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Parcerias agroflorestais ajudam a enfrentar desafios sociais e ambientais

Valéria Nascimento

Em comunidades da região amazônica, no Pará e no Amazonas, está em curso uma mudança de paradigma que estrutura experiências e conceitos ambientais do terceiro setor em negócios rentáveis no mercado, sustentáveis para as famílias locais e principalmente para a manutenção da floresta em pé. Eis o tema desta edição do Liberal Mobiliza, que tem o apoio da Vale e da Guamá Tratamento de Resíduos.

Geógrafo, fundador e diretor da Belterra Agroflorestas, Valmir Gabriel Ortega produz  cacau, entre outras culturas, no município de Parauapebas, no sudeste do Pará, e explica que o modelo de atuação da empresa é baseado em arranjos de parceria rural, que buscam soluções integradas para os desafios enfrentados pelos pequenos e médios agricultores, entre os quais ausência de assistência técnica, baixo acesso ao crédito público ou oportunidades de financiamento e canais de comercialização adequados para seus produtos. 

image (Cristino Martins / O Liberal)

Em outra ponta, entre o município paraense de Jacundá e o amazonense Apuí, à beira da Transamazônica, Mariano Cenamo, que é cofundador e diretor de Novos Negócios da organização não governamental “Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)”, também põe em prática o conceito de sistema agroflorestal para produzir café, enfrentando com ótimos resultados os desafios sociais e ambientais da região na divisa entre o Pará e o Amazonas. 

A Belterra e o Café Apuí são exemplos de uma economia em crescimento, baseada em princípios da sustentabilidade, e que tem na Amazônia um potencial ainda muito pouco aproveitado. O Fundo Vale é um dos agentes que acredita no potencial da bioeconomia para geração de riqueza para as populações, aliada à conservação ambiental e restauração. Para isso, tem trabalhado para impulsionar negócios como esses e na criação de veículos de investimento de impacto socioambiental positivo que fortaleçam uma economia sustentável, justa e inclusiva. 

NEGÓCIOS AGROFLORESTAIS

Valmir Ortega explica que as culturas-chave dos modelos produtivos dos trabalhos desenvolvidos na região do Igarapé do Gelado, em Parauapebas; e na região do Sederi. em Canaã dos Carajás, são cacau, açaí, banana, mandioca e espécies florestais, como a andiroba, copaíba, cumaru, entre outras, que levam em conta as sinergias entre as espécies e a economia de custos de adubação previstas na incorporação de nutrientes e compostos orgânicos no solo, como a duração do ciclo das culturas. 

image (Divulgação)

O objetivo é reduzir a necessidade de caixa gerada pelas culturas de ciclo longo com a introdução de plantas de ciclo curto, que trazem retornos financeiros mais rápidos.

O reflorestamento com espécies nativas e sistemas agroflorestais viabiliza importantes ganhos ambientais e socioeconômicos, como a captura de carbono em larga escala, geração de empregos e renda no meio rural, produção de alimentos e diversificação do sistema de produção, recuperação de solo e produção de água em maior quantidade – e com mais qualidade, redução da pressão sobre as florestas naturais, freando o desmatamento, a degradação florestal e a extração ilegal de madeira e de produtos florestais, conservação da biodiversidade e aumento da resiliência das paisagens e comunidades.

RECEITA

Os modelos produtivos desenvolvidos para o sudeste do Pará têm duas lógicas: gerar escala em cacau de alta produtividade e atender à demanda regional por culturas de ciclo curto, como mandioca, banana, abóbora e abacaxi. No longo prazo, cumaru (amêndoas e madeira), paricá (madeira) e copaíba (resina e madeira) se juntam ao cacau como fontes de receita. 

A maior diversidade desses sistemas implica em maior dependência de mão-de-obra para garantir qualidade na colheita e pós-colheita das culturas de ciclo curto. Essa característica torna esses sistemas adaptados aos grandes assentamentos de reforma agrária na região.

A integração de pequenos e médios produtores como parceiros rurais da Belterra Agroflorestas abre oportunidade de estabelecimento de uma Central de Pré-processamento do Cacau, centralizando as etapas de seleção de melhores frutos, fermentação e secagem numa única unidade. 

“Dessa forma, será possível reduzir o trabalho em campo, orientando a mão-de-obra liberada dessas tarefas para a melhoria do manejo e aumento da produtividade em campo e, ao mesmo tempo, gerar ganhos econômicos significativos por conta da escala de processamento, da seleção de lotes de qualidade diferenciada e de aumento do poder de negociação com compradores”, explica Valmir.

Para alcançar esse ganho de escala, o negócio recebeu suporte e investimento do Fundo Vale, veículo da responsabilidade social corporativa da empresa que está estruturando ações no Pará e em outros quatro estados do Brasil para alcançar 500 mil hectares de recuperação e proteção de áreas. Esse é um dos compromissos voluntários assumido pela Vale na agenda de sustentabilidade, numa visão 2030.

UMA PARCERIA INÉDITA NA DIVISA DO PARÁ COM O AMAZONAS

Estimular a bioeconomia e o desenvolvimento sustentável também são metas do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), observa Mariano Cenamo. Há oito anos, ele e uma equipe de profissionais tentavam encontrar uma alternativa para produção do café, no sul do Amazonas, que fosse mais interessante e mais atrativa do que a pecuária, associada ao desmatamento. 

“Nosso objetivo sempre foi desenvolver um sistema de produção de alimentos que pudesse, ao invés de promover o desmatamento, como acontece hoje, pudesse restaurar áreas desmatadas gerando renda para agricultores familiares da região”. 

image (Divulgação)

“É no município do Apuí, no sul do Amazonas, na divisa com o município de Jacareacanga, no Pará, que se encontra a maior taxa de desmatamento do Estado. O projeto foi evoluindo, mostrou um sucesso muito grande com os números que temos e nós decidimos buscar investidores para expandir a abrangência e novos produtores rurais”, recorda Mariano Cenamo. O Fundo Vale apoiou a iniciativa em seus primórdios, em 2012, e agora investe capital semente numa visão de negócio para que o empreendimento prospere.

Ele diz que, basicamente, o que ele e sua equipe no Idesam fazem é “fomentar a implantação de sistemas agroflorestais para a produção de café, alimentos e o plantio de árvores nativas em pequenas propriedades de produtores familiares e assentados rurais no sul do Amazonas''.

“Isso gera renda para eles, nós temos conseguido aumentar significativamente a quantidade de dinheiro que essas famílias recebem por hectare, especialmente, quando comparado com a pecuária, atividade dominante da região, e isso gera também sequestro de carbono. Nós vendemos créditos de carbono decorrentes desses plantios e um açaí de excelente qualidade, produzido em sistema de agrofloresta com certificação orgânica”. 

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