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ONG Zoé leva atendimentos médicos gratuitos a município do Pará

Ação desenvolvida por voluntários acabou com a espera de anos que alguns moradores da região enfrentavam

Ândria Almeida / O Liberal

Trabalhos sociais têm feito a diferença na vida de muitas pessoas, principalmente as que estão em situação de vulnerabilidade financeira, e quando a ação envolve ajuda à saúde desse público consegue ter um impacto positivo ainda maior, pois leva a qualidade de vida necessária para que a pessoa possa trabalhar e sustentar a família. Esse foi o objetivo da ONG Zoé, que realizou durante uma semana um mutirão de atendimentos médicos em uma pequena cidade localizada no oeste do Pará – em Belterra. O trabalho voluntário realizou 53 cirurgias de hérnia e 108 endoscopias.

A ONG disponibilizou 20 voluntários da área da saúde para realizar os procedimentos, que aconteceram dentro do Hospital Municipal de Belterra. Esses atendimentos acabaram com a espera de anos que alguns moradores da região enfrentavam. Dos 53 pacientes que passaram por cirurgia, 70% aguardavam o procedimento há mais de 6 anos. A endoscopia, que é considerada um exame de fácil acesso na rede privada, não contempla a maioria das famílias, por causa da falta do recurso, diante disso o exame disponibilizado pela ONG beneficia pacientes que aguardavam há mais de 5 anos. 

image (Ândria Almeida /O Liberal)

A dona de casa Marta Sousa, que estava há 5 anos na fila para conseguir realizar uma endoscopia pelo SUS, conta que além da demora para conseguir marcar o exame, ainda enfrentou a distância para ir até Belterra para ser atendida, pois mora em uma comunidade distante cerca de 17km.

“Quando chegou a confirmação que o exame estava marcado para hoje, tomei um susto. Nem lembrava mais dessa solicitação. Mesmo assim, enfrentei um longo caminho para chegar até aqui, e tive que ir a pé, mas estou feliz por finalmente poder realizar o exame que preciso”, disse.

Outra pessoa que recebeu atendimento foi a Ana Sara, que precisava fazer uma endoscopia por sentir incômodos na região do estômago. Ela falou da gratidão pelo atendimento. “Já faz um tempo que espero por esse atendimento, estou muito grata por cada profissional que tirou um tempo para nos atender de graça”.

O barman Cleiton de Souza, que reside na vila balneária de Alter do Chão, do município de Santarém, relata que aguardava pelos exames de colonoscopia e endoscopia desde 2020. 

“Dei entrada quatro vezes pelo SUS para a realização dos exames. Tenho essa preocupação porque já tive úlcera e perdi alguns familiares por câncer de estômago. Estou muito feliz, porque agora vou conseguir um diagnóstico e tratamento, se for o caso”, concluiu. 

O pescador, Divanilson Guimarães estava na expectativa para fazer a cirurgia de hérnia umbilical há seis meses, e essa foi realizada no mutirão no dia 3 de novembro. “Não estou mais conseguindo trabalhar direito, a situação está difícil. O orçamento da família foi afetado. Agradeço muito a cada um que tornou esse projeto uma realidade, que cuida e ajuda”, enfatizou.

Dos 53 pacientes que passaram por cirurgia, 70% aguardavam o procedimento há mais de 6 anos (Ândria Almeida / O Liberal)

Hérnia afeta 8% da população brasileira

As hérnias umbilicais atingem 8% da população adulta do país ao longo da vida, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH). A alteração é um defeito na parede abdominal que permite a passagem de porção de um órgão ou de gordura através dela, formando uma protuberância (bolinha) na região.

Ocorre na cicatriz do local de passagem do cordão umbilical. De acordo com Marcelo Averbach, médico cirurgião e um dos fundadores da ONG Zoé, a hérnia umbilical é a mais comum. “Os fatores da doença na maioria das vezes estão relacionados a gravidez, envelhecimento dos tecidos ou excesso de esforço. Não há tratamento da hérnia umbilical que não seja a cirurgia”, explicou.

As hérnias abdominais correm risco de complicações como o encarceramento e o estrangulamento, que são quadros de emergência médica. De acordo com a SBH, entre 2020 e 2021 foram feitos 36 mil procedimentos considerados urgentes e, em 2019, antes da pandemia, o número chegou a 43 mil. A redução acompanha o número total de cirurgias de hérnia, que caiu 69%. A complicação de uma hérnia pode levar à morte se não tratada.

Entre os sintomas comuns está o aumento de um volume na região, causando um abaulamento (bola) na forma do abdome, associado a dor ou desconforto local.

Inauguração do centro Cirúrgico de Belterra

O centro cirúrgico do Hospital Municipal de Belterra foi inaugurado com a chegada da terceira expedição da ONG na região. A nova ala do centro cirúrgico possui duas salas de cirurgias e pretende desafogar o sistema público de saúde. Antes, os moradores que precisam de cirurgia de média complexidade e de urgência e emergência eram encaminhados para o Hospital Municipal de Santarém, há 45 km da cidade. 

O médico cirurgião e colonoscopista do Hospital Sírio-libanês, Marcelo Averbach, que é um dos fundadores da ONG, explicou que o centro cirúrgico faz parte de um projeto maior que tem a meta de transformar o Hospital Municipal de Belterra em um polo de atendimento à saúde na região, incluindo Aveiro e parte de Santarém.

 “O centro cirúrgico foi inaugurado no dia 29 de novembro, em parceria com a prefeitura de Belterra. A expectativa é que ele se torne um polo de atendimento não só para os moradores daqui, mas para a região”, afirmou.

Durante o mutirão na cidade, além das cirurgias para correção de hérnia e exames de endoscopia digestiva alta, foram realizados treinamentos dos agentes de saúde locais. O objetivo do treinamento é dar continuidade ao trabalho iniciado nas duas primeiras expedições em que a Zoé atendeu mais de 350 pessoas, com exames de ultrassonografia do abdômen e tratamento de varizes nas pernas.

Sobre a Zoé 

A ONG nasceu após uma equipe de médicos que atuam no hospital Sírio-libanês participarem de um projeto de rastreamento de câncer do aparelho digestivo, chamado “QUEM PROCURA CURA”, realizado entre 2014 e 2017 em comunidades remotas à beira do Rio Tapajós, região amazônica. Após essa experiência a equipe sentiu a necessidade de ir além e criou a ONG para proporcionar atendimentos para a população de Belterra, Santarém, Aveiro e a população ribeirinha. O nome da ONGfoi inspirado em uma tribo indígena a qual a equipe realizou trabalho voluntário - Zoé significa “nós”.

A primeira expedição aconteceu em novembro de 2019 com foco no município de Belterra. A equipe levantou dados sobre a região e estreitou relacionamento com as autoridades. Na ocasião, foram realizadas 150 ultrassonografias em pessoas dos municípios de Belterra, Aveiro e parte de Santarém.

A pandemia também impactou os projetos da Zoé. A segunda expedição estava prevista para fevereiro de 2020, mas a região foi bastante afetada pela Covid-19 e por isso a viagem teve que ser adiada, retornando entre 9 e 15 de agosto de 2021. 

Nesse período, 141 pacientes foram atendidos e 108 procedimentos de tratamento de varizes realizados em Belterra.

A Zoé atua em parceria com a Ufopa com o uso do barco Abaré nas expedições de atendimento à população.

Voluntários que fazem a diferença

A ONG recebe voluntários de diversos lugares do Brasil para participar dos mutirões de atendimentos médicos, e é por meio desses profissionais que doam tempo e conhecimento para aplicar a solidariedade que a “Zoé” vai se fortalecendo. 

Antônio Rocha é um dos voluntários, ele é residente de medicina do Estado de Santa Catarina. O médico conta que conheceu a ONG por meio de outras pessoas que participaram do projeto. Essa foi a primeira expedição dele. “A motivação de todos que entram na faculdade de medicina é poder ajudar. Aqui nós temos essa oportunidade de exercer esse acolhimento para aqueles que precisam. Vou levar essa experiência para a vida”, disse.

Rafael Nogueira estudante do quarto ano de medicina em São Paulo, também está na primeira ação voluntária. Ele não esconde a empolgação por fazer parte da equipe. “Sou muito grato pela oportunidade de poder ajudar essas pessoas, espero voltar em breve”, enfatizou.

Dificuldades para manter a ONG

O atual presidente da Zoé, Dr. Marco Aurélio, relata que as ações têm um alto custo e são mantidas exclusivamente por doações.

 “A maioria dos equipamentos que estão aqui no centro cirúrgico foram doados por pessoas próximas a gente, pessoas de bom coração, outros são emprestados e teremos que devolver. Temos um site que presta contas com transparência das doações. Esperamos num futuro próximo ter mais recursos para atender a população dignamente”, concluiu.

Ele enfatiza que a ONG é formada por profissionais voluntários da saúde, direito, marketing, administração, economia e engenharia, que prestam retaguarda para o seguimento das ações.

A Zoé tem uma página na internet onde recebe doações e presta transparências sobre os gastos, além de informações das expedições e inscrições para novos voluntários.

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