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Projeto discute acessibilidade em municípios do Marajó

'Gabriel Expedito' leva o nome de um adolescente com deficiência que faleceu aos 15 anos e sensibiliza a sociedade sobre as dificuldades desse público

Elisa Vaz
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Criar debates sobre inclusão social no Arquipélago do Marajó, no Pará, é o principal objetivo do projeto Gabriel Expedito, movimento que busca alertar e sensibilizar a população marajoara sobre as dificuldades que as Pessoas com Deficiência (PcD) enfrentam quando não existe acessibilidade em uma cidade. A iniciativa, que faz parte da Organização Não Governamental (ONG) Movimento pela Inclusão do Marajó (MIM), surgiu em Breves, mas está integrada com outras cidades da região, que escolhem quais ações querem realizar.

Por exemplo, Muaná reuniu informações em uma rádio municipal; em Melgaço vai ser feito um trabalho junto aos professores, sobre acessibilidade e tecnologias assistivas; Curralinho terá uma roda de conversa com profissionais e pessoas com deficiência; Bagre mapeia os locais que têm acessibilidade; Santa Cruz do Arari teve informativos em folder; entre outros municípios.

Em Breves, onde o projeto nasceu, há muitas ações envolvendo a temática. Uma das mais importantes foi a solicitação de um Projeto de Lei na Câmara Municipal que trata sobre acessibilidade. Além disso, a cidade já teve atividade de banho assistido em um balneário, exclusiva para pessoas usuárias de cadeiras de rodas, e vai trabalhar com adesivaço em rampas que existem, mas não têm as placas para identificar.

Segundo a coordenadora-geral do projeto, Edivana Vieira, o trabalho intenso já rendeu uma aprovação a nível estadual, na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa). A matéria garante a acessibilidade em embarcações. "É algo muito marajoara. As pessoas em cadeiras de rodas, quando chegam na embarcação, encontram dificuldade para atar sua rede, não têm onde guardar cadeira, então escrevemos um projeto para a criação da lei que reserva um local para PcD nas embarcações", relata a coordenadora-geral.

Usuária de cadeira de rodas, Nilda Silva, de 59 anos, é voluntária da ONG e moradora de Breves, no Marajó. Ela conta que transita muito pelas ruas da cidade e vê a dificuldade de quem tem alguma deficiência. "Nós, cadeirantes, encontramos muitas barreiras. São poucas as rampas que existem em nossa cidade, nos supermercados, nas igrejas, nas lojas. É um pouco difícil, e onde tem as rampas para nós as pessoas ocupam, deixam seus carros, suas motos, suas bicicletas, e quando vamos subir ou descer está ocupada, muitos não têm respeito por nós que somos cadeirantes, que precisamos da rampa", relata.

Nas embarcações, as dificuldades são ainda maiores, segundo ela. Logo na entrada a falta de acessibilidade fica estampada: a subida não é ideal para quem não consegue se locomover normalmente. Na hora de embarcar, os deficientes físicos são carregados e suas cadeiras vêm atrás; e eles não têm acesso à lanchonete da embarcação porque fica no terceiro andar; entre outros exemplos citados por Nilda. "Essa ONG é muito importante aqui na nossa cidade de Breves porque atende as pessoas que necessitam de sua cadeira de roda, que não conseguem ir a Belém. Eu sou uma lutadora, sei os meus direitos e não fico parada, corro atrás", ressalta Nilda.

Outra atuação importante do grupo é mapear o número de pessoas que precisam de cadeiras de rodas na região e fazer a arrecadação e entrega desses instrumentos de locomoção. "Tudo o que temos feito dentro desse projeto é chamar a atenção da comunidade marajoara para a acessibilidade. Os municípios do Marajó estão se desenvolvendo aos poucos, arquitetonicamente e estruturalmente, mas é preciso desenvolver com acessibilidade, e estamos nessa luta. No Marajó é bem difícil tratar desse tema".

Homenagem

O nome do projeto é uma homenagem a uma Pessoa com Deficiência (PcD). Gabriel tinha 15 anos quando faleceu, em 2014, após conviver com uma deficiência física que o impedia de se locomover. A mãe dele, Margareth Oliveira, de 59 anos, que é professora aposentada e uma das coordenadoras do projeto, conta que sempre lutou pelos direitos de seu filho e fez tudo o que pode por ele, mas enfrentou muitas dificuldades no caminho.

"Tinha que me deslocar de Breves para Belém com frequência, porque na minha cidade não tinha muito apoio e recurso para tratar ele. Nessas viagens tinha dificuldade no acesso dentro dos barcos, tinha que subir escadas com ele no colo, cheguei a carregar ele por várias distâncias na capital porque não tinha dinheiro. Ele faleceu há mais de oito anos por uma parada cardíaca. Fui alertada de que a qualquer momento ele podia partir. Ele tinha 15 anos quando faleceu e partiu sorrindo. Foi difícil para mim, como mãe, mas fiz tudo o que podia por ele", relembra.

Mesmo agora, sem o filho, Margareth não deixou de lutar. Assim como seu filho enfrentava problemas, outras pessoas com deficiência também precisam de apoio, acolhimento e orientação, segundo ela, e é dessa forma que o projeto que leva o nome de Gabriel atua, buscando direitos e mais acessibilidade para esse público. A mãe diz que um dos objetivos do grupo é melhorar a qualidade de vida das PcDs no Marajó como um todo, não apenas em Breves. Margareth ainda lamenta ser tão difícil encontrar, em cidades pequenas e até em grandes, acessibilidade de qualidade.

Um ensinamento que ela leva consigo é aproveitar o filho ao máximo e, caso ele tenha alguma deficiência, não ter vergonha ou escondê-lo do mundo. "Uma coisa que via muito antes era mãe ter vergonha do filho especial ou ter aquela superproteção, não deixava ele participar de nada. O Gabriel sempre foi presente e sempre conviveu com outras crianças mesmo tendo deficiência física. Tem mais de oito anos que ele faleceu e vimos que havia necessidade de orientar famílias com pessoas com deficiência. Fiquei muito satisfeita por levar o nome do meu filho", declara a professora aposentada.

O Gabriel Expedito trabalha, principalmente, com orientações e informações junto a este público, e por isso quem quer contribuir pode ajudar orientando pessoas em sua cidade. A ONG MIM também atua fazendo vendas para ajudar as PcDs no Marajó, além de fazer arrecadações e doações, palestras, orientações, caminhadas, visitas, panfletagens e diálogo com autoridades, entre outras ações que contam com cerca de 30 voluntários. Quem quiser ajudar com alguma quantia em dinheiro para manter as atividades do projeto pode fazer um PIX para as chaves mariamargo10@gmail.com ou 190.164.682.34.

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