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Projeto de acolhimento gera oportunidades para jovens

Ações incluem emissão de documentos e inserção no mercado de trabalho

Elisa Vaz

Jovens e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social e sem espaço no mercado de trabalho encontram uma oportunidade dentro do Espaço de Acolhimento do shopping Castanheira, em Belém, que atua com o intuito de resgatar a cidadania dessas pessoas. A iniciativa, que existe há pouco tempo, desde março, já atendeu mais de 400 jovens e desenvolve políticas de segurança, assistência e judiciárias, atuando na rede integrada, com acolhimento humanizado e escuta qualificada para entender as demandas do público. A partir desse diagnóstico, é feito o encaminhamento assertivo.

Coordenadora do grupo, a assistente social Luciane Ferreira explica que o projeto é voltado para atuar nas demandas sociais dentro das repartições privadas. "Hoje em dia, devido ao grande descompasso social, principalmente com a covid-19, estamos sentindo que está crescendo a desigualdade social, a fome, o trabalho infantil, a ociosidade do jovens, são vários fatores negativos. Então, o espaço de acolhimento vem, em um ambiente privado, atender às demandas sociais, identificadas junto com a assistente social, é um espaço diferenciado", comenta.

Mesmo com a extensa atuação social, o projeto não tira a competência do que é externo no âmbito de política pública, mas busca fortalecer a cidadania dos jovens por meio da emissão de documentos como identidade, certidão de nascimento, carteira de trabalho, título de eleitor e até alistamento militar, no caso de homens; incentivo aos estudos; e a inserção no mercado de trabalho. Em pouco mais de um semestre, os profissionais já veem resultados positivos: hoje, quatro jovens já foram absorvidos pelo mercado e estão trabalhando; 16 estão fazendo qualificação profissional para trabalhar; e 57 passam pelo processo de organização documental.

Além de catalogar e ajudar os adolescentes e jovens, o espaço também faz um direcionamento junto à família, para que os membros da casa entendam que é preciso combater a marginalização e garantir os direitos de proteção dessas pessoas. "Fora do nosso funcionamento normal, marcamos, durante a semana, um horário para cada família que precisa de atendimento individualizado. Muitas vezes os jovens querem ter oportunidade, mas não estão organizados, então temos que mostrar para a família que é uma oportunidade de ouro. A mãe, por exemplo, precisa entender que o filho está tomando um direcionamento. Muitos jovens querem trabalhar, mas não recebem apoio da família, mas ela precisa se jogar também para ele ver que está amparado", ressalta Luciane.

Geralmente, o projeto funciona com a ajuda dos trabalhadores do shopping. Ou seja, se um segurança ou outro profissional vir uma criança, adolescente ou jovem passando muito tempo no local, ocioso, pode relatar para o Espaço de Acolhimento, que vão até essas pessoas e apresentam o projeto. Se o jovem tiver interesse, o grupo coloca ele no catálogo e começa a indagar sobre sua vida e escutá-lo para descobrir quais são suas necessidades e por que passam tanto tempo no shopping.

image Espaço fica dentro do shopping Castanheira e funciona todo sábado. (Filipe Bispo)

"Isso é um resgate de cidadania. A partir do momento em que nós começamos a catalogar, identificamos que vários jovens não tinham documentos, e tinham objetivos, sonhos, que poderiam ser transformados em realidade. Então, essa escuta é muito importante para identificar a necessidade desses jovens", declara a assistente social. Mas pessoas de fora também podem participar: basta procurar o espaço aos sábados, dia em que os voluntários funcionam.

Parceiros

Além de assistentes sociais, fazem parte do projeto promotores, delegados, policiais, coronéis e juízes, porque o Castanheira tem parceria com órgãos públicos que também atuam no resgate da cidadania, a exemplo das Polícias Civil (PC) e Militar (PM), Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) e a Defensoria Pública do Estado (DPE). O juiz Vanderley Silva, da 3ª Vara da Infância e Juventude de Belém, do TJPA, diz que a parceria tem fundamento na própria Constituição e no ordenamento jurídico porque o artigo 227 da Constituição fala dessa parceria a nível de obrigatoriedade, sendo uma responsabilidade social cooperativa.

"Lá fala que família, sociedade, todos nós temos obrigações em garantir aquilo que é fundamental em termos de direitos humanos da criança, do adolescente e do jovem. Então, esse espaço social é a reverberação em concretude, de forma consistente, dessas parcerias que unem os três setores da sociedade, e o Tribunal não poderia ficar fora. O acolhimento é um ponto fundamental e uma porta aberta para esses adolescentes e jovens, a fim de que sejam encaminhados para que eles possam experimentar verdadeiramente o que é dignidade e o que é cidadania", avalia.

O coronel Getúlio Rocha, da PM, explica que a atuação do órgão junto à iniciativa se dá toda vez que há necessidade de ação da Polícia Militar, em que os jovens estejam em uma situação de vulnerabilidade social e seja preciso fazer conduções para Conselhos Tutelares, abrigos ou até às famílias, para resguardar a integridade física do jovem. "O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determinou que as forças de segurança pública tivessem pessoal qualificado para trabalhar com esse público infantojuvenil. Temos algumas práticas muito positivas desses jovens voltando para a escola, esse acompanhamento da família para o primeiro emprego, isso é dar oportunidade. Se uma pessoa que nós conseguirmos tirar da vulnerabilidade social voltar a estudar, a trabalhar e tiver efetivamente oportunidade, o projeto já deu certo".

Para o diretor de policiamento metropolitano, delegado da PC Daniel Castro, além da emissão de documentos, a maior importância da atuação do órgão junto ao projeto é no resgate da cidadania e conscientização dos jovens, por meio de palestras de identificação, ensinando condutas, o que é crime e a importância de conhecer as infrações. Segundo ele, a Polícia Civil é um pilar na reeducação, que, na avaliação do delegado, é um viés importante, por poder prevenir o mau comportamento e incentivar jovens e adolescentes a seguirem a carreira policial, por exemplo.

"Quando você tem um espaço em que toda a rede está presente, você está oportunizando a uma pessoa reescrever a sua história. Aqui é uma forma micro, mas de um alcance muito grande, porque o local é tido como o 'templo do consumismo', mas pode ser também um 'templo de oportunidades'", enfatiza Daniel Castro, da Polícia Civil.

Já a função do MPPA é de conscientizar e prestar esclarecimentos às mulheres que buscam o Espaço de Acolhimento, principalmente no âmbito de violência doméstica, seja física, psicológica ou financeira. É o que afirma a promotora de Justiça Ângela Maria Balieiro. As vítimas serão orientadas sobre qual órgão buscar em casa de agressão e serão encorajadas a prestar depoimento. Além das mulheres, os agressores também podem buscar informações - esta é uma forma de combater o problema de forma permanente.

Onde fica o projeto?

Espaço de Acolhimento

Local: Shopping Castanheira

Dia de acolhimento: aos sábados

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