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Campanha conscientiza sobre a importância da amamentação

Entre os benefícios para o bebê estão a garantia da boa nutrição, construção dos laços de afeto, o estímulo ao crescimento e desenvolvimento saudáveis e o menor risco de adoecimento

Elisa Vaz

Dar à luz um filho é um processo longo e mágico, mas também desafiador. Um desses desafios é a amamentação, que pode ser mais complicada para algumas mães. Daí a importância da conscientização sobre o tema – este é o objetivo da Semana Mundial de Aleitamento Materno, comemorada anualmente entre os dias 1º e 7 de agosto, cujo foco deste ano é “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”.

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), ligada ao governo do Estado, informou que, na Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal de 2008, o Pará apresentava um tempo médio de amamentação em crianças menores de seis meses de 88,8 dias, sendo maior que a média nacional, cujo percentual era de 54,1 ao dia. Dados do Ministério da Saúde, após avaliação de 14.505 crianças menores de cinco anos entre fevereiro de 2019 e março de 2020, mostram que mais da metade (53%) das crianças brasileiras continuam sendo amamentadas no primeiro ano de vida. Entre as menores de seis meses, o índice de amamentação exclusiva é de 45,7%. Já nas menores de quatro meses, de 60%.

Na avaliação da coordenadora de saúde da criança da Sespa, médica pediatra Ana Cristina Guzzo, a amamentação é uma estratégia que salva vidas de bebês diariamente. Mas, além da importância nos momentos ditos “normais”, a especialista pontua que é preciso considerar os tempos de pandemia, em que foi identificado o crescimento do desemprego, empobrecimento das famílias e fragilização das ações de apoio, proteção e promoção da amamentação.

“O tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano vem falar da amamentação como a base para uma vida saudável, mas que é uma responsabilidade de todos: dos governos, dos serviços de saúde, dos profissionais de saúde e das comunidades. Não é uma responsabilidade exclusiva da mulher, embora que sobre ela tenha pesado o ônus de uma estrutura que ainda não a apoia como deveria. Amamentar implica disponibilizar tempo, ter tranquilidade, ter um suporte profissional necessário e uma comunidade (inclui a família) esclarecida sobre sua importância, e disponível para ajudar e apoiar”, comenta Ana.

Para o bebê, há uma “infinidade” de benefícios. Alguns deles são a garantia da boa nutrição, a construção dos laços de afeto, o estímulo ao crescimento e ao desenvolvimento saudável e o menor risco de adoecimento (alergias, diarréia, pneumonia, desnutrição, obesidade), gerando menor uso de medicamentos e internações hospitalares. A médica pediatra destaca, inclusive, que estudos apontaram que o aleitamento materno está associado a maiores níveis de inteligência, escolaridade e renda financeira na idade adulta.

Já para a mulher, há pesquisas que apontam para o menor risco para hemorragia pós-parto e para o câncer de mama e ovários, contribuição na construção da relação de afeto para com o filho, disponibilidade imediata do leite à livre demanda do bebê, entre outros benefícios, diz Guzzo. Porém, nem todas as mães conseguem amamentar, e é preciso saber o que fazer em momentos como esse.

“A implementação das políticas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno são a resposta para ajudar as mulheres com dificuldades para amamentar, principalmente nos momentos iniciais da amamentação, que geram certa insegurança. Muitas vezes, a desistência vem por falta de um bom apoio profissional, que deve acontecer mesmo antes do nascimento do bebê. Falar sobre o aleitamento em cursos de grávidas, criar grupos de apoio nas unidades de saúde e comunidades proporciona um suporte importante. Na identificação de dificuldades, a melhor saída é sempre procurar um profissional qualificado”, orienta a médica pediatra.

Uma das estratégias para lidar com a situação é a iniciativa “Hospital Amigo da Criança”, que fortalece, por meio de uma equipe capacitada, o apoio que as mulheres e famílias precisam nos primeiros momentos do aleitamento, no pós-parto. A construção de uma “Cadeia de Calor” vem como proposta da Semana do Aleitamento Materno e prevê um trabalho em equipe interprofissional que vincula as famílias com os profissionais da rede de saúde até os 1.000 primeiros dias de vida da criança. Já os casos específicos de alergia alimentar e outros problemas dispõem de políticas também específicas, desenvolvidas em nível municipal.

Mãe amamenta pela primeira vez

Delegada de polícia, Mikaella Ferreira, de 35 anos, teve seu primeiro filho há pouco mais de três meses, o Vicente. Ela nunca tinha amamentado e conta que teve uma série de dificuldades nos primeiros dias, mas, com a prática, conseguiu se adaptar. Para se preparar para a chegada do filho, no entanto, ela buscou muitas informações de fontes confiáveis na internet, além de uma consultoria de amamentação.

“Hoje ele está em amamentação exclusiva, em livre demanda, mas foi um processo que iniciei mesmo antes do parto. Existem muitos mitos envolvendo a amamentação, e muitas práticas que podem atrapalhar a amamentação exclusiva, então me muni de informações e isso me ajudou bastante, evitou que eu tivesse fissuras prolongadas e dor durante a amamentação. Logo que ele nasceu, mamou nas primeiras horas de vida, o parto foi normal, ele mamou e já acertei a ‘pega’ com a pediatra, isso facilitou”, lembra.

Outra dificuldade que Mikaella teve após o nascimento do filho foi na adaptação à livre demanda, que é quando o próprio bebê dita os horários em que quer mamar. “Eles mamam de duas em duas horas, às vezes mais, até na madrugada. A privação de sono foi um desafio pra mim, ficar disponível 24h por dia também, e a mãe com dificuldade até de tomar banho, comer com calma, esse foi o maior desafio”, conta. Mesmo assim, Mikaella acredita que este é um esforço que vale a pena e diz que não se arrepende, até por conta do estreitamento do vínculo. Mas, ela alerta que é importante que a mãe tenha uma boa rede de apoio.

Programação será extensa no Pará

Por meio da Coordenação de Saúde da Criança e de parceiros, a Sespa vai realizar diversas programações, principalmente de forma virtual, durante o período da campanha. Para Guzzo, o objetivo dos eventos online é falar das várias estratégias necessárias para garantir a proteção permanente da amamentação, como é o caso da proteção legal, por meio da vigilância do cumprimento das normas brasileiras para a Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL) e o compromisso de todos os profissionais da área da saúde, entre outros.

“Tendo em vista as limitações com relação a Pandemia, fizemos a maior parte das programações via webconferência, mas haverá uma oficina de aconselhamento em aleitamento materno, que ocorrerá na Fundação Santa Casa, direcionada a profissionais de saúde que atuam em Hospitais Amigos da Criança. Ainda teremos a Avaliação Global (pelo Ministério da Saúde) do Hospital Regional de Barcarena, que deve se tornar mais um Hospital Amigo da Criança no Pará”, comenta.

Ontem, às 14h, foi realizado um workshop com o tema “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”. Já no dia 11 deste mês, às 10h, haverá a live “Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL) para Conselhos Profissionais”, com o tema “O que podemos fazer para proteger a amamentação e a dupla mãe-bebê do marketing não ético de alimentos infantis?”, mediada pelo médico Hélio Franco, da Coordenação de Saúde da Criança da Sespa. O link para participação é o seguinte: meet.google.com/pjg-veiq-sfo.

No dia 12, serão realizados dois workshops: o primeiro, às 10h, terá a temática “O que podemos fazer para proteger a amamentação e a dupla mãe-bebê do marketing não ético de alimentos infantis?”, com a participação de Cintia Ribeiro Santos, consultora internacional em aleitamento materno; e o segundo, às 14h, sobre “A abordagem do Aleitamento Materno na formação acadêmica, como fator de proteção da amamentação”, que terá como palestrante a doutora Naíza Sá, coordenadora do Programa de Pós Graduação em Saúde Ambiente e Sociedade da Universidade Federal do Pará (UFPA). A Prefeitura de Belém, por sua vez, informou que a programação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) de incentivo ao aleitamento materno vai acontecer na próxima semana, durante a programação da Semana do Bebê, mas não deu mais detalhes.

Banco de Leite do Pará é destaque

Criado em 1987, o Banco de Leite Humano da Fundação Santa Casa do Pará é um dos maiores do país, sendo responsável pela promoção de ações destinadas a incentivar o aleitamento materno e, ainda, pela coleta, processamento, controle de qualidade e distribuição do estoque de leite materno que atende às necessidades de recém-nascidos prematuros de baixo peso internados na instituição. Antes de atender os recém nascidos de baixo peso, o leite materno passa por um processo de análise sensorial, físico-química e microbiológica, garantindo a qualidade certificada da alimentação.

Segundo o hospital, toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite humano - basta ser saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na amamentação. O cadastro é feito de modo virtual, por internet ou telefone, e a doadora não precisa sair de casa ou se deslocar em nenhum momento, porque o núcleo Bombeiros da Vida, parceiros militares da Santa Casa, vai até a sua residência devidamente esclarecidos quanto ao distanciamento social, disponibiliza o material para a retirada do leite e esclarece o passo a passo da coleta. 

Apenas no primeiro semestre de 2021, o Banco de Leite Humano da Santa Casa já atendeu cerca de 1200 bebês. Em um ano de pandemia da covid-19, o hospital estima ter sofrido uma redução de quase 10% no volume e fluxo de doadoras, em um comparativo entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021. Atualmente, são cerca de 100 mulheres cadastradas na rede regular de apoio. Considerando a demanda permanente, a Santa Casa só vem conseguindo suprir a necessidade de cerca de menos de 40% dos bebês internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e Unidade de Cuidados Intermediários (UCIs) do Hospital.

Além da Santa Casa, o governo do Pará tem Bancos de Leite Humano implantados em Marituba, no Hospital Divina Providência; em Bragança, no Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria; e em Marabá, no Hospital Municipal. Todos eles são certificados com classificação na Categoria Ouro da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano e com apoio do Corpo de Bombeiros, por meio do projeto “Bombeiros da Vida”. Já os Hospitais Amigos da Criança são: Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, Santa Casa, Ordem Terceira e Beneficente Portuguesa, em Belém; Anita Gerosa, em Ananindeua; Divina Providência, em Marituba; Santo Antônio Maria Zaccaria, Hospital de Clínicas e Hospital Geral, de Bragança; e Hospital Santo Antônio, de Alenquer.

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