela”, celebra. Agora que Clara está entre os Jovens Transformadores, pretende levar a iniciativa e inspirar pessoas em outros lugares.

Ativista educacional e social, a estudante de ensino médio Lívia Maria Souza da Silva, de 17 anos, tem um projeto que alcançou destaque, o “Levanta Jovem”, focado em incentivar o protagonismo juvenil e capacitar jovens para se tornarem líderes em suas comunidades, criado no município de Capanema. O grupo existe desde 2020, mas só passou a ser ativo em 2021, por conta da pandemia. Segundo Lívia, o propósito é fazer com que os jovens da região Norte se vejam como líderes e sejam capacitados para atuar como tal. Para isso, são oferecidos workshops, palestras e mentoria, com o intuito de desenvolver autoconhecimento e para que essas pessoas entendam o que é o ativismo e aprenda habilidades de oratória, escrita de projetos e de liderança.

“A contribuição que o projeto deixa é justamente a formação de liderança local, acho que é algo muito importante. Se você pensa na Amazônia e no nosso contexto, os jovens não se sentem representados nem capazes de gerar mudança, não veem valor nas suas ideias. Quando você vai e trabalha isso, ele desenvolve uma habilidade de beneficiar a comunidade local em que ele está inserido. Ter tantos amazônidas selecionados é importante porque tem a ver com essa representatividade, de se enxergar no outro”, opina a estudante.

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