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Diagnóstico precoce é essencial para o tratamento de hepatites virais

Ação no Hospital Universitário Barros Barreto alerta para sintomas e prevenção da doença, que, dependendo do tipo, pode ser letal

Elisa Vaz

A manifestação das hepatites virais pode ser silenciosa e surgir de maneira leve, o que dificulta o diagnóstico precoce, tão necessário para combater a doença. Em alguns casos, se o paciente não perceber os sinais, que podem ser confundidos com doenças mais brandas, como viroses, é possível que o quadro evolua e se torne letal. Nesta quinta-feira (28) é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais e, em alusão a data, diversos órgãos realizam campanhas no chamado Julho Amarelo.

Um desses locais é o Hospital Universitário João de Barros Barreto, ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA), que desenvolve uma ação educativa de conscientização de diagnóstico e combate às hepatites virais. A primeira etapa foi nesta quarta-feira (27) pela manhã, e a programação segue nesta quinta, também no primeiro turno do dia. Além de rodas de conversa com pacientes e funcionários, a atividade também tem distribuição de panfletos para quem quiser saber mais sobre a doença.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o Pará registrou 245 casos confirmados de hepatites virais de janeiro a junho de 2022, incluindo os tipos A, B, C e D. O vírus mais comum foi o da hepatite B neste período, com 144 casos. O número total das doenças foi menor que o registrado no primeiro semestre de 2021, quando o total foi de 308 casos.

Médica hepatologista, Simone Conde é responsável pelo ambulatório que atende os casos de doenças hepáticas e explica que as hepatites são todos os processos inflamatórios do fígado; a viral, especificamente, é quando esse processo inflamatório é produzido por vírus. Destacam-se os das hepatites A, B e C, que são os mais comuns, mas também existem outros, como o vírus da hepatite D e o da E, que são menos importantes em termos epidemiológicos, diz a especialista.

“Um vírus não se transforma no outro. Eles são diferentes. O que é comum é o perfil deles de inflamar as células do fígado, gerando um processo inflamatório. Na hepatite A, a transmissão do vírus se dá por meio de água e alimentos contaminados – por isso a higiene pessoal e o saneamento são as principais formas de prevenção. No caso dessa doença, já existe vacina para crianças e alguns grupos de indivíduos adultos. As hepatites B e C, por sua vez, são transmitidas de uma maneira diferente, por meio do contato sexual desprotegido, sangue contaminado ou outros organismos. É importante evitar o compartilhamento de materiais como seringas, agulhas, piercings, alicates e outros, porque eles podem transmitir o vírus da hepatite B e da C”, detalha.

Sintomas

Dentro dos quadros, existem as hepatites agudas e as crônicas. No primeiro caso, a maioria dos sintomas é bem ampla, como mal-estar e dor de cabeça. Mas, em algumas situações, é possível que o paciente desenvolva outros sinais, como olho amarelado, urina escura e até dor na barriga, especialmente do lado direito. O médico infectologista Julius Monteiro alerta que, no início da doença, é possível que ela seja confundida com outras, como dengue, febre amarela e até vírus respiratórios, e nos casos de olhos amarelos e urina escura, com leptospirose e malária, por isso é necessário realizar exames complementares que poderão auxiliar na identificação do diagnóstico específico.

Os vírus das hepatites B e C, de acordo com a hepatologista Simone Conde, podem cronificar, ou seja, o indivíduo não elimina a infecção e fica curado; pelo contrário, uma boa parte evolui para a forma crônica, que, por um período, se apresenta silenciosamente, sem sintomas. Quando a doença chega na fase de apresentar esses sinais já está em um estágio mais avançado de complicações, como cirrose no fígado ou até mesmo o câncer do fígado. Simone destaca que 88% dos tumores primários do fígado são ocasionados por hepatites B e C.

A procura pelo médico deve acontecer logo que o paciente notar algo diferente. “Nas formas agudas, toda vez que houver uma alteração da cor de pele e de mucosas e a urina ficar mais escura, o paciente tem que procurar um médico para identificar se aquilo é um sintoma de hepatite e qual a causa. Não há sintomas que você possa pensar logo na causa, então é preciso investigar com um profissional”, declara. Nos quadros agudos da hepatite A e B, o indivíduo adulto se cura espontaneamente, mas, na C, de 50% a 80% dos casos evoluem para a cronicidade.

Nas formas crônicas, o diagnóstico precoce é “muito importante”, na opinião de Simone,  porque elas são silenciosas. “Antes que eu apresente as complicações, tenho que fazer o teste. Temos Centros de Testagem, aconselhamento e todas as Unidades de Saúde já estão capacitadas com o material para realização dos testes rápidos tanto para hepatite B como a C. A prevenção é muito importante. As hepatites A e B têm vacina presente nos postos de saúde, sendo que todo mundo pode tomar essa segunda. Com o diagnóstico precoce, você consegue identificar a doença antes da complicação mais grave, que é a cirrose hepática ou mesmo o tumor. Consegue controlar ou mesmo a cura”.

O tratamento dos quadros agudos é apenas sintomático, ou seja, está relacionado com os sintomas que a pessoa sente, porque a maioria dos pacientes evolui bem. Já aqueles que têm um quadro crônico podem precisar tomar medicações orais, atualmente bem toleradas e que têm uma alta chance de melhora ou até de ser curado, segundo a hepatologista Simone Conde.

Para quem tem outras doenças crônicas, como é o caso dos portadores de HIV/Aids, o acompanhamento médico é ainda mais necessário. Julius Monteiro trabalha com hepatites com esses grupos especiais e diz que a hepatite A, por exemplo, pode ser mais grave nesses pacientes porque eles podem evoluir com maior chance de gravidade, inclusive evoluindo para o câncer de fígado. “Por isso a gente faz a triagem, acompanhamento ambulatorial do indivíduo pelo menos uma vez por ano e todas as testagens para esses vírus. Se for suscetível, a gente encaminha para vacinação”.

Paciente precisou de transplante

Quase 10 anos depois de descobrir que tinha hepatite do tipo C, o publicitário Walter Junior do Carmo, de 66 anos, precisou fazer um transplante. Ele foi diagnosticado com a doença em 1995, após ter sentido fortes dores em algumas partes do corpo. “Estava em uma viagem, me preparando para ir a um show do Elton John, em Miami, e resolvemos experimentar uma cerveja mexicana na casa de um amigo antes. Quando tomei o primeiro gole, a cerveja entrou quadrada e comecei a ficar mal, com febre, não fui ao show, dormi o dia todo. Depois viajei mal, cheguei em Belém e passei uns três dias deitado”, lembra.

Quando acordou melhor, dias depois, Walter resolveu andar na praça e sentiu uma dor aguda na batata da perna e no centro do pé. “Uma pessoa me indicou um massagista em Icoaraci, marquei com ele e fui, mas assim que ele começou a fazer massagem senti dor. Ele me disse que eu estava com um problema seríssimo no fígado e indicou que eu procurasse um médico. Deu hepatite”, comenta. Na época, o paciente ainda estava no primeiro grau, mas, como não havia tratamento, o médico especialista disse que o publicitário só viveria mais dois anos, apenas combatendo os sintomas.

Ele conta que se assustou, mas resolveu levar a vida da melhor forma que podia: parou de furar e diminuiu a bebida. Descobriu um tratamento alternativo para hepatite e participou desse programa durante seis meses. Quando retornou à consulta com o hepatologista, já estava no segundo grau da doença: a medicação tinha retardado a evolução, mas ela continuaria avançando. Foi quando Walter largou a vida em Belém e se mudou para Macapá, onde a família e os amigos viviam. Voltou a sentir dores e descobriu uma gota, consequência do problema no fígado, e após uma endoscopia também descobriu que tinha cirrose hepática.

Pela primeira vez, ele pensou em fazer um transplante. “Fui para São Paulo fazer testes e exames, mas a fila era por ‘ordem de chegada’ e não por gravidade como é hoje. O tempo de espera seria de um ano e meio, e eu não resistiria a tudo isso. Na época já estava no terceiro grau, o último era o quarto. Eu precisava arranjar um doador para fazer o transplante porque, nessa fila, estava em 22º lugar. Consegui o meu irmão e voltei para Macapá para aguardar”, lembra. Nesse período em casa, Walter teve várias crises como consequência da hepatite. Precisou ser internado e, no hospital, após receber um calmante, entrou em coma. Ele só sobreviveu porque foi transferido para Belém e o governo do Amapá cedeu um avião para a viagem – com a pressão enfrentada em um voo normal, poderia sofrer uma hemorragia.

O paciente passou dois meses em um apartamento de hospital se recuperando, na capital paraense. Ele lembra que não se reconheceu quando se viu no espelho: estava magro e sem cabelo. Entrou em coma mais duas vezes enquanto esperava o transplante, que foi feito uma semana antes do previsto. “Fui para a sala de cirurgia, meu irmão também, tiraram um pedaço do fígado dele e transplantaram. Mas não perceberam que eu tinha uma veia a mais que transportava sangue para o fígado e tive hemorragia. Levou quatro horas para conterem, e a cirurgia demorou 17 horas. Quando acordei e saí da UTI, pulava na cama. Passei anos com problemas no fígado, sentindo moleza, desgaste, e de repente acordei com um fígado novo, não conseguia dormir”.

Mesmo depois da cirurgia, o paciente ainda enfrentou a hepatite mais uma vez. Precisou fazer um novo tratamento que freou o reaparecimento da doença e não chegou a ter cirrose de novo. Depois de quatro meses, negativou, e desde então está livre da doença, há 18 anos. A vida de Walter virou de cabeça para baixo. Parou de beber definitivamente em 2003, um ano antes do transplante, e agora faz dieta por conta do excesso de açúcar nos imunossupressores. Fora isso, diz que está “de boa” com a vida. Mas ele indica que todos façam testes regularmente, para evitar que a doença avance da forma como aconteceu com ele. 

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