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Reitor Emmanuel Tourinho planeja avanços na UFPA

O professor considera o resultado da eleição consultiva, em que venceu com 93% dos votos, um reflexo da expectativa da comunidade acadêmica em continuar tendo voz ativa na sociedade

João Thiago Dias
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Na última terça (30), a chapa dos professores Emmanuel Zagury Tourinho (candidato a reitor) e Gilmar Pereira da Silva (candidato a vice-reitor) venceu a votação consultiva da Universidade Federal do Pará (UFPA) com 16.963 votos, do total de 18.307 votos válidos, 72 votos brancos e 44 votos nulos. Foi o maior quórum na história das eleições para reitor na universidade. Caberá ao Conselho Superior Universitário (Consun), em reunião virtual no próximo dia 14, elaborar a lista tríplice a ser enviada para o presidente Jair Bolsonaro, para nomear os novos reitor e vice-reitor para o quadriênio de 2020-2024. Tourinho é o atual reitor da Universidade, mas está afastado das funções devido ao processo eleitoral. Seu mandato termina em setembro deste ano. Confira a entrevista pingue-pongue que o professor concedeu ao Grupo Liberal: 

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GRUPO LIBERAL - Como será a próxima etapa para a nomeação da nova gestão da UFPA?
TOURINHO
- A consulta foi um sucesso, com a maior taxa de participação da comunidade universitária desde que passamos a votar para a escolha de reitor, em 1984. Nossa chapa teve uma votação que também foi a maior obtida em uma disputa na UFPA, quase 93% dos votos. Portanto, temos uma demonstração contundente de que a comunidade quer continuar escolhendo seus dirigentes e de que não há qualquer dúvida sobre o futuro que deseja para a instituição. Só o Consun pode decidir sobre a lista tríplice e o faz com autonomia. Além da nossa chapa, o Consun pode incluir na lista tríplice duas outras chapas indicadas por nós, ou pode incluir a chapa perdedora e uma terceira chapa. Várias universidades têm adotado a primeira alternativa (três nomes indicados pela chapa vencedora) para garantir que a escolha final necessariamente recaia sobre um candidato que representa o projeto de universidade aprovado pela comunidade, e isso foi o que a própria UFPA fez em 2016. Nossa expectativa é de que o Consun novamente inclua na lista apenas os nomes indicados pelos vencedores na consulta. Isso é essencial para garantir a democracia e a autonomia da UFPA. Universidades que nos últimos dois anos incluíram perdedores na lista tríplice hoje vivem crises institucionais graves. A escolha dentre os nomes da lista tríplice é prerrogativa do Presidente da República, que certamente ouvirá várias lideranças para tomar a sua decisão. Além do respeito à autonomia universitária, o que podemos dizer é que temos apoio forte de vários setores da sociedade, fundamentado nos resultados que alcançamos até aqui e no diálogo que temos mantido com todos.

GRUPO LIBERAL - Quais os principais projetos desta possível nova gestão?
TOURINHO
-  Investiremos prioritariamente em projetos estruturantes para tornar a UFPA um espaço cada vez mais rico e eficiente de experiências intelectuais e formativas para os nossos discentes; e para elevar a capacidade de produção de conhecimento científico e tecnológico de ponta. Incluem-se, no primeiro caso, a expansão e reconfiguração do parque de laboratórios de ensino (programa LabInfra), a flexibilização curricular dos cursos de graduação para favorecer a formação interdisciplinar, o Acompanhamento do Cursos de Graduação (estratégia que envolve a definição e monitoramento de metas de curto, médio e longo prazo, com a colaboração de consultores externos), e o incremento no ensino de línguas estrangeiras, na divulgação de diferentes culturas e na oferta de atividades artísticas e culturais. Para o avanço científico, pretendemos aumentar os investimentos nas ações que colocaram a UFPA entre as dez instituições do Brasil com maior participação no Sistema Nacional de Pós-Graduação, incluindo o apoio à cooperação internacional, à publicação da produção científica nas revistas de maior circulação internacional, à mobilidade acadêmica, ao planejamento e monitoramento de metas de médio e longo prazos e à inovação, por meio da nossa Agência de Inovação – Univesitec, e de laboratórios instalados no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá. Com recursos captados por nosso Centro de Excelência em Eficiência Energética da Amazônia (Ceamazon), passaremos a contar com uma usina de energia fotovoltaica, postos elétricos, ônibus elétricos e até um barco movido a energia solar para fazer o transporte entre o Setor Básico e o Setor de Saúde no Campus do Guamá. Nosso Centro de Internacionalização, inaugurado em março passado, será um espaço permanente de contato com culturas e línguas diversas, além de disponibilizar informações sobre oportunidades de intercâmbio e cooperação acadêmica e científica internacional. Com apoio de emendas parlamentares, concluiremos as obras recém iniciadas do Clube de Ciências (que oferece formação científica a alunos da Educação Básica) e do Cinema e Livraria da UFPA. No Mercedários UFPA, que inauguramos em 2018 e onde já ofertamos os novos cursos de graduação e de mestrado na área de conservação do patrimônio histórico e arquitetônico, instalaremos a Galeria de Arte da UFPA, o Museu do Restauro, um projeto da Escola de Música da UFPA e uma livraria especializada em títulos sobre restauro e patrimônio cultural, além de atividades em parceria com o Projeto Circular. Por fim, esperamos incrementar colaborações com governos municipais, secretarias estaduais e ministérios, no desenvolvimento de projetos e programas que envolvam a transferência de conhecimento para solucionar problemas mais emergenciais da população. Em outra frente, trabalharemos pela consolidação e avanço dos programas de inclusão social. Isso implica aperfeiçoar os nossos processos seletivos especiais e a execução das políticas de cotas, além de expandir os programas de auxílio à permanência de estudantes de baixa renda. Ainda relacionada à inclusão social, mas com outro abordagem, trabalharemos pela expansão do Programa de Extensão Inclusiva Avançada (Proexia), por meio do qual interagimos com organizações da sociedade envolvidas com a promoção da cidadania, desenvolvendo projetos alinhados com as suas ações. Já temos vinte projetos em andamento, em Belém e no Marajó, e pretendemos avançar para as regiões do Xingu, Baixo Tocantins e nordeste paraense. Também trabalharemos pela renovação e ampliação da cooperação com a Universidade de Campinas (Unicamp) e Banco Santander no programa Ciência e Artes Povos da Amazônia, que leva discentes da UFPA para estágios em laboratórios da Unicamp.

GRUPO LIBERAL - Quais eram as principais questões a serem enfrentadas pela UFPA no começo da sua gestão e como o senhor avalia o avanço a respeito destes pontos agora?
TOURINHO
- Assumimos a gestão em um momento de inflexão nas políticas de financiamento das Universidades Federais. Enfrentamos cortes severos (cerca de 90%) no orçamento de investimento, precisando concluir mais de trinta obras que haviam sido planejadas em outro cenário. Enfrentamos esse desafio com um grande esforço de gestão, voltado à captação de mais recursos e ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Tivemos o apoio dos parlamentares paraenses no Congresso Nacional, que destinaram à UFPA emendas de bancada e emendas individuais. Pudemos, com isso, concluir dezenas de obras, executar algumas obras novas e destinar recursos de maior monta para programas que geram resultados acadêmicos e científicos imediatos. Também assumimos a reitoria com a necessidade de rever o modelo de formação na graduação e a estrutura para a oferta dos cursos. Iniciamos esse processo com a flexibilização curricular e executamos o LabInfra (um investimento de mais de R$ 19 milhões, alcançando todos os campi), dentre várias ações. Por fim, precisávamos estruturar políticas institucionais voltadas ao avanço da  internacionalização na UFPA. Redimensionamos a Pró-Reitoria de Relações Internacionais, estabelecemos diálogo com agências de cooperação de vários países parceiros em pesquisa, recebemos uma Cátedra do Instituto Camões (uma das seis no país), passamos a ofertar o curso de Mandarim em parceria com o Instituto Confúcio, criamos o Centro de Internacionalização e passamos a figurar no mais importante ranking internacional de Universidades, como uma das melhores Universidades do mundo.

GRUPO LIBERAL - Ainda em junho, o Governo revogou a MP que autorizava o Ministério da Educação a nomear reitores durante a pandemia. Qual sua avaliação?
TOURINHO - Somos uma nação de criou universidades muito tardiamente. Nossas universidades são todas jovens, em contraste com Universidades centenárias de países vizinhos. Como resultado, parte de nossa população, inclusive parte de nossa elite política, não compreende ainda o papel das universidades e a exigência de autonomia para que cumpram a sua função. Ficam incomodados com o ambiente de liberdade intelectual, de questionamento crítico e de inovação. Na Constituição Federal de 1988, após um longo período de lutas, conseguimos inserir um artigo que garante a autonomia universitária (Artigo 207), o que nos possibilitou grandes avanços, mas esse preceito nunca foi completamente respeitado. Esse é o contexto da tentativa recente de interferir na escolha de reitores. Enquanto países desenvolvidos avançam na autonomia e no financiamento das Universidades, no Brasil ainda perdemos um enorme tempo explicando que as Universidades são importantes, que precisam ser respeitadas em sua autonomia e que demandam um padrão de financiamento adequado e estável, sem mudanças frequentes. Temos pessoal competitivo no ambiente científico internacional, mas que não dão todo o retorno possível ao país porque não encontram apoio para realizar o seu trabalho. E em nenhum outro país um candidato que tenha sido rejeitado pela comunidade pode virar reitor. Consolidar uma cultura de valorização da universidade, de respeito à sua autonomia e de compreensão do seu papel para a cidadania e para a soberania ainda é um dos grandes desafios para a nossa nação.

 

image "Vivemos a mesma realidade de todas as universidades no mundo: a incerteza sobre o futuro próximo e a necessidade de desenvolver alternativas para manter as atividades de ensino, pesquisa e extensão" (Cláudio Pinheiro / O LIBERAL)

GRUPO LIBERAL - De que forma a pandemia da covid-19 afetou a rotina da UFPA? Qual o planejamento para retomada das atividades?
TOURINHO
- Vivemos a mesma realidade de todas as universidades no mundo: a incerteza sobre o futuro próximo (não é possível dizer com segurança, por exemplo, quando poderemos novamente colocar cinquenta alunos em uma sala de aula) e a necessidade de desenvolver alternativas para manter as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Na UFPA e em todas as universidades públicas da Amazônia os desafios são ainda maiores porque a realização de atividades remotas esbarra em duas dificuldades: uma parcela grande dos discentes não conta com equipamentos e acesso à internet (mais de 85% vêm de famílias de baixa renda) e a própria cobertura dos serviços de internet é muito precária na região. Dependemos de apoio do Governo Federal para um grande programa de inclusão digital, o que felizmente já está na agenda do Ministério da Educação. Um comissão do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão apresentará em breve um conjunto de diretrizes para a retomada das atividades, em data ainda por ser definida. Consideramos que qualquer estratégia deve garantir a segurança da comunidade, a qualidade das atividades de formação e a inclusão de todos os discentes.

GRUPO LIBERAL - Maio de 2021 foi o período escolhido pela maioria na enquete dos inscritos no Enem, mas a realização da prova ainda será debatida por entidades do ensino médio e superior. Qual o posicionamento da UFPA?
TOURINHO
- Não há uma posição oficial dos Conselhos Superiores da UFPA sobre a melhor data para a realização do ENEM, mas há a concordância com a necessidade de adiamento do exame. O fundamental é garantir equidade no processo, não prejudicar os alunos de escolas públicas que ficaram sem aulas e sem acesso ao ambiente de aprendizagem.

GRUPO LIBERAL - Qual o planejamento para os próximos processos seletivos da UFPA?
TOURINHO
- A deliberação sobre novos processos seletivos aguarda a definição de como ficará o calendário acadêmico de 2020. Os processos serão mantidos, mas as datas não podem ainda ser estabelecidas.

GRUPO LIBERAL - No dia 23 de junho, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) enviaram à UFPA uma recomendação para que a instituição adote uma forma mais "clara e adequada" na divulgação dos dados, apresentando ao público as pontuações máximas e mínimas dos cursos de acordo com o resultado final do processo seletivo. Qual o posicionamento da UFPA?
TOURINHO - Não falta transparência nos atos do Processo Seletivo da UFPA, mas a política de cotas é complexa. Há uma hierarquia de cotas. Por exemplo, cinquenta por cento das vagas são reservadas para egressos de escolas públicas. Dentro dessa cota, um percentual deve ser destinado a pretos, pardos e indígenas (PPI), outro a pessoas com deficiência (PcD), outro a pessoas com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. E ainda há uma cota para PcD que independe da escola de origem no Ensino Médico. Então, dentre os classificados, há candidatos cotistas e não cotistas (com notas máximas e mínimas diferentes); entre os cotistas, há os que entram como egressos de escola pública, há os que são egressos de escolas públicas na cota PPI, há os egressos de escolas públicas PcD, e os de renda familiar no limite referido. Portanto, para cada aluno classificado, há uma justificativa bem fundamentada, mas é difícil explicar isso em termos de notas mínimas e máximas, pois há várias notas mínimas e máximas em uma mesma turma. Para quem aguarda ser chamado, é difícil compreender a aprovação (ou o aproveitamento em segunda chamada) de um aluno com uma nota inferior à sua, mas isso não quer dizer que houve qualquer irregularidade. Estamos inteiramente abertos ao diálogo para encontrar a melhor maneira de comunicar as decisões, mas precisamos saber que se trata de uma realidade complexa e que as políticas de inclusão não podem ser descontinuadas.

EMMANUEL TOURINHO

Emmanuel Zagury Tourinho é doutor em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (1994). Atualmente, é professor titular da UFPA, onde atua no programa de pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Coordena o Grupo de Pesquisa em Análise do Comportamento: Pesquisa Conceitual, Básica e Aplicada. A atividade de pesquisa dele focaliza processos comportamentais culturais, autocontrole, eventos privados e terapia analítico-comportamental. É bolsista 1B de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Exerce a função de reitor da UFPA (2016-2020). Exerceu as funções de presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) - 07/2017-07/2018), pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFPA (07/2009-02/2016), de membro (2013-2016) e coordenador (2014-2016) do comitê assessor da área de psicologia do CNPq, de coordenador da área de psicologia na Capes (triênio 2008-2010), de representante adjunto da área de psicologia na Capes (2005-2007), de presidente do Colégio de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-graduação das Instituições Federais de Ensino Superior (12/2012-11/2013), de coordenador regional norte do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (2011-2012) e membro do conselho técnico-científico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA (03/2018-02/2020).

 

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