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Projetos incentivam empreendedorismo feminino

Seja na moda ou na construção civil, o intuito é inserir cada vez mais mulheres na economia

Elisa Vaz

Ao longo dos últimos anos, a mulher tem ocupado cada vez mais espaço na sociedade, inclusive no mercado de trabalho. Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, em Nova York, o Dia Global do Empreendedorismo Feminino, celebrado no dia 19 de novembro. De acordo com dados divulgados pela Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa), das 72.184 empresas abertas no território paraense no ano passado, 30.893 eram comandadas por mulheres – 43%. Neste ano, o percentual cresceu para 44% e as mulheres abriram 33.733 das 76.972 empresas abertas no Pará.

Mesmo com o crescimento, muitas dessas pessoas ainda sentem dificuldades na hora de abrir o próprio negócio. Em alguns casos, mulheres vítimas de violência doméstica não deixam suas casas porque dependem financeiramente de seus companheiros. Portanto, ainda é preciso caminhar para reduzir a desigualdade de gênero no mercado, de forma que mais mulheres consigam empreender, seja qual for a condição social ou econômica a qual pertencem.

Vários projetos sociais em Belém têm o intuito de estimular a independência financeira das mulheres. Um deles é o Minerva, ligado ao Time Enactus da Universidade Federal do Pará (UFPA), voltado para o empreendedorismo social. A líder do grupo, estudante de enfermagem da UFPA, Monique Amoras, conta que a ideia é inserir mulheres em situação de vulnerabilidade no mercado de trabalho, por meio da capacitação. Elas são conectadas, pelas plataformas virtuais, a mulheres que precisam contratar os serviços de outras mulheres que são profissionais em reparos domésticos e pequenas reformas.

“Elas são profissionais que, muitas vezes, sofrem resistência em prestar seus serviços dentro de um mercado ainda tido como masculino. Agora, elas podem divulgar seus serviços, com mais segurança e qualidade, para outras mulheres, fornecendo um ambiente seguro para ambas. E para gerar ainda mais impacto positivo nesse mercado, desenvolvemos o Minerva Labs, um conjunto de cursos práticos em áreas como hidráulica, pintura, instalações elétricas e revestimentos, para que mais mulheres possam se qualificar e ter uma oportunidade de ingressar no mercado da construção civil”, aponta Monique.

Com três anos de atuação, o Minerva surgiu para diminuir a desigualdade de gênero existente no mercado da construção civil, levando a devida capacitação a mulheres que já estão inseridas ou querem entrar no ramo. Após a capacitação, os serviços são direcionados para as mulheres de acordo com o eixo de trabalho inseridas e da rotatividade das solicitações para cada pessoa.

Atualmente, a solução está rodando na fase protótipo, por meio do WhatsApp Business e de mídias sociais, com uma equipe de profissionais já atuante em Belém. A segunda turma de Minervas concluirá sua qualificação em janeiro de 2022, para então serem incluídas na plataforma e começarem a gerar renda. O Minerva Labs, que é um laboratório de aprendizagem, abrange aulas teóricas e aulas práticas sobre precificação dos serviços, pintura, revestimento, hidráulica e elétrica. Após este momento, as mulheres são chamadas de “Minervas”, recebem o uniforme e já estão aptas para receberem os serviços mediados pela equipe.

“Hoje nossa equipe é multidisciplinar, formada por universitários dos cursos de administração, medicina, enfermagem, direito e engenharia civil, divididos nos setores de gerência, marketing, comercial e serviços. Já passaram pelo nosso projeto 30 mulheres, e atualmente estamos planejando inserir novas mulheres por meio de um edital de seleção”, conta Monique.

Na avaliação da líder, o Minerva é um projeto importante pois traz consigo uma proposta de valor única e de inovação no mercado, tanto pelo impacto social de capacitar as mulheres e inseri-las no ramo profissional, como para solucionar o problema de que, com a rotina movimentada e corrida, os reparos residenciais são deixados de lado e a contratação de um profissional prevalece. Monique diz que, das quase 63 milhões de residências no Brasil, mais de 80% vão precisar de uma manutenção pelo menos uma vez por ano.

“É nesse momento que surge a segunda problemática que o projeto soluciona, já que mulheres podem se sentir inseguras ao contratar um homem para sua residência, haja vista que os dados mostram que, a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal, e mais de 70% dessas agressões acontecem dentro de nossas próprias casas. E atualmente o mercado só apresenta profissionais homens, e sem saber como encontrar alguém que faça o serviço com qualidade e segurança. Um reparo que deveria ser simples, acaba se tornando um transtorno para essas mulheres. Minerva tem como foco transformar esse cenário de desigualdade e medo em um espaço em que mais mulheres possam exercer sua profissão com qualidade, ética e segurança”.

Por meio do empreendedorismo, diz Monique, é possível encontrar um caminho para transformar a sociedade com igualdade de gênero, mostrando que a mulher possui competência para gerir negócios e trazer resultados. O Time Enactus é uma associação civil sem fins lucrativos, que, em parceria com a UFPA, empresas e outras entidades, almeja promover melhorias em comunidades em situação de vulnerabilidade social e econômica, a partir da criação, desenvolvimento e aplicação de projetos de empreendedorismo social.

O Da Tribu é outro grupo que atua buscando mais espaço para as mulheres na economia. O empreendimento social de moda sustentável tem atuação junto às comunidades ribeirinhas da ilha de Cotijuba, em Belém, levando a arte sustentável, que vem da floresta e dos povos indígenas, por meio da borracha amazônica. Cerca de 30 pessoas fazem a colheita do látex e produzem joias feitas de biomateriais, que são fios e tecidos emborrachados a partir da borracha da Amazônia. Predominantemente, mulheres fazem parte do grupo, e mais 10 foram capacitadas recentemente.

Integrante do grupo, Tainah Fagundes lembra que o projeto já existe há 12 anos, mas da forma como as ações ocorrem hoje, há sete. “Nasceu da minha mãe, solteira, com três filhos para criar, uma realidade comum no Brasil e na Amazônia. Ela conheceu a borracha dentro de uma feira de tecnologia social e começamos a trabalhar com o grupo a partir disso, em 2014. Nós mergulhamos mesmo na comunidade, tem diálogo, tem troca, antes de impor algo de fora primeiro entendemos o fluxo. Para desenvolver joias, olhamos para essas mulheres junto à borracha, depois de uma história masculina de colheita. Mas desenvolver fios e tecidos era algo que eles não faziam, então trouxemos isso para dentro do processo e direcionamos às mulheres, que geralmente estão envolvidas com a comida, crianças e agora têm mais uma atividade e podem contribuir com a renda da família e ter mais autoestima”, comenta.

Além de uma marca de jóias, o Da Tribu está envolvido e comprometido com a causa e a economia da floresta e com o protagonismo feminino. A ideia, segundo Tainah, é dar espaço para que as mulheres se reconheçam donas de si, potencializando o pertencimento amazônico e aprimorando essas redes econômicas de mulheres. O grupo ainda leva para as comunidades formações sobre manejo sustentável, empoderamento feminino, organização e a ideia do coletivo. Tainah e sua mãe não são de uma família empreendedora – para a filha, poder atuar com a arte e a cultura aliadas à economia é motivo de orgulho.

“Nós viemos de uma história de mães solo, que tiveram que sustentar filhos, batalhar, e sempre desvalorizadas. Esse lugar da mulher na economia é recente. A moda que fazemos fala de resistência, luta, não é só um objeto artístico, tem peso crítico. Acho que impactamos as pessoas no sentido de qualidade de vida, percepção política, crítica, financeira e de autoestima também. Temos que mostrar nossa sabedoria. Não é tempo de silenciar, temos uma luz potente que precisa ser vista e valorizada”, argumenta Tainah.

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