Micropigmentação paramédica resgata autoestima de pacientes mastectomizadas

Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia indicam que mais de 110 mil mulheres brasileiras foram submetidas à mastectomia (retirada da mama) pelo SUS no país nos últimos 10 anos. O procedimento é uma das intervenções no tratamento de câncer de mama.

Essas mulheres têm direito, desde 2013, à reconstrução mamária imediata, garantida pela lei 12.802 ainda durante a mastectomia. A exceção são aquelas cujo quadro clínico não ofereça condições ou haja riscos para a saúde. 

Ainda assim, alguns aspectos da estética da mama podem ficar comprometidos, como a aréola, aquela área pigmentada ao redor do mamilo. Nas mulheres, essa parte do corpo é importante no processo de amamentação pois ajuda na ordenha dos bebês.

Em casos oncológicos, a reconstrução da mama pode exigir que a micropigmentação de aréola ocorra somente depois de, pelo menos, um ano, devido às características do tecido e impacto das medicações do tratamento no organismo. 

Para a fisioterapeuta Caroline de Siqueira Mendes, que trabalha com micropigmentação paramédica, o procedimento tem uma importância gigantesca para mulheres que passaram pela doença. 

“As pacientes se sentem totalmente realizadas e felizes, após a micropigmentação. Afinal passaram por um processo que agrediu totalmente o seu lado psicológico e físico. E, esse é o objetivo: devolver a autoestima, fazendo com que essas pacientes possam se olhar no espelho e se enxergarem novamente como mulheres. É uma forma de fortalecê-las, após um longo processo de fragilidade”, destaca Caroline.

Fisioterapeuta Caroline de Siqueira Mendes diz que método traz a autoestima das pacientes de volta após um longo processo de fragilidade (Arquivo pessoal)

O procedimento é utilizado para reconstruir e disfarçar cicatrizes, com a combinação com a cor da pele da paciente, a partir de princípios de tatuagem, com a diferença de que o pigmento não-alergeno é aplicado na camada superficial da pele. 

As técnicas são cada vez mais aperfeiçoadas permitindo, por exemplo, um efeito 3D mesmo quando não há a reconstrução do tecido do mamilo. “Em média, são duas sessões realizadas, com intervalo de 30 dias de uma sessão à outra. Normalmente a segunda sessão é para retoque”, explica a fisioterapeuta. 

Maria Idalina Slompo, 69 anos, passou por uma mastectomia preventiva há dois anos. “Conheci a Dra. Caroline por indicação de amigos. Fiquei muito nervosa quando cheguei ao consultório, mas ela me acalmou e fez a pigmentação em duas seções. A imagem que vi depois de pronto, foi como voltar ao passado e ter um seio normal, foi muito emocionante, gratificante”, afirma a aposentada.

Caroline conta que começou a realizar o serviço em pacientes de cirurgia plástica, para melhorar o aspecto cicatricial pós-cirúrgico, tornando a cicatriz o mais próximo do tom da pele. Porém, ao receber o aumento de demandas de pacientes oncológicas, o prazer em contribuir com a elevação da autoestima e de participar de um momento importante da trajetória trouxe um novo significado para a atividade. 

“Deparar-me com a alegria de uma paciente que passou por esse processo longo e tão doloroso não tem preço. Isso me motiva como profissional e me satisfaz como mulher, pois tento me colocar no lugar delas. Coloco-me no processo final da história das pacientes. É como um filme com final feliz em que não tem como não chorarmos juntas e sermos gratas”, diz emocionada a profissional.