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Pará é o berço de Maria José Deane, uma das pioneiras da ciência no Brasil

No último sábado (24), a parasitologista completaria 105 anos

João Thiago Dias
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Pioneira para a medicina e à frente das limitações de seu tempo. Assim é lembrada até hoje a cientista paraense Maria José von Paumgartten Deane (24 de julho de 1916, Belém - 13 de agosto de 1995, Rio de Janeiro), que completaria 105 anos no último sábado (24). A parasitologista registrou significativas descobertas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas e está entre as "Pioneiras da Ciência no Brasil", título do livro publicado em 2006, pelas pesquisadoras Hildete Pereira de Melo e Ligia Maria Rodrigues.

Condizente com a seleção do livro, Maria José foi, de fato, uma das mulheres cientistas que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento científico no país. Quem lembra é Habib Fraiha Neto, professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), que foi estagiário dela na década de 60.

"Graduou-se em 1937 por nossa tradicional Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará e, logo, integrou-se ao grupo pioneiro de pesquisas do Instituto de Patologia Experimental do Norte, nos primórdios do Instituto Evandro Chagas. Desde cedo, dedicou-se aos estudos de laboratório e de campo destinados ao controle das grandes endemias do Norte e Nordeste do Brasil: a malária, o calazar (leishmaniose visceral) e outras afecções parasitárias", contou o professor.

"Ela teve destacada atuação no combate à Malária do Nordeste, decorrente da importação para o Brasil do Anopheles gambiae, o mais eficiente dos mosquitos vetores do paludismo no continente africano", detalhou.

Em 1953, ao lado do marido, o também respeitado parasitologista belenense Leônidas de Mello Deane (1914, Belém - 1993, Rio de Janeiro), se transferiu para a Universidade de São Paulo, onde chefiou um importante programa de pesquisas protozoológicas no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.

image Leônidas e Maria: companheirismo e colaboração científica (Acervo da Casa de Oswaldo Cruz)

"Foi aí que a conheci, no segundo semestre de 1965, ao estagiar em seu laboratório num projeto de pesquisa de infecção experimental de insetos triatomíneos (barbeiros) por duas diferentes espécies de Tripanossomas. Impressionava-me pela competência, austeridade e determinação", descreveu Habib Fraiha.

Anos depois, exilou-se com o marido em Portugal, depois na Venezuela, retornando ao Brasil somente em 1980, para assumir a Chefia do Departamento de Protozoologia do Instituto Oswaldo Cruz. "Onde realizou, até seus últimos dias, um trabalho de excelência, impondo-se ao respeito e admiração de seus inúmeros discípulos e alunos de pós-graduação", pontuou o professor.

Descoberta

Em uma de suas mais recentes contribuições científicas, demonstrou a presença de formas metacíclicas do Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, nas glândulas anais de gambás jovens da espécie Didelphis marsupialis, a popular mucura, nome muito usado na Amazônia.

"Essas são, precisamente, as formas evolutivas do parasito encontradas na ampola retal dos barbeiros vetores da infecção chagásica, dotadas de maior infectividade, de maior capacidade invasiva dos tecidos dos mamíferos hospedeiros. Uma descoberta, de certo modo, revolucionária, que veio reforçar o conceito de que essa espécie marsupial constitui o animal reservatório ancestral do agente da tripanossomíase americana, sobretudo na Amazônia", avaliou Habib Fraiha Neto.

Em reconhecimento à relevância da contribuição que Maria José Deane deixou para a Ciência e para a Saúde Pública, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao instalar seu órgão de pesquisa científica na Amazônia, na cidade de Manaus, decidiu conferir-lhe a denominação de Instituto Leônidas e Maria Deane. "Honrando a terra paraense com a exaltação dos méritos de dois de seus filhos mais ilustres", concluiu o professor.

Instituto Evandro Chagas

O Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS) e que tem quase 85 anos voltados para a pesquisa científica, em Ananindeua, no Pará, divulgou uma nota celebrando a data em que a médica completaria 105 anos.

"No IEC, a pesquisadora atuou como assistente da Comissão Encarregada de Estudos de Leshimaniose e no serviço de Estudos de Grandes Endemias, chefiada por Evandro Chagas em 1936, 85 anos atrás. Ela fez parte da primeira equipe de estudantes e médicos que atuavam na instituição, sendo a primeira mulher a trabalhar na função", disse a nota.

A nota também lembra que, em 1939, Maria Deane se transferiu para o Serviço de Malária do Nordeste. Retornou, em 1942, sendo contratada pelo Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, como assistente do Departamento de Parasitologia.

Três anos mais tarde, assumiu a função de chefe da Seção de Parasitologia do IEC (na época Laboratório Central do IEC), onde ficou até 1953, quando se transferiu para São Paulo, para atuar na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. "A pesquisadora, depois disso, desenvolveu diversos projetos de pesquisas em parcerias com o IEC", detalhou a nota.

Além de participar de estudos pioneiros do IEC na década de 1930, Maria Deane colaborou com pesquisas nas áreas de Malária, Filariose, verminoses, Leptospirose, entre outros, conforme também comentou a nota.

"Os inquéritos científicos que a pesquisadora atuou no interior da Amazônia, além de colaborar para o desenvolvimento das pesquisas, foram relevantes para as comunidades locais, que participaram de suas palestras e orientações acerca de saúde e saneamento básico", finalizou o Instituto Evandro Chagas.

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