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Aproveitamento integral de alimentos contribui com saúde e meio ambiente

Ricas em nutrientes, partes como cascas, talos e sementes podem ser aproveitadas no dia a dia

Elisa Vaz

A cultura de desperdício de alimentos é um dos fatores que potencializam a fome no mundo. Nesta quinta-feira (31), é celebrado o Dia Nacional da Saúde e Nutrição, data que lembra a importância de uma alimentação saudável – se ela incluísse o melhor aproveitamento dos alimentos, poderia contribuir para que esses índices fossem menores, já que evitaria que produtos ainda em boas condições para o consumo humano fossem jogados no lixo.

Nutricionista e mestranda em ciência e tecnologia de alimentos pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Amanda Brito, conta que a área de estudo chamou sua atenção ao perceber a monotonia alimentar de grande parte dos brasileiros. Segundo a especialista, o elevado desperdício provocado pelo mau uso dos alimentos intensifica o parâmetro da fome, que é crescente no país, por isso é preciso pensar em formas de minimizar esses impactos, por meio do aproveitamento e da variação entre os tipos de alimentos.

Quando Amanda fala de monotonia alimentar, ela diz que, muito comumente, os seres humanos costumam comer poucos tipos de comida. A exemplo da salada, cujos principais ingredientes são alface, cebola, tomate, pepino, às vezes batata e cenoura. Mas, para além desses, existem muitas opções de verduras, legumes, hortaliças e frutas que poderiam compor melhor o cardápio familiar. “Precisamos não apenas aproveitar melhor os alimentos, mas também usar os alimentos não convencionais, que estão aí na natureza e são mais em conta, mais econômicos e muito ricos nutritivamente falando. Vão trazer mais qualidade para a refeição do brasileiro e também minimiza o desperdício”, opina.

Como aproveitar alimentos?

Os alimentos precisam ser comidos, muitas vezes, em sua totalidade, explica a nutricionista. Em vez de descascar, comer a casca; em vez de retirar a semente, utilizá-la em alguma outra refeição; entre outras opções. “Vai muito do disco, sementes, talos e cascas para o lixo. É um saber que foi repassado às pessoas de que o que é comestível é a polpa da fruta, a parte folhosa da hortaliça, mas estão indo para o lixo as sementes, as cascas, que têm uma qualidade nutricional muito relevante, qualidade em vitaminas, em minerais, em antioxidantes que a gente tanto fala, nos compostos bioativos que auxiliam no tratamento de doenças cardiovasculares, condições de comorbidades, então são elementos que poderiam estar melhorando a qualidade de vida em algumas preparações”, pontua Amanda.

Mas existem diversas formas de reaproveitar esses nutrientes, não necessariamente comendo uma fruta com a casca ou um legume com o talo. A nutricionista indica, por exemplo, que as famílias utilizem talo da couve, casca da beterraba e da banana para, por exemplo, compor uma torta, um bolo, um pão, uma sopa e refeições que ficariam muito mais ricas nutricionalmente. Já os alimentos mais básicos, como arroz e feijão, podem ser complementados com o aproveitamento integral, enriquecidos com nutrientes diferentes: cozinhar partes da casca de abóbora no arroz, por exemplo, o que aumentaria a quantidade de fibras, e as sementes, ricas em zinco, com importante fortalecedor do sistema imune.

Frutas também podem ser consumidas de maneira mais completa. A melancia, explica Amanda, que geralmente é ingerida só até a parte vermelha, dispõe, na área branca, próxima à casca, do componente citrulina, que pode ser utilizado como um “pré-treino”, alimentação antes do exercício físico. “Melhora a circulação sanguínea, além de ser um bom antioxidante desses nutrientes que acabam sendo perdidos”, declara a nutricionista.

Além de fazer bem para a saúde, ainda há uma economia financeira, já que hoje muitas pessoas buscam suplementos alimentares e de vitaminas em cápsulas e pós, em vez de comer o que é natural. Para ela, é preciso conscientizar a população contra a industrialização excessiva desses produtos e a favor do aproveitamento natural desses produtos.

Outra contribuição positiva é com o meio ambiente, porque haveria a redução do descarte de resíduos sólidos – que seriam aproveitados nas comidas. “Precisamos traçar essa estratégia de aproveitamento integral dos alimentos para diminuir esse impacto ambiental que é gerado pelos resíduos sólidos, que são gerados diariamente em casas, ambientes de trabalho, unidades de alimentação e nutrição que desperdiçam toneladas de alimentos durante o dia. Então, a importância é tanto a nível ambiental quanto nutricional”, avalia. Nesta página, confira a dica de uma receita de aproveitamento integral de alimentos.

Hospital reaproveita com consciência

Muitas atividades de sustentabilidade fazem parte da relação entre a horta “Cantinho Verde” e a cozinha do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém. Entre essas ações estão a redução do custo com hortaliças, pois a horta já fornece a quantidade necessária para os preparos dos lanches como pão-pizza com manjericão, cachorro-quente com espinafre, suco de abacaxi com hortelã, acerola com menta, dentre outras pequenas preparações.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), do governo do Pará, as práticas sustentáveis no setor de nutrição do Oncológico Infantil colaboram com o meio ambiente. Uma delas é o aproveitamento integral dos alimentos, com o uso de talos e cascas para as preparações, diminuindo a quantidade de resíduo dispensado e enriquecendo as refeições das crianças e adolescentes pacientes do hospital. E outro exemplo de reaproveitamento praticado na cozinha do hospital é a produção de bolo de banana, que faz aproveitamento total do fruto, incluindo a casca.

O Oncológico Infantil é detentor do selo “Green Pin 3”, do Programa Nacional Green Kitchen (em português, Cozinha Verde), um reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelos profissionais do Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do hospital pela boa performance e evolução da unidade na adoção de práticas sustentáveis na gestão da cozinha e na oferta de alimentação saudável.

Prefeitura tem ações sustentáveis

A administração municipal de Belém desenvolve algumas ações voltadas para a alimentação e nutrição. Como é o caso das cestas básicas distribuídas a famílias em situação de vulnerabilidade social – três mil apenas em 2021. A atividade é feita dentro da política de combate à fome desenvolvida pela Prefeitura, por meio da Coordenação das Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (Copsan)

Uma das políticas criadas pela atual gestão municipal foi o projeto Cestar Nutrir Juntos, que leva cestas básicas semanais para mães-solo, idosos, indígenas e mulheres trans da capital, com a função de garantir a segurança alimentar e nutricional. As cestas são compostas por frutas, legumes e hortaliças e são entregues, semanalmente, às famílias, que recebem também uma formação de política de alimentação saudável.

Segundo a coordenadora da Copsan, Marilene Silva, as cestas que as famílias recebem são supervisionadas pela equipe técnica da coordenação, formada por nutricionista, tecnólogo de alimentos, engenheiro de alimentos e gastrônoma, que fazem a triagem e higienização dos alimentos coletados. Além do apoio alimentar, a Copsan vem desenvolvendo o projeto "Pão enriquecido com semente de açaí", cujo objetivo é valorizar a soberania alimentar e ressaltar a sustentabilidade, na última fase para ser colocado em prática.

O Programa de Saneamento da Bacia da Estrada Nova (Promaben) já realizou uma Oficina de Aproveitamento de Alimentos, por meio do Programa de Educação Ambiental e Sanitária (Peas), para que a população aprenda a dar valor e reutilizar alimentos. O encontro foi ministrado pela bióloga e pedagoga Verônica Costa, que compartilhou conhecimento sobre a importância de reaproveitar os alimentos e transformá-los em refeições nutritivas. O objetivo principal foi promover a conscientização da sustentabilidade alimentar por meio do desperdício zero, auxiliando no aumento do valor nutritivo das refeições, no combate à fome e contribuindo para a diminuição na quantidade de lixo descartado.

Saiba como fazer uma farofa de talos

Pode ser aproveitada a folha de brócolis, couve-flor e seus talos, ou os talos de espinafre, couve,  cheiro-verde, beterraba e jambu.

Por que essa receita?
A farinha, por si só, é muito consumida diariamente no Pará, e muitas vezes feita apenas com muita gordura e sal. Ela pode ser enriquecida nutricionalmente através dos talos. O talo de couve, por exemplo, possui mais cálcio do que a própria folha. Pode servir para o arroz e a sopa também.

Ingredientes:

1 col de azeite
1/2 cebola picada
1 col de manteiga
3 col de cheiro-verde picado
1 xíc chá de farinha de mandioca
folhas ou talos bem lavados, picados e refogados
Sal a gosto

Modo de preparo:

Refogue a cebola e junte as folhas e os talos
Acrescente a farinha aos poucos e tempere a gosto

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