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Diagnóstico precoce é fundamental em casos de câncer infantil

No caso da leucemia, câncer mais comum em crianças, a chance de cura é de 75%, segundo médica especialista

Elisa Vaz

​O câncer é uma doença que pode afetar pessoas de todas as idades. No entanto, há algumas diferenças na forma como a doença acomete crianças, jovens ou adultos – a população infantojuvenil, por exemplo, tem uma chance de 80% de ser curada, caso o diagnóstico seja precoce. Nesta terça-feira (23), foi celebrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que, no Pará, na faixa etária de 0 a 19 anos, foram registrados 446 casos de câncer em 2019; no ano passado, o número alcançou 466, e, em 2021, até o momento, foram registrados 320 casos.

Segundo a Secretaria, o tipo mais comum da doença nos anos citados é a leucemia linfóide. O serviço de referência de média e alta complexidade para oncologia neste público é o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém. Neste mês, o governo planeja ações em alusão à data, como forma de conscientização: divulgação em palestras e ações do TerPaz sobre o diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil.

A médica especializada em oncopediatria Fabíola Puty, do Oncológico Infantil, explica que o câncer ocorre quando há um conjunto de alterações no núcleo das células. “Qualquer uma das células do nosso corpo tem uma formação padrão, onde há um núcleo que carrega o DNA – ele combina com o DNA geral do indivíduo e também tem funções específicas. Por exemplo, as células do olho têm um padrão genético de lubrificação, de cor e outras características, assim como outras células. No câncer, o núcleo perde alguns padrões, porque aquela célula começa a ter alterações genéticas e pode ser geradora de câncer”.

No caso dos adultos, há diversos fatores que podem resultar nessas alterações genéticas, como o uso constante de álcool, drogas ou cigarro, a exposição solar, entre outras substâncias cancerígenas. Mas, as crianças não têm idade para ter exposições tão fortes a ponto do câncer ser desenvolvido por fatores externos. Portanto, a médica afirma que, nesse público, o que conta é a biologia individual e as informações genéticas no núcleo das células, que podem ter uma configuração tão anômala que gera o câncer.

Crianças de qualquer idade podem desenvolver a doença, segundo Fabíola, até mesmo dentro do útero: a leucemia congênita é quando a pessoa nasce com câncer no sangue. No entanto, existem algumas preferências etárias. Por exemplo, as leucemias são mais comuns em crianças entre 4 e 6 anos; os neuroblastomas em pessoas mais jovens que isso; e os tumores ósseos em crianças mais velhas. O tipo de câncer mais comum na infância é a leucemia, que atinge entre 40% e 50% das crianças com câncer – porém, no mundo todo, esses pacientes chegam a ter um índice de mais de 75% de cura.

“O diagnóstico é, ao mesmo tempo, fácil e difícil. A dificuldade ocorre porque, diferente dos adultos, que têm uma metodologia que facilita a triagem e o reconhecimento da doença, como a colonoscopia e a mamografia, usados para descobrir o câncer. Para as crianças não há essa triagem nem a metodologia porque, estatisticamente, não é relevante. Mas, temos outro programa importantíssimo e que salva vidas e faz a diferença para a criança morrer ou viver, que é o programa de diagnóstico precoce. Nós, enquanto população, devemos compreender quais são os sinais e sintomas que esses pacientes podem apresentar, e a partir daí procurar um serviço de saúde para ser descartado ou confirmado. Com essa compreensão de sintomas, fica fácil diagnosticar”, avalia.

Os sinais que podem ser observados em crianças depende do tipo de câncer, de acordo com a médica oncopediatra. No caso das leucemias, que são mais prevalentes, os sintomas envolvem o sangue, assim como a própria doença, porque há uma falência na medula, que produz o sangue: anemia; manchas no corpo; crescimento da barriga por conta de um aumento do baço e fígado para compensar a falência; febre persistente; dores ósseas no joelho ou quadril; entre outros. Quanto aos outros tumores que normalmente são comuns em crianças, pode haver o aumento de alguma região do corpo, como uma íngua ou inchaço, sem dor e febre, que persiste por várias semanas mesmo sem alguma inflamação diagnosticada e ingestão de remédio. É a partir desse momento que os pais ou responsáveis devem levar o filho a um médico pediatra e, eventualmente, caso haja necessidade, a um oncopediatra.

O processo para levar à cura do câncer infantil envolve um politratamento, na maioria dos casos, baseado em três grandes pilares: a quimioterapia, à qual todas as crianças com câncer são submetidas e é o pilar central que tem impacto na sobrevida por ser o único tratamento comprovado que consegue matar a célula, destruir o DNA e sustentar essa cura a longo prazo quando o câncer se encontra em fase inicial, de acordo com Fabíola; a cirurgia; e a radioterapia. Em determinados tumores, principalmente nos sólidos, esses dois últimos tratamentos são tão importantes quanto a quimioterapia.

Para Fabíola, o diagnóstico precoce é fundamental e pode salvar vidas. Além disso, o nível de evolução da doença vai impactar na duração do tratamento, na quantidade de terapias, cirurgias e intervenções no geral, e até na qualidade de vida da criança e de sua família.

Um exemplo disso é a paciente Iasmim Siqueira, de 9 anos. Com um diagnóstico precoce, ela conseguiu se recuperar e não chegou a desenvolver o câncer, apenas um tumor benigno. Sua mãe, Iranilde Siqueira, artesã de 37 anos, conta que a filha tinha 5 anos na época, quando a família morava em Viseu. “Ela começou a reclamar de algumas coisas. Caminhava e ficava cansada muito rápido, dizia que as pernas estavam doendo. Começou a ter febre de 40 graus sem ter nada. Fui no clínico geral lá na minha cidade e não dava nada, tratavam como virose. Depois disso ela caiu e o tornozelo ficou inchado; peguei um encaminhamento para o ortopedista para fazer uma tomografia. Falaram que era só uma torção, mas ela não parava de sentir dor. Foi então que fomos a outra cidade, em Bragança, e o médico identificou que nada daquilo era normal e que precisava ser estudado”, lembra.

A mãe conseguiu um encaminhamento para o hospital Octávio Lobo, em Belém, onde foi descoberto um tumor ósseo. O diagnóstico completo, no entanto, demorou três meses, aguardando resultados de exames, biópsias e tomografias. Nesse período, as duas ficaram morando no hospital, com a criança internada. “Os médicos diziam que era um caso raro. “Eu ficava desesperada quando eles entravam no quarto sem um resultado, só pensava o pior, que seria câncer. E era estressante ver ela naquele estado, sem compreender, porque ela nunca tinha ficado internada – ela ficava tão desesperada e chorava tanto que ficava mais sedada do que acordada”.

Após os três primeiros meses de espera, veio o resultado: não era câncer, mas sim um tumor benigno que poderia ser removido com cirurgia. Não foi necessário fazer terapias ou uso de medicação. A alta veio após seis meses, mas a paciente ainda precisava fazer um acompanhamento mensal, para evitar a volta da doença. Foi então que a mãe decidiu se mudar. O filho mais velho, de 20 anos, que tinha ficado em Viseu com a avó, também passou a morar na capital. Os três vivem de aluguel, mas hoje já têm a casa própria.

Tudo isso aconteceu há quatro anos, e hoje Iasmim faz um acompanhamento anual da doença, e mensal ou semanalmente vai à psicóloga, nutricionista e dentista. Como o enxerto ainda está calcificando com o osso, onde foi feita a cirurgia, a criança já quebrou a perna duas vezes nesse período. Mas, fora isso, vive uma vida normal, com algumas restrições para atividades de alto impacto.

“Ela não sente mais dor, graças a Deus. É muito importante que os pais tenham um olhar cuidadoso com seus filhos. Se eu tivesse ignorado, achado que ela não querer andar era birra, a doença só iria aumentar. Então, é preciso ver o que os filhos reclamam, às vezes passa despercebido, mas esse olhar mais profundo é essencial para saber o que causa a dor, febre e outros sintomas. Afinal, o diagnóstico aumenta as chances de cura. O câncer não tem idade”, opina Iranilde.

Quando se mudou para Belém, a artesã precisou buscar formas para se manter, e começou a dar aulas de crochê para ganhar dinheiro. Em uma das oficinas que realizou, comentou sobre a história de sua filha, que na época fazia tratamento. Foi então que os alunos resolveram doar toucas produzidas para crianças do hospital. De dois em dois meses, Iranilde vai até o local fazer essas entregas, por meio do projeto Mãos que Ajudam, pela Pró-Saúde.

“Hoje somos 15 pessoas, são senhoras artesãs, nem todas confeccionam, mas como trabalhamos com doação, algumas vão atrás disso. Além de agregar valor, essa é uma maneira que temos de ajudar outras mães. Eu passei muito tempo lá dentro e sei da necessidade de amparo, não são todas que recebem visitas, são de outros lugares e se sentem sozinhas. O projeto agrega união e acolhimento, tanto para as mães como para as crianças. E lá é muito frio, a touca também ajuda nisso”, diz.

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