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'Ponto de Apoio' retoma atividades após dois anos

Projeto que realiza passeios gratuitos no Parque do Utinga para pessoas com deficiência e idosos volta a mobilizar parceiros e voluntários

Fabrício Queiroz

Realizar um passeio de bicicleta aos fins de semana no Parque do Utinga é um programa rotineiro para muitas pessoas. Porém, para uma parcela significativa da população, como pessoas com deficiência e idosos, essa é uma realidade distante porque pesam dificuldades motoras, de acessibilidade e de oportunidade para usufruir desses espaços.

A partir da simples ideia de adaptar uma bicicleta com um pequeno carro de passageiro, as barreiras físicas e sociais podem se desfazer, mesmo que momentaneamente, e no lugar surgem vias em que é possível trilhar um caminho rumo à inclusão. Com esse objetivo surgiu, em 2018, o projeto Ponto de Apoio.

Tudo começou uma ação-piloto no próprio Parque do Utinga, quando um irmão levou o outro, uma pessoa com deficiência neurológica, para um passeio em busca de momentos de distração, bem-estar e alegria que só a realização de uma atividade ao ar livre e em contato com a natureza pode ter. Para viabilizar isso, serviu de inspiração a imagem das motocicletas dos anos 1950, com carro de passageiro (sidecar), que com o investimento e as adaptações corretas pode ser aplicada à uma bicicleta.

A experiência sobre duas rodas foi a melhor possível para os dois irmãos: melhora no humor, concentração, além do prazer da interação e dos vínculos familiares. Com resultados tão bons, logo surgiu a ideia de levar essas mesmas sensações para outras pessoas com deficiência e idosos com mobilidade reduzida. Com o apoio de parceiros, doações e o trabalho voluntário, a primeira edição do Ponto de Apoio conseguiu três bicicletas adaptadas para oferecer os passeios gratuitos à essa população.

O incentivo para levar o mesmo sentimento de satisfação entre os irmãos foi da terapeuta ocupacional que atende a família. Márcia Nunes ajudou a mobilizar os primeiros voluntários e, junto com os familiares e amigos, o grupo iniciou o projeto. A ação logo atraiu um grande público interessado e foi crescendo em número de edições, quantidade de participantes e impacto social. “Você vê pela fisionomia. A pessoa chega meio para baixo, desconfiada, olhando de canto. E quando ela volta do passeio está com o sorriso largo e agradecendo. Isso mostra que o amor é contagiante, porque o voluntariado vem pelo amor e quando a gente cuida de alguém, a gente acha que dá algo, mas a gente recebe muito mais carinho e atenção de volta. É um combustível para a vida e para o nosso dia a dia”, diz a terapeuta ocupacional Márcia Nunes, vice-presidente da associação Ponto de Apoio.

Para quem é voluntário, a participação no Ponto de Apoio trouxe novas e indescritíveis sensações, mesmo para quem já usufruía normalmente dos passeios no Parque do Utinga. “Eu não participei da primeira edição, mas fui me apegando ao projeto porque quando você chega lá você passa a ver como ele funciona, o que ele proporciona para as pessoas e isso vai te envolvendo sempre. Cada vez que tu chegas, tu pensas que vais ajudar a pessoa, que tu estás te doando, mas na verdade você recebe o carinho da pessoa. A pessoa já sai empolgada e quando ela retorna tem de volta um amor que você não tem noção”, descreve o autônomo e ciclista André Pereira.

Retomada após parada pela pandemia

No total, foram 32 edições com mais de 700 passeios realizados em apenas dois anos, chegando inclusive a outros espaços, como a ilha de Mosqueiro e até uma tarde com crianças num clássico de Remo e Paysandu, no Mangueirão. Porém, a pandemia afastou o público do parque e da vida em comunidade e, com isso, o ritmo das pedaladas diminuiu. Agora, o projeto prepara o seu retorno às atividades envolvido na ansiedade dos organizadores, voluntários e participantes. A retomada ocorre neste sábado e domingo (9 e 10), com todos cuidados necessários. Todos voluntários que vão participar já tomaram, ao menos, duas doses da vacina contra a Covid-19.

“A gente recebe muita mensagem perguntando quando íamos voltar. Esse carinho mostra quanto o projeto estimula as pessoas a ter memórias afetivas e um sentimento de bem-estar”, afirma Márcia Nunes. “O projeto fez muita falta porque participar dele é contagiante. A expectativa está gigantesca. Eu estaria pronto para pronto para participar hoje mesmo”, pontua André Pereira.

image A vice-presidente da Associação Ponto de Apoio e voluntário André Pereira aguardam com expectativa o retorno às atividades do projeto do Parque do Utinga (Ivan Duarte / O Liberal)

A organização do evento ressalta, no entanto, que o retorno vai ser em ritmo lento, pois pesam sobre o projeto os altos custos com a manutenção e recuperação das bicicletas paradas nos últimos anos. Das nove bikes que o projeto conta, apenas três estarão em uso nos próximos encontros do Ponto de Apoio. Além disso, será necessário confeccionar novas camisas dos voluntários, renovar o estofado das cadeiras da bikes e demais suporte, como mesas, cadeiras e água para hidratação durante as edições. “Não parece, mas  tem uma enorme logística envolvida e felizmente estamos contando com o apoio da Pará 2000, que faz a gestão do Utinga e do Ideflor, que cuida do Parque. A Ecobike, que aluga bicicletas no Utinga, vai também fazer a manutenção mecânica. Mas tem uma série de necessidades que estamos vencendo aos poucos. O importante agora era retomar, contando com a garra dos voluntários e a vontade e sorriso dos familiares e participantes dos passeios”, afirma Márcia.

“Nesse meio tempo, a gente vai tentar angariar os recursos para que a gente possa ir reformando as demais bicicletas e voltar com toda a nossa capacidade. A falta de recursos é o principal desafio no momento”, destaca Márcia Nunes, que frisa ainda que a associação pretende ampliar sua presença nas redes sociais como meio de aproximar as pessoas da realidade do projeto e sensibilizar a sociedade em geral para que possa colaborar com a iniciativa.

Projeto alerta para importância da acessibilidade

O trabalho do Ponto de Apoio não se resume à oferta de um momento de lazer. Para a associação, proporcionar uma discussão ampla sobre a acessibilidade em Belém também faz parte de sua missão. Nos passeios ciclísticos, os voluntários recebem toda orientação necessária para conduzir os participantes levando em contato os cuidados com a velocidade, a segurança e o tratamento humanizado do público. Em casos de pessoas com deficiência visual, por exemplo, a equipe realiza a audiodescrição da paisagem e dos atrativos do parque.

Além disso, Márcia Nunes considera que é necessário o reconhecimento de que o projeto tem uma contribuição efetiva a dar para se pensar a própria estrutura da cidade e as dificuldades para que ela seja realmente inclusiva. “A gente tem muitas dificuldades em Belém. Como pode ter tantos declínios e irregularidades nas calçadas?. A gente tem que pensar na acessibilidade das pessoas cadeirantes, das pessoas com dificuldade visual e dos idosos. É um grande alerta. Precisamos repensar o que a gente está querendo para a nossa Belém. Todo mundo ama Belém, mas o que realmente estamos fazendo para essas pessoas que tem um certo tipo de dificuldade?”, provoca a terapeuta ocupacional.

De acordo com a vice-presidente da associação, ainda falta espaços de diálogo e construção coletiva sobre alternativas para melhorar Belém tendo em perspectivas as pessoas com qualquer tipo de restrição. “Quando você sensibiliza as pessoas, elas começam a olhar de uma outra forma para sua própria realidade. Uma das maiores clientelas, por exemplo, são os idosos porque eles normalmente ficam muito em casa. Então é necessário repensar os espaços públicos, trabalhar com a inclusão social e fazer adaptações para que todo mundo possa participar da vida da sociedade com maior autonomia”, defende Márcia Nunes.

Para conhecer mais sobre o Ponto de Apoio e saber como contribuir e participar, acesse as redes sociais do projeto:

instagram.com/pontodeapoiopa

facebook.com/PontodeApoioPA

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