Entulho de obra pode ser reaproveitado de várias formas

Reciclagem de resíduos de construção é vantajosa e depende apenas de estímulo do poder público

Valéria Nascimento

Eles são pesados, exigem elevados custos de transporte para a correta destinação e materiais como gesso e amianto causam danos ao meio ambiente e à saúde. Ainda assim, engana-se quem pensa que o popular entulho não serve para mais nada.

O engenheiro civil e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) Márcio Barata e a engenheira elétrica e especialista em fontes alternativas de energia e empreendedora social Soraya Costa revelam o contrário nesta edição do projeto Liberal Mobiliza, do Grupo Liberal, com o apoio da Guamá Tratamento de Resíduos.

Márcio Barata explica que os resíduos da construção civil são restos de argamassa, pedaços de tijolos, cacos de telhas cerâmicas, de concreto, vasos sanitários quebrados, ladrilhos, restos de ferragens, madeira e gesso. De todos esses materiais, o único que não pode ser reaproveitado é o gesso.

"O gesso necessita de um acondicionamento especial, os demais podem ser reaproveitados. A madeira serve de combustível para o forno de padarias. Ferragens servem de matéria-prima à siderurgia para a nova composição de aço. Argamassa, concreto e materiais cerâmicos podem ser processados, triturados e transformados em areia artificial que volta como reboco, piso e até o concreto", explica Barata.

O professor frisa que o reaproveitamento do entulho traz ganhos sociais, ambientais e econômicos e a maior favorecida é a sociedade, mas isso requer decisão política e aporte financeiro por parte do poder público.

Ele ressalva, por exemplo, que a reciclagem na construção civil só será viável, ao menos inicialmente, se o poder público criar condições favoráveis para o empreendedorismo como oportunidade econômica.

"A reciclagem de resíduos só vai se tornar um negócio economicamente viável se houver, de início, um incentivo público, porque ninguém gosta de usar resíduos. Existe um preconceito contra os resíduos e muitas das vezes são matérias-primas excelentes que podem gerar produtos finais tão bons quanto os que forem produzidos com matéria-prima original. Para isso, basta educação, conscientização e ação para transformar isso em realidade", afirma.

image Restos de argamassa e tijolos, cacos de telha e sobras de ferragens são alguns dos materiais que podem ser reciclados (Akira Onuma / Arquivo O Liberal)

VOLUME

O engenheiro civil informa que 70% do lixo gerado em uma cidade é resíduo da construção civil. Em números, isso representa 85 milhões de metros cúbicos gerados anualmente no Brasil. Se todo esse volume fosse reciclado, isso geraria 150 mil empregos diretos, diz ele.

"Além desse benefício socioeconômico, há os benefícios ambientais e, o mais significativo deles, é que eu deixo de jogar esse resíduo nas vias urbanas e alivio o sistema de drenagem, evito alagamentos e, lá na ponta, a doença ocasionada pelo acúmulo dessas águas", exemplificou Barata.

Belém recicla muito pouco os resíduos da construção civil porque é um processo difícil. Ele é pulverizado geograficamente na cidade e precisa de um sistema de coleta similar ao das latas de alumínio. "Na medida em que a reciclagem de resíduos sólidos se torne um negócio lucrativo, não vai ser necessário legislação, fiscalização punitiva e restritiva. A mesma população que paga para um carroceiro deixar seu entulho em uma calçada a 300 metros de sua obra, será a que deixará num ecoponto para que um transportador autorizado leve a uma usina de reciclagem".

A empreendedora social Soraya Costa é co-fundadora do Instituto Alachaster Empreendimentos Sociais, uma organização com foco no desenvolvimento de negócios a partir de projetos e ações sustentáveis. Ela argumenta que, embora tenha muita gente interessada, a reciclagem desses materiais em Belém não é uma realidade.

Soraya pondera que são necessárias empresas recicladoras que atendam às demandas locais, pois, até o momento, os entulhos recolhidos são levados ao aterro sanitário (em Marituba), pois ainda não há processo de reciclagem que atenda a Região Metropolitana de Belém (RMB).

COLETA

Em nota, a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que a Prefeitura de Belém é responsável pela coleta de até um metro cúbico de entulho, equivalente a uma caixa de água de 1.000 litros.

"Para volumes maiores, a responsabilidade é do morador, que deve contratar uma empresa para recolher e dar destinação adequada a esses materiais, conforme determina a Lei Federal 12.305. A população pode colaborar, ligando para o Disque Sesan 156. Por meio desse canal é possível solicitar serviços de remoção de entulho e também denunciar pessoas que descartam entulho de maneira irregular".

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