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Pandemia é desafio a projetos de educação comunitária

'A quarentena não existe nas comunidades periféricas, as crianças estão nas ruas', diz educador

Abílio Dantas
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Com um ano desde o início da pandemia, projetos de educação à comunidades carentes no Pará seguem com suas atividades parcialmente suspensas, seja em razão das medidas de restrição de circulação, de combate à covid-19, quanto pela ausência de recursos financeiros. O projeto social Ação Parceiros, responsável pelo Espaço de Aprendizagem, em Santa Bárbara, na Região Metropolitana de Belém, que atende cerca de 200 crianças, sobrevive atualmente do salário de seu fundador, o educador popular e facilitador de ensino Raimundo das Graças Lima Xavier, e de contribuições voluntárias.

“A quarentena não existe nas comunidades periféricas, as crianças estão nas ruas. Não podemos perder o vínculo com as famílias”, afirma o educador. Ele relata que a chegada da pandemia impediu que os encontros presenciais ocorressem de forma contínua, mas trouxe a preocupação sobre a manutenção das relações com a comunidade. Foi decidido então que atividades pontuais e rápidas, com poucas crianças, seriam realizadas de forma eventual, rotina que completa um ano hoje, 18 de março segundo Raimundo Xavier. “Desenvolvemos atividades de desenhos ou de construção conjunta de algum brinquedo com as crianças, de forma rápida, e também distribuímos alimentos para as famílias. Decidimos que o contato não poderia ser perdido, apesar da pandemia”, enfatiza.

O projeto desenvolvido por Raimundo Xavier desde o ano de 2003, em Santa Bárbara, foi considerado por especialistas internacionais em educação como um destaque nas experiências educacionais brasileiras atuais, ao trabalhar a partir da perspectiva da aprendizagem vinculada ao fazer, à ação. Em 2018, após 15 anos desde o início do projeto, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, selecionou o Ação Parceiros, junto a mais oito projetos de educação do Brasil, para um intercâmbio de um mês no país. Lá, Raimundo Xavier descobriu que o que fazia em Santa Bárbara já possuía teorias e metodologias, e fez aumentar ainda mais o seu compromisso com o projeto.

“A viagem ao MIT fortaleceu o nosso fazer e começamos a repensar a organização do nosso espaço. Pude visitar 15 escolas nos Estados Unidos e entender como eles trabalhavam a questão da aprendizagem a partir do desenvolvimento de projetos, botando a mão na massa”, relata. Um ano depois, em 2019, foi construído o primeiro espaço comunitário de aprendizagem criativa do Brasil, estruturado em um galpão construído com uma doação de R$ 14 mil reais em um terreno de 70 por 130 metros, comprado por Raimundo com o próprio salário como analista de sistemas, conta o especialista em software livre.

“Além de ser frequentado pela comunidade, nele (no espaço de aprendizagem) fazemos formações de professores e também recebemos visitas de escolas. Estamos longe da capital, mas conseguimos a façanha de levar o pessoal para o interior para conhecer o espaço”, diz Raimundo. Em 2020, apesar da pandemia, cerca de 300 professores foram à Santa Bárbara conhecer o espaço de aprendizagem. “Temos uma área onde reproduzimos a ideia de um jardim de infância, com brinquedos espalhados pelo terreno, e também um galpão, onde reunimos sala de cinema, ferramentas e uma biblioteca integrada no mesmo local”, descreve.

Origem

O sonho de contribuir com a educação das crianças pobres de Santa Bárbara nasceu no fim da década de 90, quando Raimundo conseguiu o primeiro emprego. “Eu nasci em Santa Bárbara, mas fui para Ananindeua aos dez anos de idade trabalhar como empregado doméstico, em uma casa de família. Lá, fui bastante incentivado para estudar, para a área de educação. Então decidi que quando eu pudesse voltaria para a cidade em que nasci, para contribuir com a educação das crianças. Quando conquistei meu primeiro emprego, comecei a desenvolver atividades com as crianças que tinham como foco brincadeiras, como construção de carrinhos. Aos poucos eu ia estimulando as crianças a questionarem sobre como o carrinho se movia, o que fazia um balão subir, por exemplo. Foi assim que nasceu o projeto. Para que os pais se sentissem estimulados a levar as crianças, doávamos alimentos, também custeados por nós e por colaboradores”, destaca.

Mesmo após o reconhecimento internacional, o projeto Ação Parceiros “está quebrado”. Raimundo conta que o equipamento do espaço corre o risco de enferrujar, por falta de manutenção constante. “Até março de 2020 nós atendíamos aproximadamente 200 crianças, mas mesmo assim não temos nenhum apoio, além de alguns colaboradores. Para tentar contribuir com as finanças, criamos cinco kits de aprendizagem, que as pessoas podem comprar solicitando pelas nossas redes sociais”, explica.

Com o nome Miritilab, os kits educacionais foram criados para dar “acessibilidade a professores, alunos, e a todos que tiverem interesse em se permitir a novos pensares, brincando, criando e compartilhando”, diz o texto de divulgação do projeto. O material serve de inspiração para a construção de projetos de maneira interdisciplinar, bem como para o desenvolvimento de habilidades e competências, direcionando os alunos para uma nova maneira de aprender, referenciado na aprendizagem criativa.

“Destacamos os 4Ps da aprendizagem criativa (Projetos, Parcerias, Paixão e Pensar brincando) como práticas diferenciadas que envolvam todos para trabalhar com temas e conteúdos em ambientes educacionais diversificados, de forma motivadora e estimulante, tanto para os educadores quanto para os educandos, ajustando as condições para que planejem, criem, testem, em situações reais do dia a dia, a fim de que atuem de forma ativa perante os problemas sociais e os assuntos que as abrangem”, completa Raimundo.

Serviço

Para contribuir com o desenvolvimento do projeto, basta doar qualquer valor para a conta corrente 12937-4, agência 0765X, do Banco do Brasil ou entrar em contato com Raimundo pelo telefone (91) 98754-8889.

É possível adquirir os kits pelo Facebook (Ação Parceiros), pelo site miritilab.acaoparceiro.org e pelo Instagram @acaoparceiros.  

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